Em Curalha, Chaves, a ETAR, além de promover a reutilização do efluente, depois de tratado para rega de espaços verdes, está preparada igualmente para o tratamento de lamas e sua possível valorização orgânica, pois possui um tratamento secundário com desinfecção. Rui Cortes, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD, referiu, ao Nosso Jornal, as vantagens na aplicação destes ‘desodorizantes’. “Na fase secundária das ETARs, os tratamentos biológicos já se utilizam, como seja o caso da vegetação silvestre. São processos bastante úteis que deveriam ser mais utilizados nas ETARs, principalmente quando estão situadas em zonas urbanas, onde os odores estão mais próximos das populações”. Este investigador aproveitou para sustentar uma outra alternativa no tratamento de efluentes. “Outro sistema amigo do ambiente e menos oneroso passa pela utilização de plantas aquáticas, mas aconselhadas em ETARs de pequenos aglomerados populacionais. As plantas absorvem os nutrientes e o tratamento das águas é concretizado. Estes sistemas são menos onerosos, mas ainda são pouco utilizados. Recorre-se ao uso de pequenas lagoas. Estes sistemas melhoram os odores emitidos para a atmosfera e retém nutrientes, não os lançando nos cursos de água”. A desodorização biológica em curso nas duas ETARs é, sem dúvida, um passo em frente na qualificação ambiental destes equipamentos. Segundo a ATMAD, devido à natureza dos produtos tratados, uma estação de tratamento de águas residuais é uma fonte de odores”. Os cheiros têm as suas origens nos gases ou vapores emanados por certos produtos contidos nas águas residuais ou provenientes das transformações efectuadas no decurso do tratamento. O objectivo do processo de desodorização, que utiliza arbustos secos e plantas da região, passa por impedir a difusão para o exterior de poluentes atmosféricos, eliminando-os e permitindo a libertação de ar tratado para o exterior da própria ETAR. A biodesodorização é no um tratamento biológico dos gases emanados e baseia-se fundamentalmente na capacidade que alguns microorganismos aeróbios têm de decompor as substâncias contidas no gás a tratar, basicamente em CO2, H2O e diversos sais.
A empresa Águas de Trás-os-Montes e Alto Douro, na instalação do sistema da biodesodorização, através equipamentos específicos, consegue que o ar contaminado passe através de uma caixa fechada. O elemento “perfumador” dos maus odores surge no fundo de uma espécie de silo, constituído de um estrado que suporta uma camada com cerca de 1,5 metros de material biológico, onde se desenvolve a biomassa encarregue de metabolizar os produtos de odor desagradável. Este material biológico é constituído pelos resíduos florestais e arbustivos, que têm uma acção fundamental neste processo. Para evitar qualquer secagem e assegurar um bom desenvolvimento desta biomassa, uma rede de dispersores, colocada sobre o material, dispersa regularmente água de serviço através da abertura de uma electroválvula. A camada de material biológico, com cerca de 1,5 metros de espessura, tem uma duração de cerca de 10 anos, tendo depois de ser substituída.
Refira-se ainda que modo de funcionamento da biodesodorização é efectuado fazendo passar o ar contaminado através de um meio de enchimento especial, onde se desenvolve a biomassa encarregue de metabolizar os produtos de odor desagradável. O ar contaminado, já lavado na torre de humidificação, é enviado para a biodesodorização, através do ventilador.
De acordo com os técnicos da UTAD, para que a biodesodorização funcione correctamente é necessário proceder à dispersão regular de água e nutrientes sobre o meio de enchimento, através de uma rede de aspersores colocada no topo da torre de biodesodorização. A generalidade das associações ambientais do país defende a utilização deste processo, que já está a ser implementado noutros concelhos, nomeadamente a Quercus. Francisco Ferreira, dirigente nacional, salientou, ao Nosso Jornal, algumas vantagens na biodesodrização biológica, mas ainda deixou reservas. “É um processo que a Quercus vê com bons olhos. Dado o seu carácter natural, é preferível a outras soluções e sistemas com custos maiores e mais complicados em termos de desodorização ambiental, levando até, em alguns casos, ao encerramento de ETARs. Agora, todo o processo tem de ser bem dimensionado e cuidado. Há bons exemplos, mas também há outros com problemas no funcionamento. Na globalidade, o sistema é uma boa opção, desde que devidamente observado”.
Relativamente à estação de tratamento de águas residuais domésticas, a de Cambres serve um equivalente populacional de cerca de 5000 habitantes e possui uma capacidade de tratamento de 897 m3 de águas residuais por dia. A de Chaves tem uma capacidade para tratar 17 000 m3 por dia. O sistema de drenagem e tratamento é ainda constituído por 16 quilómetros de emissários e oito estações elevatórias.