Luís Correia, director pedagógico da instituição, adiantou, ao Nosso Jornal, alguns pormenores de uma ideia rica em criatividade e partilha. “Este projecto nasceu de um trabalho que tem vindo a ser feito na instituição por um grupo de docentes e técnicos, há cerca de 5 anos. Representa a evolução de um projecto europeu que nós já desenvolvemos na área da estimulação sensorial. O nosso trabalho acabou por incidir na área das histórias multi-sensoriais e actualmente estamos a construir a “Biblioteca Acessível”. Foi um projecto que submetemos à Fundação Calouste Gulbenkian que o aprovou e apoiou, que nos vai permitir adquirir algum material informático e equipamento, nomeadamente estantes para colocar os livros”. O “Biblioteca Acessível” leva os utentes, com deficiência, a um mundo de fantasia, e, ao mesmo tempo, leva-os a uma realidade sensitiva. Contrastes que são evidentes neste projecto de grande alcance e desenvolvimento sensorial, tudo isto confirmado nos objectivos da própria iniciativa. “O objectivo deste projecto pretende tornar acessível a Língua Portuguesa às pessoas com deficiência mental ou com incapacidade. Ou seja, podemos contar pequenas histórias da língua portuguesa, poemas do Miguel Torga, e outros contos de autores portugueses, introduzindo–lhe estímulos sensoriais, que vão interagir com os utentes, apelando aos seus sentidos. Assim, ao contar uma história, por exemplo, se estamos a falar do sabor de uma maçã, damos uma maçã a provar ou quando falamos que havia gelo, damos às crianças um bocadinho de gelo para elas sentirem de facto o que é o gelo. Ou quando estamos a falar de um animal, tentamos dar uma pele do animal para experimentarem sentir a textura”, pormenorizou Luís Correia. De notar que muitos destes estímulos serão feitos no exterior das instalações da instituição, aproveitando a diversidade de recursos que possui, com forte carga sensorial, nomeadamente, os cavalos e o parque de ervas aromáticas. Não sendo um espaço grande, a biblioteca possui no entanto algumas particularidades. Nas estantes, os livros são raros, existem sim, em maioria, muitas caixas com histórias e os artefactos sensoriais.
Paula Proença, técnica da Instituição, foi uma das principais impulsionadoras deste projecto e deu-nos a conhecer mais algumas valências. “Temos na Biblioteca mais de 60 experiências já formatadas e disponíveis para os nossos utentes. Há versões diferentes no conteúdo destas caixas temáticas como, por exemplo, o cão ou a caixa do gato, onde se pode encontrar, para além de poesias, música sempre com a mesma finalidade, de transformar em objectos as coisas que os nossos alunos precisam de aprender e experimentar. Além disto, temos também a tradução em sistemas aumentativos de comunicação. Todos estes símbolos foram testados com os nossos alunos e escolhidos, porque há vários para a mesma palavra. Isto é um trabalho muito inovador, no país e julgo que mesmo na Europa não há nenhuma biblioteca com esta filosofia, nem com trabalho feito com esta orientação”, garantiu. De facto, como podemos constatar, aqui todo o material é usado no trabalho diário com os deficientes e devidamente planeado, avaliado e registadas todas as reacções de cada usuário, de cada material. É, sem dúvida, um trabalho ainda mais complexo. No fundo, a biblioteca vai servir para conjugar e arquivar todo este material. Paula Proença contou que na base do projecto teve origem em Inglaterra, mas a APPCDM apresenta uma maior evolução. “Alguns colegas ingleses tinham uma turma de multi-deficientes, mas era difícil fazer alguma coisa. Nós trouxemos a ideia e construímos à sua volta uma equipa multi-disciplinar que ajudou a validar. A equipa que foi testada e avaliada incluiu um grupo de alunos e um grupo de colaboradores sem formação muito especializada. Só quando percebemos as necessidades dos nossos alunos, nomeadamente como respondem aos vários estímulos, é que se pode depois chegar ao material tão específico quanto este, pensado para um grupo intrínseco de alunos”.
Ainda não há uma data definida para a entrada em funcionamento da “Biblioteca Acessível”, mas deverá ter a presença da ministra da Educação, Isabel Alçada, no dia da inauguração. “Como a senhora ministra também é escritora, gostaríamos muito de contar com a presença dela nesse acto, que pode vir a acontecer ainda este ano”, disse Luís Correia.
De sublinhar ainda que, a APPCDM tem na calha um outro projecto nesta área e já foi submetido à fundação EDP. Trata-se da construção de um percurso sensorial, ou seja, será elaborada uma rota sensorial aqui na instituição, que passa por uma estação que tem música e instrumentos musicais, haverá uma outra onde estarão os cavalos, e outra onde haverá os cheiros. “Este é um projecto que nós temos vindo a acarinhar ao longo destes últimos anos e do qual faz parte a biblioteca acessível, a hipoterapia, o parque de ervas aromáticas”.
Por fim, uma constatação que não era difícil de adivinhar. Já há algum tempo que não há nenhuma vaga no Centro de Actividades Ocupacionais, e a área residencial da instituição está completamente cheia. A procura é sempre constante. As vezes, alguns pais das crianças sentem necessidade e precisam de uma palavra que lhes dê alguma confiança e alento para poderem estar com os seus filhos e os deixarem crescerem e serem felizes, como todos os outros”, concluiu.
Lar Residencial de Alijó concluído este ano
Em Alijó, está em curso a construção de um Lar Residencial da APPCDM de Sabrosa. Esta unidade vai ter capacidade para acolher trinta utentes. É uma obra financiada pelo Programa Pares, que inicialmente foi projectada para 750 mil euros, contudo, devido a trabalhos suplementares, o custo total deverá rondar cerca de um milhão de euros. “É um empreendimento em que apostamos muito porque cerca de 40 por cento dos nossos utentes são do concelho de Alijó, sendo uma fatia muito larga da população com deficiência mental, daí a construção desta unidade em Alijó”, contou, ao Nosso Jornal, a presidente da APPCDM de Sabrosa, Helena Lapa. Quando o projecto foi feito, houve a preocupação de fazer a implantação do edifício numa área que permitisse, para o futuro, acoplar um outro edifício destinado a um Centro de Actividades Ocupacionais. Nesta fase inicial, “os utentes de Alijó continuarão a ser atendidos em Sabrosa”.
Neste momento, a percentagem de execução da obra estará nos 50 por cento. O prazo inicial para a entrega da obra apontava para Setembro/Outubro deste ano. Uma meta que Helena Lapa julga ser possível. “Ainda poderá ser possível começar já a sua utilização do espaço no próximo ano lectivo. Contudo, temos que aguardar”.
De sublinhar ainda que o terreno tem uma área de 13 mil metros quadrados e foi cedido pela autarquia por um prazo de trinta anos, tendo ainda a edilidade atribuído uma comparticipação de 50 mil euros. “Tem havido sempre uma boa colaboração entre nós e a Câmara, isso é sempre bom realçar”, concluiu Helena Lapa.