“Feira de São Pedro, cuecas para o ano inteiro”. Poucos são os vila–realenses que não conhecem a tradição do “abastecimento” de roupa interior, durante os dois dias dedicados a São Pedro. Por outro lado, outra tradição vai perdendo força, o comércio do barro de Bisalhães que, antes, pintava de negro a Rua Combatentes da Grande de Guerra e que, este ano, foi assegurada por, apenas, um oleiro.
“Fico muito triste, por não ter vindo mais ninguém”, lamentava Ermelinda Carvalho Monteiro, a única oleira que marcou presença em mais uma edição da Feira de São Pedro, o certame antes conhecido pelo forte comércio do tradicional do barro negro de Bisalhães.
Seguindo uma tradição de família que perdura pelas suas mãos e do seu marido, a artesã recorda os tempos áureos da Feira de São Pedro.
“Era uma festa, nós até dançávamos”, lembrou a vila-realense, demonstrando uma notória tristeza pela solidão de ser a única feirante, este ano.
“Questões de saúde e falta de condições logísticas foram as razões que levaram os poucos artesãos que ainda resistem, em Bisalhães, a faltar a tradicional feira”, explicou Domingos Madeira Pinto, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Vila Real.
“É público todo o esforço que temos feito, para dinamizar o barro de Bisalhães”, sublinhou o autarca, lembrando projectos como o processo de certificação da louça e a sinalização de um circuito da aldeia-mãe daquela arte.
Mas Domingos Madeira Pinto garante que o Município ainda não desistiu do trabalho na área da formação de jovens, realçando que continua a “procura de parceiros, para a criação de uma Escola de Ofícios”.
Apesar da ausência de artesãos, Ermelinda Monteiro garante que o negócio “não correu mal” e revelou, ao Nosso Jornal, que ainda há vila- -realenses a “comprar os púcaros”, para manterem a tradição do “Jogo do Panelo”.
“Se Deus quiser, hei-de participar, na Feira, ainda durante muitos anos”, concluiu a oleira que, à semelhança da maioria dos artesãos, já tem mais de 60 anos e nenhum herdeiro para a arte de trabalhar o barro.
Quem regressará, com certeza, são os restantes comerciantes. Centenas de negociantes de outros tipos de artesanato, roupas, calçado, tapetes e, sobretudo, de cuecas, soutiens e meias.
“Há 18 anos que faço a Feira de São Pedro, em Vila Real”, contabilizou Maria Augusta, feirante natural de Famalicão, garantindo que “apesar da crise, as pessoas mantêm a tradição de comprar as cuecas, no São Pedro”.
Maria Meireles