Terça-feira, 21 de Janeiro de 2025
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António Cunha, o homem que já “nasceu” empresário

Desde muito tenra idade assumiu que “não queria passar a vida a trabalhar por conta de outrem”, por isso, logo aos 18 anos António Cunha arregaçou as mangas e abraçou o mundo. Depois de escolher Trás-os-Montes para fundar a sua primeira empresa, escolheu Angola para ‘crescer’ e três décadas depois é um ‘gigante’ no país africano, liderando dezenas de empresas dos mais variados setores de atividade. A receita para o sucesso: o atrevimento e o trabalho

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Como foi o seu trajeto profissional? Como chegou ao sucesso que tem hoje?
Desde jovem, dos 14 ou 15 anos, que pensava que não tinha que trabalhar para ninguém. Sempre tive a tendência de querer trabalhar por conta própria, não achava nada engraçado viver uma vida toda a trabalhar por conta de outrem.

Nos meus tempos de escola, ia comprar os bolos à cantina para vender aos meus colegas, aos mais acomodados. Já nessa altura conseguia vender um bolo de arroz e ganhava sempre um pouquinho. Dos 16 aos 18 anos trabalhei numa empresa, onde aprendi bastante. Nesse tempo a maior idade era aos 21, por isso, aos 18 anos, tive que pedir ao meu pai que me desse a emancipação para que eu pudesse ser empresário. A partir daí evolui, sempre com algum atrevimento em tudo. Se estivermos a espera que as coisas nos aconteçam, que nos cheguem a casa elas não acontecem. Temos que procurar o sucesso. Sempre tive a ideia de que Portugal era pequeno para mim.

Apesar de ser natural de Lousada, o distrito de Vila Real e a região também são muito importante no seu percurso profissional e pessoal. Como foi essa vinda para Trás-os-Montes?
Antes de vir para Vila Real, estive em Viseu. As Tintas Europa foi uma segunda empresa. Estive dois anos a trabalhar numa fábrica de tintas e nessa altura esse setor só existia em Lisboa e no Porto. O negócio estava centralizado. Após 1975, o crescimento era uma realidade em todo o país e Viseu era um local onde se via e ouvia esse crescimento. Com o conhecimento que tive com outras pessoas, decidimos criar uma empresa em Viseu. E foi daí que nasceu o meu primeiro negócio. A primeira vez que fui a Viseu foi de comboio, na antiga linha do Vouga, porque não tinha ainda carta de condução e os transportes não eram fáceis.

Em 1980 vim para Vila Real, onde criei este projeto um pouco mais arrojado e vendi a minha parte do negócio em Viseu.

Mas porquê o Freixo (Vila Verde – Alijó)?
Eu era caçador e vinha para esta zona à caça. Um dia qualquer andei por aqui e vi um pavilhão abandonado. Descobri quem era o dono e fui à procura dele para me alugar o espaço. E foi assim, fiz um novo projeto baseado num pavilhão existente aqui, tendo eu sempre uma tendência para vir para o interior.

As Tintas Europa nasceram da minha paixão pela caça. O nome surgiu porque na altura falava-se muito na Europa.

Tem uma ligação forte à região…
Naturalmente. Os meus filhos nasceram cá. Aliás, em vim para cá logo que casei. O projeto iniciou-se na transformação da minha vida de solteiro para casado. Uma nova vida, um novo futuro à procura de crescimento com segurança.

 

Já tem décadas de história em Angola. No cenário atual, em que aquele país é muito apetecível em termos de investimento, considera que foi um visionário?
Na altura do 25 de abril, tinha eu 15 ou 16 anos, ouvia muito rádio, ouvia muitas coisas. Percebi sempre que Portugal era um país pequeno. Um país bonito, à beira mar plantado, um jardim com flores, mas se eu queria ser diferente teria que apostar no estrangeiro. Eu venho de uma família grande de sete irmãos, onde, embora tivéssemos uma vida normal, eu sentia que o país era pequeno. Por isso, assim que pude, assim que me emancipei, fui imediatamente à África do Sul, aos Estados Unidos, ao Brasil, a Moçambique, a Angola… e depois escolhi onde iria parar. Eu sempre tive a ideia de que iria fazer o meu negócio em Portugal e fazer um negócio de exportação. Depois do meu périplo pelo mundo, feito com muitas dificuldades, com a ajuda de muitos amigos, e, decidi, mais tarde, por Angola (uma das justificações foi a língua, se não tinha ido para os Estados Unidos). Em boa hora o fiz porque de facto quando ninguém acreditava eu mantive-me em Angola. Não há campeões sem sorte, é claro que há uma grande parte de risco, mas quem não arrisca não petisca.

