“É triste que se faça um arraial com o dinheiro da comunidade”, criticou Manuel Martins, presidente da Câmara Municipal de Vila Real, no dia em que foi assinado o protocolo que permitirá a transferência de 220 mil euros da autarquia para a Associação Humanitária dos Bombeiros da Cruz Verde, para a requalificação do quartel, um projecto apoiado em 70 por cento pelos fundos do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN).
Em mais um discurso muito crítico relativamente à aplicação das verbas comunitárias, o autarca lembrou que, “noutros tempos”, na altura do II e III Quadros Comunitários de Apoio, os bombeiros não precisariam de bater à porta da Câmara. “Além de um apoio de 75 por cento ainda conseguiriam mais 10 por cento através de contratos-programa com o Governo e, para suportar o restante, ainda poderiam recorrer a uma instituição bancária e usufruir de taxas de juros muito bonificadas”, explicou Manuel Martins, lamentando que hoje “o retrato seja diferente”.
O presidente da Câmara não questiona a “justiça” na atribuição dos 220 mil euros, tendo em conta o serviço prestado pelos soldados da paz à comunidade, no entanto critica que o Governo se vanglorie com a atribuição de fundos europeus e depois sejam os vila-realenses a suportar o restante.
Entregue em quatro parcelas, a primeira das quais já este ano, no valor de 50 mil euros, a verba vai ajudar a pagar as obras de ampliação e requalificação do quartel, que somará um investimento de cerca de 800 mil euros e deverão estar concluídas em meados de 2011.
Para além da recuperação do actual edifício, com a transformação do segundo piso num refeitório e cozinha, e do terceiro num espaço de arquivo e formação, o projecto prevê ainda a sua ampliação, com a construção de uma segunda ala, com dois pisos, onde actualmente existe a parada dos bombeiros.
A nova ala albergará camaratas para os piquetes de fogo e saúde, bem como balneários e vestiários, e ainda o gabinete do comandante. No segundo piso serão criadas as camaratas femininas e ainda duas salas de formação e um gabinete médico, sendo que o rés-do-chão do novo edifício servirá de parque de estacionamento para as viaturas da corporação e ao mesmo tempo como parada coberta.
Segundo Carlos Moreira, presidente da direcção da Associação Humanitária, neste momento, “as obras estão ainda numa fase de demolição” mas, apesar dos constrangimentos causados pelos trabalhos, a corporação está a desenvolver a sua actividade com “os mesmos níveis de prontidão” que sempre garantiu.
Miguel Fonseca, segundo comandante da Cruz Verde, reforçou a garantia deixada pelo dirigente associativo, frisando que “durante um ano a corporação se preparou para as obras” de modo a que, a nível operacional, a resposta continue a ser a cem por cento.
“Estávamos muito limitados ao nível do espaço”, recorda o mesmo responsável, prevendo que no futuro, com as obras concluídas, “as condições de trabalho e conforto” para os soldados da paz sejam outras.
Com perto de 80 anos de existência, o quartel continuará assim a albergar a Cruz Verde, corporação que não deixa no entanto morrer o sonho de um novo espaço, a construir de raiz, e para o qual já tem mesmo um terreno cedido pela autarquia.