Por ocasião da Feira da Maçã, do Vinho e do Azeite de Carrazeda de Ansiães, o autarca José Luís Correia e os produtores exigem por parte do governo um plano de regadio para o planalto de Ansiães, que evite problemas de rega como se tem feito sentir este ano devido à falta de chuva. “Espero que não haja dois anos de seca seguidos, porque, se assim acontecer, temos uma situação dramática para os produtores. Tenho alertado os responsáveis para a necessidade de fazer um plano de regadio para o planalto de Ansiães”, afirmou o edil.
Também o produtor Rui Barata está preocupado com a falta de água que pode arruinar as próximas produções tanto da maçã, como do vinho ou do azeite. Apesar da seca que se tem feito sentir, este produtor espera uma boa colheita nos seus pomares, no entanto alerta que sem água “não pode fazer milagres”. Embora “tenhamos grandes capacidades de reserva de água nas nossas charcas, esperamos que a autarquia, juntamente com o Ministério da Agricultura, aproveite este novo quadro comunitário para construir uma infraestrutura abrangente para a fruticultura, de forma a criar uma grande capacidade de reserva de água, que nos permita ter a maçã de qualidade durante os próximos anos”.
A apanha da maçã e as vindimas começaram em força no início desta semana, que é feita sobretudo por mão-de-obra estrangeira, pois nem o concelho nem o distrito têm pessoas suficientes para fazer estas colheitas.
O concelho de Carrazeda de Ansiães vive da agricultura, onde a produtividade agrícola representa “entre 15 a 20 milhões de euros” anuais, refere o presidente da câmara, mas destaca a falta de pessoas para trabalhar no setor. “Carrazeda é dos concelhos do distrito de Bragança que absorve mais mão-de-obra ao longo do ano” na agricultura e que tem recorrido a trabalhadores estrangeiros por falta de disponibilidade local. Esta realidade é sentida pelos produtores como Rui Barata, que tem mais de mil toneladas de maçã para colher e se não fossem os trabalhadores estrangeiros as maçãs ficariam nas árvores. “Estamos a sensibilizar as instituições para a falta de mão-de-obra, que tem de vir de outros países, como Bulgária ou Cazaquistão, a quem oferecemos cerca de 35 euros diários e condições dignas para se instalarem. São essenciais durante estes dois meses, se não corríamos o risco de não colher as maçãs e as uvas”.
O engenheiro agrónomo Duarte Borges tem uma pequena exploração de cinco hectares, que produz uma média de 200 toneladas, mas também faz o acompanhamento técnico a vários produtores, que se queixam da falta de água e de mão-de-obra. “Uma das principais dificuldades foi a falta de chuva, com um inverno seco e um verão quente com temperaturas muito altas, que se refletem na produção. Mesmo assim esperamos uma boa qualidade. Há falta de pessoas para trabalhar na agricultura, sobretudo neste pico de dois meses, em que temos de recorrer a pessoas de outros países”.
Muitos produtores estão organizados para ganhar escala na comercialização, que é sobretudo canalizada para o mercado nacional, no entanto uma pequena percentagem é exportada para alguns países asiáticos e africanos, onde se destaca Angola, que continua a comprar maçãs do planalto de Ansiães, apesar da crise que o país atravessa com a falta de divisas.
Duarte Borges produtor
Apesar da falta de chuva que se fez sentir ao longo do ano, as nossas reservas vão permitir aumentar a produção da maçã, que será de boa qualidade
Rui Barata produtor
Esperamos que os próximos fundos comunitários sejam aproveitados para se construir uma infraestrutura com grande capacidade de reserva de água, que nos permita ter a maçã de qualidade durante os próximos anos