É uma testemunha bem fidedigna da evolução que sofreu Angola ao longo das últimas décadas…
Sim. Quando fui já se falava muito da riqueza do país. Falava-se que Angola era um grande cofre escondido e ainda por explorar. Foi uma adaptação difícil, porque na altura era um país em guerra, que tinha recolher obrigatório. Sempre fui um homem cumpridor com as obrigações de segurança, numa me arrisquei nesse aspeto, mas também nunca senti que a minha estivesse em perigo. Enquanto tudo era notícia, eu lá passava pelo meio, fazendo os meus negócios.

Hoje tem o Grupo 7 Cunhas. Qual é a dimensão e em que áreas é que trabalha?
Se vamos falar na atualidade, eventualmente posso perder-me no número de negócios que tenho. Nós tocamos várias especialidades, cerca de 25, mas o principal é a construção civil. Temos outro negócio que se desenvolve muito bem, que é o setor hoteleiro. Também fazemos negócio geral, importando o que é necessário (desde camiões a urnas e outras coisas elementares). Tínhamos que importar, porque havia tão pouco gente para poder desenvolver os negócios que éramos obrigados a fazer um pouco de tudo. Hoje estamos mais especializados. Temos sete restaurantes, um hotel, pastelarias, um negócio interessante de recolha de resíduos sólidos urbanos, carpintarias, serralharias, uma clínica… Não consigo dizer todas assim de repente.

Como é possível construir um império voltado para tantas áreas? Como é fazer essa gestão?
Não é difícil. Primeiro temos que nos associar a pessoas da nossa confiança. Quando fui para lá era jovem, tinha os meus 20 e poucos anos, mas fui conhecendo pessoas, fui me rodeando de pessoas interessantes. Hoje, em todos os meus negócios, tenho pessoas da minha inteira confiança, pessoas que cresceram ao meu lado, por isso não tenho dificuldade em encontrar os meus gestores. Uso muito o sistema de gestão familiar, de aproximação. Ou seja, em qualquer sítio que eu vá sou cliente, não sou daqueles que vai a um dos restaurantes, leva uma equipa, e come sem pagar. Sou cliente e as pessoas que estão à frente são acarinhadas, reconhecidas e sentem-se bem. Nunca tive um caso de alguém que tenha vindo embora porque não gostou. Às vezes, os que regressam, porque terminou o visto ou outras situações em que não é possível voltarem, as pessoas enchem-se num balde de lágrimas, com pena de não voltarem a Angola, que é um país sedutor, bonito e que não há igual. Conheço o mundo todo, mas o sítio que mais gostei e que não troco por Portugal é Angola.

Recentemente houve a notícia da quebra nos preços do petróleo e diz-se que Angola é um dos países mais afetados. Há quem preveja já uma recessão. Tem receio dessa questão?
Não diria que é um problema grave, mas é um problema complicado. Angola é um país muito grande e tem muitas receitas alternativas. É verdade que o petróleo está em alta, é uma receita fácil e por isso o crescimento também é naturalmente fácil. Mas o negócio do petróleo é cíclico, há cinco anos que está em alta, hoje está em baixa. Estamos com os preços de há cinco anos (50/60 dólares) e acredito que vá parar por aqui. No entanto, o país há cinco anos já era grande, já crescia muito e tinha o petróleo a 40/45 dólares, por isso não vamos dramatizar esta situação. Angola está em crescimento, tem outras receitas, tem os diamantes e as indústrias. Isso vai compensar essa quebra em relação ao petróleo. O ano de 2015 vai ser um ano muito difícil, principalmente para as empresas que vão instalar-se agora. Para as empresas que já lá estão é só uma questão de arrumar melhor a casa e nos adaptarmos melhor à situação. Trabalhar com menos dinheiro é também um teste para os gestores, para saberem criar alternativas.

