A ideia já “surgiu há muito tempo”, foi trabalhada e desde abril que está no terreno o projeto “Bombeiro Herói Solidário”, uma iniciativa de um grupo de jovens elementos da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Cruz Branca de Vila Real que faz o acompanhamento domiciliário a mais de três dezenas de utentes que são transportados diariamente pela corporação para consultas e tratamentos.
O serviço habitual prestado pelas corporações passa simplesmente pelo transporte dos doentes de casa até ao local da consulta ou tratamento, e vice-versa, mas os voluntários da Cruz Branca quiseram ir mais longe e proporcionar, de forma voluntária e periódica, um acompanhamento personalizado onde entram os cuidados de enfermagem, o apoio social e psicológico e muita alegria e boa disposição.
“Depois de já ter feito algumas visitas chegámos à conclusão que é muito importante a companhia que fazemos às pessoas”, sublinhou Marli Rodrigues, bombeira impulsionadora do projeto, explicando que os sorrisos com que são recebidos pelos utentes são reveladores da abertura e satisfação das pessoas em os receber.
Além de Marli Rodrigues, atualmente a equipa é composta ainda por António Marques, Daniela Sousa, Sandra Santos, Susana Pereira, Henrique Parente, Juliana Borges, Alexandre Favaios e Márcia Pereira.
Todos os sábados um grupo de quatro ou cinco desses elementos (socorristas, assistentes sociais e enfermeiros, à exceção dos psicólogos que são chamados apenas em casos específicos) desloca-se de casa em casa, cumprindo rotas desenhadas de forma a dar resposta à lista de mais de 30 utentes que são transportados pela corporação. A VTM acompanhou a viagem do último sábado.
A primeira paragem foi na Campeã, na casa de Guiomar Carvalho que, com 60 anos, “para conversar está sempre pronta”. Apesar de poder contar com a companhia das duas netas à noite, depois das aulas, a solidão dos dias, como a própria reconhece, só é quebrada com as idas, três vezes por semana, aos tratamentos de hemodiálise.
Além dos assuntos “sérios”, de procedimentos como a medição da tensão, os conselhos sobre os cuidados de saúde e ouvidas as necessidades da sexagenária, a visita conta com uma outra vertente muito importante, a troca de sorrisos, a cumplicidade entre aqueles que existem para servir e a pessoa que abriu a porta da sua casa para os receber. No final, os bombeiros despendem-se, mas além do sentimento de dever cumprido, levam consigo até o convite para festa dos cinco anos da neta mais nova, “que vai ser em agosto”, como revelou a pequena.
A paragem seguinte foi em Vilarinho de Samardã, onde, com o casal Zaida Ribeiro e António Além, os soldados da paz fizeram uma visita “dois em um”. Mais uma vez, a chegada da equipa foi assinalada com boa disposição e, apesar dos seus mais de 70 anos e da sua dificuldade em andar, Zaida quis receber os bombeiros da melhor forma possível, oferecendo água e bebidas, ao mesmo tempo que apresentava a sua nova neta, recém-nascida, e no decorrer da conversa foi mostrando fotografias de quando era mais nova. Tudo isso sempre intercalado com a sensibilização para as questões de saúde, com os conselhos, com a análise das necessidades da família. No final de cada encontro a equipa faz um relatório que serve de base para novas visitas.
“Queremos passar uma imagem diferente dos bombeiros. O nosso trabalho não é só apagar incêndios”, sublinhou Susana Pereira, enfermeira que aderiu desde o primeiro momento à equipa.
E foi também por isso, para aproximar os soldados da paz à comunidade, que a Associação Humanitária recebeu de braços abertos o projeto que partiu da iniciativa dos bombeiros, como explicou à VTM o comandante da corporação, Orlando Matos. “Precisamos de estar mais próximos das pessoas, porque muitos só pensam em nós nos momentos de aflição”, explicou.
O mesmo responsável referiu que, por outro lado, o comando viu a oportunidade de, através do projeto, “perceber quais as dificuldades e necessidades das pessoas” que a corporação transporta, no sentido de “melhorar o serviço que presta”.