“Estou disponível para liderar uma revolta dos agricultores”, sublinhava ontem, à porta da Casa do Douro, no Peso da Régua, António Félix, presidente da Junta de Sebadelhe, em Foz Côa, líder do Movimento do Viticultores da 504 I, e um entre centenas de agricultores que participaram na acção de protesto promovida pela Associação de Associação dos Vitivinicultores Independentes do Douro (Avidouro).
Entre o som ensurdecedor das buzinas, muitos reclamavam a atenção do Governo, a demissão do presidente do Instituto do Vinho do Douro e Porto (IVDP) e a nomeação de “pessoas honestas” nos cargos de responsabilidade na região.
Berta Santos, presidente da Avidouro, lembrou que ao longo dos últimos dez anos “a situação tem-se agravado muito” e vem piorar drasticamente com a redução do benefício. “Neste momento, além de ter sido uma campanha com muito prejuízo, desde as intempéries às doenças e às pragas, temos este roubo de generoso, que é a pedra angular socioeconómica dos pequenos e médios vitivinicultores”, defendeu.
A dirigente associativa referiu ainda que além de não aceitar a redução, os agricultores não vão aceitar também “um preço inferior a 1250 euros a pipa”.
“Contem connosco, porque nós vamos estar muito atentos. Não vamos desmobilizar. Vamos continuar a luta até vermos defendidos os nossos direitos”, garantiu a mesma responsável.
Também António Félix deixou no ar a certeza que a medida do Governo não vai ser aceite de forma pacífica pela lavoura duriense. “Já escrevi ao primeiro-ministro e ao ministério da agricultura”, referiu o mesmo responsável, advertindo que o próximo passo poderá passar por “uma revolta popular, e até numa guerra civil se for preciso”.
“Dentro de dois ou três anos, o Douro vai passar muita fome. Só os grandes é que se vão safar”, lamentava a viticultura Paula Costa, antevendo uma paisagem diferente no futuro da região: “Vamos ter que deixar tudo a monte!”.
Francisco Ferro, de Gouvinhas, no concelho de Sabrosa, contabiliza que, com a redução do benefício, vai perder mais de metade da sua actual produção de dez pipas. “A cortarem todos os anos vamos ser obrigados a deixar de produzir”, sublinhou em tom de revolta e pedindo para que o novo Governo “comece a olhar para a agricultura”.
Manuel Araújo, produtor em Abaças, no concelho de Vila Real, explicou que se juntou à luta para defender os interesses dos vitivinicultores, que actualmente são obrigados a “tirar dinheiro para sustentar a agricultura. Nós temos que pagar para trabalhar”, testemunhou.
“O custo dos produtos subiu, temos 80 por cento da produção perdida e agora cortam-nos o benefício. De que vamos viver?”, questionou Teresa Pereira Guedes, produtora no concelho da Régua, também adivinhando uma situação grave de calamidade social na região muito em breve.
“Estamos na região mais rica do país, onde corre um rio de ouro, e as pessoas vivem na miséria. Isto não pode continuar assim”, concluiu António Félix.
Um “Plano de Emergência” é fundamental
“Perante o agravar de problemas muito concretos, a Avidouro propõe e reclama um Plano de Emergência para o Douro que visa apoiar os Lavradores da Região Demarcada”, anunciou Berta Santos, enumerando cinco eixos principais.
A primeira das reivindicações dos vitivinicultores vai para o “levantamento urgente dos prejuízos causados pelo granizo e pelas doenças da vinha, com o objectivo de indemnizar os lavradores e ajudar no combate às pragas”.
O escoamento e melhores preços à produção do vinho do Douro e Porto, a criação de linhas de crédito bonificado a longo prazo (a dez anos e mais), para a lavoura duriense, o aumento do benefício para os pequenos e médios vitivinicultores (e a redução para as maiores empresas), o saneamento financeiro da Casa do Douro e devolução dos seus Poderes Públicos, são as quatro reivindicações.
A presidente da Avidouro lembrou, no entanto, que a criação do Plano “não exclui outras medidas”, tais como a garantia da manutenção do IVA (em especial sobre o vinho, o azeite e as hortofrutícolas), a fiscalização rigorosa das entradas e da comercialização de aguardentes e de vinhos, que vêm de fora, a fiscalização do cumprimento da “Lei do Terço”, a criação de um seguro bonificado às explorações e o pagamento das ajudas a tempo e horas, a começar pelos Jovens Agricultores.