Como vê a relação institucional atual entre Portugal e Angola?
Penso que um dos segredos para que a relação seja boa é que cada um faça a gestão do seu país. O que aconteceu, e ainda acontece, são umas alfinetadas por parte de alguns velhos do Restelo, que acham que podem mandar em Angola. Não temos que fazer isso. Cada um deve olhar para dentro das suas fronteiras. Temos que olhar para Angola com o respeito natural com que se olha para um país independente. Quando se fala em investimento angolano em Portugal, imediatamente os jornais falam em corrupção e em roubo, mas se vier um chinês investir em Portugal e trouxer os milhões, como têm feito, para a compra de grandes empresas portuguesas, aí já não há problema nenhum e ninguém se preocupa de onde vem o dinheiro. Quando chega um governante angolano a Portugal, tem que ser respeitado como tal e não pode, à partida, ser chamado de ladrão. Os grandes problemas que houve tiveram a ver com velhos do Restelo que só têm a preocupação de escrever mal e do que não sabem. Em termos empresarias, sempre fui bem tratado, sempre fui muito bem recebido. O Governo Angolano já me deu dupla nacionalidade. A Angola só tenho que agradecer porque sempre fui tratado bem.

Para além do mercado africano, o grupo também está representado na China.
O mercado chinês já foi mais forte. Inicialmente servia sobretudo para a importação de produtos para Angola. Era um mercado interessante, onde íamos procurar produtos com alguma qualidade e que dava para nos abastecermos os nossos vários negócios. Hoje a China já não é o que era, já não é tão barata. A Europa tem países, como Portugal e Espanha, onde já se consegue produtos a bons preços. Por exemplo, os produtos cerâmicos e elétricos importávamos muito da China, mas nos últimos cinco anos houve a necessidade das empresas se readaptarem, se redirecionarem, e irem à procura do mercado que lhe estava a fugir. A China já não é um país interessante, até porque há necessidade de ter muita confiança naquilo que se importa, por isso estamos a redirecionar as nossas compras novamente na Europa.

Em relação ao território português, tem projetos em agenda?
Não. Em Portugal os meus filhos deram seguimento aos meus negócios. Portugal é muito interessante como plataforma giratória para Angola, o sucesso parte daí. Centralizamos tudo em Portugal que depois serve como uma grande placa de lançamento para Angola. Mantive aquilo que tinha, nomeadamente a fábrica das tintas. Portugal não é a minha prioridade em termos de investimento, porque estou num país de grande crescimento que ocupa 99,9 por cento do meu tempo.

Enquanto empresário de sucesso, qual é a receita para o desenvolvimento do interior?
A receita é simples. É preciso que as pessoas saiam da comodidade de Lisboa e do Porto, do litoral. Eu sou o exemplo disso. Não fiquei pelo Porto e vim investir, em 1980, em Trás-os-Montes, onde não havia estradas, havia pouca eletricidade, e pouca água tratada e canalizada. Nessa altura eu dei o mote de que se deveria investir no interior. É muito mais cómodo viver na cidade, com telefone, estradas e dinheiro à mão. Fala-se muito na necessidade de investimento no interior mas é muito mais cómodo estar no litoral. Quando o Porto começa a trabalhar às 8h00 ou às 9h00, nós, para o podermos acompanhar, temos que acordar às 6h00. Espero que o interior possa ser local de investimento de boa gente, porque aqui vive-se muito melhor, com muito mais calma. Mas não há nada sem trabalho, sem risco, sem atrevimento.

A solução e a receita para Portugal é a industrialização, a indústria limpa, as novas tecnologias, os novos negócios ecológicos. Está nas mãos da juventude dar a volta à economia portuguesa, para que os nossos netos possam ter um futuro promissor.

É essa a mensagem que deixa aos jovens, que arrisquem?
Sim. Para além de arriscar que sejam atrevidos, não fiquem acomodados com o dinheiro que os papás lhes dão, porque esse é um dinheiro momentâneo. Temos que criar riquezas, criar empregos. A juventude tem que acordar e não pensar que esse processo passa só pelo seu vizinho, passa exatamente por eles! São eles que têm a responsabilidade de dar a volta e ajudar Portugal a posicionar-se no espaço que merece e a que tem direito. Portugal é um país seguro e onde as pessoas gostam de viver. De qualquer maneira não fiquem só por Portugal, façam uma diversidade de negócios, porque esse é que é o futuro. Ficarmos sempre sentados numa secretária vai fazer com que sejamos sempre um país pobre. Temos que conhecer o mundo para podermos crescer e dar melhores condições de vida aos nossos filhos.

