Mais de 80 por cento dos estudantes da Universidade de Trás-os–Montes e Alto Douro (UTAD) que participaram num estudo realizado pela Associação Industrial do Minho “revelaram interesse em ser trabalhadores por conta própria, ainda que, maioritariamente, em regime de não exclusividade”.
Essa foi a principal conclusão do inquérito respondido por cerca de três centenas de estudantes, que sublinharam como principais sectores, a desenvolver nos seus próprios negócios, as actividades na área da Investigação e Desenvolvimento (I&D), Prestação de Cuidados de Saúde, Indústrias Extractivas, Agricultura e Pesca, Hotéis e Restaurantes e Actividades Recreativas e Culturais.
“Este estudo foi revelador e interessante, porque mostrou uma enorme preponderância e vontade dos estudantes da UTAD em apostarem nas suas próprias iniciativas. Significa que têm ideias de negócio e vontade de realizar esses negócios”, explicou António Cruz Oliveira, presidente da Direcção do Centro de Inovação de Trás-os-Montes e Alto Douro (CITMAD), parceiro da Associação Industrial do Minho.
Realizado no âmbito de um projecto mais vasto, nomeadamente um concurso de apoio à inovação e ao empreendorismo, denominado “OUSAR”, o estudo inquiriu os alunos da UTAD relativamente aos “seus conhecimentos sobre empreendedorismo e potenciais atitudes de um empreendedor”, servindo ainda para “identificar aqueles que gostariam de se iniciar por conta própria, as áreas em que o iriam fazer e os factores que os motivam a avançar para esse propósito”.
Segundo as conclusões do estudo, “na identificação dos factores de sucesso de uma nova empresa, os alunos apontaram a Qualidade da Equipa Técnica como o mais importante, a par da Qualidade da Equipa de Gestão. A Personalidade do Empreendedor e os Apoios Financeiros foram também valorizados pelos inquiridos como condições necessárias para o sucesso empresarial”.
“Quando se fala em principais dificuldades na criação do negócio, os alunos referiram a Falta de Apoio Financeiro, o Processo Administrativo Complexo e a Falta de Apoio Institucional como as maiores. Quanto aos receios na abertura de um negócio, a Incerteza na Remuneração surgiu em primeiro lugar, seguida da Possibilidade de entrar em Falência e da Instabilidade do Emprego”, afiança ainda o inquérito.
A propensão da comunidade estudantil da UTAD para o empreendorismo veio reforçar a proficuidade da aposta do CITMAD no apoio dado aos alunos da universidade transmontana, através da criação de um Gabinete de Apoio, criado no ano passado, e que já foi responsável pela dinamização de sete iniciativas no seio da academia, sendo que uma delas, uma empresa de organização de eventos na área da promoção dos vinhos em associação com o Golf, já passou mesmo do papel à realidade. Números “que mostram que algumas dessas ideias são mais do que ilusões. Com um caminho apoiado chega-se efectivamente à criação de um negócio”, defendeu António Cruz Oliveira.
O estudo questionou ainda os alunos sobre o Gabinete de Apoio criado pelo CITMAD, em parceria com a UTAD e a Associação Academia, reconhecido assim pelos inquiridos como “uma incubadora, uma Rede de Contactos e de Acesso a Instrumentos Financeiros como os Serviços de Apoio mais importantes ao Empreendedor”.
Os resultados do inquérito revelam ainda, “com satisfação”, que “52 por cento dos respondentes têm uma ideia de negócio que gostariam de desenvolver e são da opinião que as questões relacionadas com o Empreendedorismo deveriam ser mais trabalhadas em contexto académico e formativo”.
No que diz respeito à relação com o momento de crise, vivido nacional e internacional, António Cruz Oliveira considera que esta veio apenas dificultar o acesso a empréstimos bancários. “Quanto ao resto, um bom negócio é um bom negócio, independentemente da crise”, é preciso saber inovar, ter uma visão renovada sobre determinado sector de actividade.
Por exemplo, “temos um casal de jovens muito ligado à apicultura, um sector que tem hoje grandes problemas ao nível das vendas porque, apesar de Portugal ter uma excelente qualidade, tem grandes dificuldades na comercialização tendo em conta que o mel chega à Europa da China a menos de metade do preço”. A solução encontrada pelos jovens? Dedicarem-se “à produção de abelhas rainhas, para fornecer a outros apiários”.
“O que eu mais receio nos jovens é a pressa que têm de, ao criar as suas empresas, conseguir capacidade financeira para realizar os seus sonhos. Uma empresa não se estabiliza em menos de cinco anos, os três primeiros são anos difíceis”, advertiu António Cruz Oliveira, concluindo “a paciência é um elemento fundamental” para um jovem empreendedor.