Tem a sua assinatura em vários projetos sociais em Angola e aqui na região. Esse conceito de responsabilidade social é importante para a empresa?
É importante para a empresa, mas isso tem sobretudo a ver com uma questão pessoal. Além de sermos empresários, temos que ter os nossos faits divers, e eu sempre gostei de apoiar. Fiz parte de muitas associações e grupos. Fui sempre muito disponível para apoiar iniciativas dentro do que é possível. Estar sempre ao lado das associações, nomeadamente desportivas, foi sempre um hobbie pessoal. Nunca senti que os meus negócios empresariais fossem beneficiados pela minha intervenção na parte social, de qualquer forma eleva-nos, e o que eu fui fazendo foi para as pessoas, para todos e nunca pensando em mim.

Falou na sua ligação a associações… uma delas é a Associação de Futebol de Vila Real (AFVR), da qual foi presidente durante vários anos e hoje é presidente da mesa da assembleia.
Fui presidente da direção durante 12 anos, hoje ainda continuo a ser presidente da mesa da assembleia geral. Foi uma experiência interessante. Quero recordar que não apareci na associação porque alguém me sentou lá. Desde os meus 16 anos sempre fui muito apaixonado pelo futebol, e mais que apaixonado sempre tive uma intervenção e muito trabalho. Criei alguns grupos, nomeadamente o Caíde Reis Sport Clube, na terra onde eu nasci, e fui vice-presidente do Lousada. Aqui, em Vila Real, sempre apoiei muitas agremiações desportivas, como o Sport Clube de Vila Real e o Grupo Desportivo de Chaves, do qual também fui presidente, e que contou com patrocínio das Tintas Europa durante três épocas, quando militava na primeira divisão.

Naturalmente, um dia concorri às eleições da AFVR e ganhei com um vasta maioria, para não dizer com quase cem por cento dos votos, e estive lá 12 anos. Acho que fiz um trabalho positivo, nomeadamente na criação da sede da associação, que na altura, apesar de ter 70 anos de existência, não tinha instalações próprias e tinha uma dívida na ordem dos mil e 500 contos. Tivemos que nos financiar junto da banca para podermos repor a situação económica da associação. Nesses 12 anos construímos a sede, um espaço muito moderno, muito interessante. Uma das melhores sedes distritais do país. Sempre apoiei, e continuo a apoiar, também em Angola, muito gente boa, muita gente carenciada.

Fala-se agora em eleições na AFVR, pensa em recandidatar-se?
Nunca à direção. A mesa da assembleia é uma função mais calma, dá responsabilidade mas podemos controlar mais afastados. A direção é muito trabalhadora e sempre tiveram a minha total confiança. Neste momento não sei se as atuais listas que vão aparecer vão ou não convidar-me. Ainda nem sequer tinha pesando nisso. O que eu quero é o bem da Associação e que o desporto na nossa região cresça. Não estou de maneira nenhuma a dizer que hoje a AFVR é mal gerida, as receitas é que são menos porque há menos clubes e já não há tantos mecenas. A legislação mudou muito e a lei do mecenato já não interessa nada. Quando queremos dar às vezes quase que somos ameaçados pelo fisco porque estamos à espera de dar para receber um recibo. Ao contrário do que acontece em Angola, onde os mecenas são altamente acarinhados, altamente reconhecidos. O segredo é trabalho, dedicação e muita poupança.

Quando deixou a direção da associação, deixou-a numa situação muito favorável, o que hoje já não é uma realidade. A que acha que se deve essa nova situação financeira deficitária em tão pouco tempo?
Há um princípio que eu sempre imprimi em todas as associações em que eu estive, nunca autorizei que se gastassem dinheiros mal gastos. Nunca deixei que alguém debitasse um quilómetro ou uma fatura de restaurante ou o que quer que fosse, tudo isso sempre foi suportado pelos diretores. Fiz uma gestão apertadíssima. Nas associações nós estamos ao serviço das pessoas e não ao nosso serviço. Temos que dar e não esperar receber em troca. Por isso houve um estancamento total nas despesas.

Correm boatos de que vai comprar o Sport Club de Vila Real. Há algum fundo de verdade?
As associações não se compram. O Sport Club de Vila Real é muito antigo e é pena que as pessoas de Vila Real não invistam na sua terra, veem sempre o clube como um parente pobre. Sempre apoiei o futebol, também o Sport Club, mas esses clubes não se compram, são acarinhados pelos seus associados e residentes. O Vila Real só tem que se reorganizar, só tem que estar nas divisões para as quais tenha receitas. Nunca esteve em causa, nem está, a compra o clube.

Já recebeu vários reconhecimentos e prémios entre os quais, mais recentemente, o de Investidor Privado do Ano da Agência Nacional de Investimento de Angola (ANIP). Como vê essas distinções?
Fui nomeado embaixador da ANIP. A nossa função é trazermos investimentos para a Angola, nomeadamente para as províncias, para o interior. É um reconhecimento que nos foi feito pelo trabalho que temos feito ao longo desses 30 anos. Já demos emprego a muita gente, já levamos muitos empresários. Este é um reconhecimento pelo trabalho que fazemos no dia a dia, ao apoiar e acarinhar projetos com mais valia para o país.

Os jovens empresários portugueses podem sonhar em estabelecer-se em Angola? É um processo fácil?
O que é necessário é nos juntarmos às pessoas certas. Não podemos ir de olhos fechados. Tenho ajudado muita gente, tenho encaminhado muitos empresários. Ir e estar em Angola é a mesma coisa que tirar um curso na Universidade, não demora seis anos mas se forem com um bom professor vão se evitar erros que se possam cometer. Desde que as pessoas tenham iniciativa e algum capital, embora seja muito mais interessante terem capital humano, é fácil chegarem a Angola. As pessoas têm é que conhecer os canais e não entrarem pelos canais da corrupção… Entrem pelas associações empresariais, pelas organizações corretas e haverá sempre pessoas que os vão ajudar. Eu sou uma peça deste puzzle que é a ANIP, onde também dou os meus conselhos. Estamos a sete horas de viagem e hoje Porto e Luanda estão ligadas. Por isso estarmos em Angola é estarmos em casa.

É um dos investidores, o maior, deste novo projeto que resgatou A Voz de Trás-os-Montes. Porquê?
Num cenário que foi posto do fecho do jornal, sendo A Voz de Trás-os-Montes um dos jornais que me acompanhou sempre nos meus investimentos, tendo sempre uma visão positiva sobre a sua gestão e não esquecendo o padre António Maria Cardoso, que sempre foi um homem reto e exemplar, sempre esteve ao serviço da região e dos emigrantes e as pessoas que, de uma forma ou de outra, estão ligadas à região, achei que era uma pena que não tivesse continuidade. Espero que o jornal nunca seja um veículo de promoção seja de quem for. Espero que seja um jornal de informação que esteja 100 por cento ao serviço de Trás-os-Montes, dos emigrantes e das pessoas da região. Foram esses os princípios que me levaram a apoiar este projeto em conjunto com alguns empresários da região.

Há dois anos deu uma entrevista onde disse que estava preocupado com a terceira geração da família, que já devia estar a aprender o negócio. Esta situação continua a preocupá-lo?
Continua a preocupar porque nunca mais recuperam o tempo. Casei-me com 23 anos e com 25 já tinha dois filhos. Hoje os meus filhos têm 30 anos e ainda estão agora a pensar em casar, por isso, mesmo que corram já não conseguem ter filhos aos 25… vamos ver se têm aos 35. Ou seja, há aqui um atraso em relação à terceira geração. Mas eu digo isso com algum humor… Gostaria de ver que os continuadores do meu negócio fossem, naturalmente os meus filhos, mas também os meus netos ou as pessoas que possam estar perto da família.

Não gostaria de morrer sem ter a certeza que todo este trabalho, investimento e know how terminasse após o meu afastamento. Num misto de brincadeira e realidade, vou dizendo para ver se os incentivo.

A família dividida entre Portugal e Angola, é uma separação que custa…
Não. Não custa nada.

O que custa é não haver dinheiro. A saúde é importante, mas se não houver dinheiro nada funciona. Estar num sítio onde não há dinheiro quando sabemos que há noutro sítio? Vamos ficar parados à espera? Quando vamos para o exterior vamos à procura de melhores condições de vida. Nunca chorei por viajar daqui para Angola.

Tenho que ir porque se eu não fosse era mais um pobre desgraçado de um empresário falido em Portugal.

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