O repto foi lançado ao Nosso Jornal pelo presidente da Federação Distrital dos Bombeiros de Vila Real, Alfredo Almeida. Recorde-se que, só no último fim-de-semana, segundo dados oficiais, morreram cinco pessoas em praias portuguesas. Uma delas no rio Douro, no concelho de Resende. O responsável máximo distrital federativo lembrou que “existem áreas com pequenas albufeiras na região, onde as pessoas se banham e que não têm qualquer tipo de vigilância”. Na sua óptica, deveria existir um pouco mais de atenção das juntas de freguesia e das próprias autarquias. “A responsabilidade é de quem gere o território, como é o caso das autarquias, das instituições que tem jurisdição sobre essas áreas e finalmente dos bombeiros, a quem devia ser pedida mais colaboração ou, então, deveriam ser estabelecidos protocolos no sentido de vigiarem determinadas áreas, onde as pessoas gostam de tomar banho”, acrescentou.
Alfredo Almeida considerou que o protocolo com as câmaras poderia prever a localização e os meses do ano em que as zonas fluviais estariam sujeitas a uma maior vigilância, acreditando que este tipo de acordo iria possibilitar “maior eficácia de socorro das pessoas”, que se iriam sentir mais protegidas. O dirigente, actual presidente da direcção dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua, lembrou, a propósito do distrito de Vila Real, que tem de se distinguir a área que está afecta ao rio Douro, que pertence à jurisdição da Autoridade Marítima, que deve ser ela a zelar pela protecção das pessoas”, mas quanto à restante parte do distrito, “há algumas zonas de banhos que não estão autorizadas nem pela autarquias nem pelo Estado, apesar das pessoas utilizarem esses rios, devido à força do calor no Verão nesta região”. As pessoas devem evitar comportamentos de risco. “Muitas vezes há situações de perigo em locais onde não existe vigilância e quando os bombeiros chegam para socorrer as pessoas, por vezes, já chegam demasiado tarde”, sublinhou. Realçando ainda a preocupação dos bombeiros com a questão da segurança das pessoas. “Os corporações deveriam estar antecipadamente preparadas e com todos os meios para fazer a prevenção e o socorro nestes casos”.
Confrontado com a questão se as corporações estariam ou não devidamente equipadas para acudir a acidentes fluviais, o presidente da Federação Distrital dos Bombeiros Portugueses não foi muito conclusivo. “Neste momento, aquelas que estão ligadas ao rio Douro têm os meios suficientes, podem não chegar mas são os que existem. Cada uma tem um barco e homens preparados para fazer socorro na água. As outras também têm equipamentos para fazer este tipo de socorro. Nós sabemos que nessas albufeiras, onde há frequência de banhistas, o natural será que as direcções, o comando e as autarquias estabeleçam um programa mínimo para verem se têm ou não equipamento para fazerem socorro nessas áreas. Mesmo assim, penso que os bombeiros do distrito de Vila Real têm os meios suficientes, mas há sempre que evoluir na aquisição de meios mais modernos”.
O comandante dos Bombeiros de Alijó, António Fontinha, também mostrou concordância numa “estreita colaboração entre as autarquias e as corporações”, reconhecendo, contudo, que “há locais nos rios e zonas fluviais que precisam de vigilância, mas nós não temos responsabilidade directa sobre esses casos. Quando acontecem desgraças é que nos chamam”. António Fontinha defende também que deveria ser feito um protocolo de colaboração com as autarquias, principalmente aquelas que têm zonas que podem não ser consideradas praias fluviais, que estão situadas, muitas delas, em locais ermos, mas que as pessoas, no Verão, as frequentam com muita assiduidade. Era benéfico para todos”, frisa. Quanto aos meios de socorro, o soldado da paz apontou algumas lacunas que não são de agora. “Temos os mínimos e mais nada. Mas, gostaria de ter pelo menos um elemento habilitado para este tipo de função, uma vez que não temos nenhum mergulhador e no concelho de Alijó não há nenhuma corporação que tenha. Aliás, o Pinhão não tem, nem o concelho de Sabrosa, que têm o rio à sua frente e onde não há nenhum mergulhador. Só há na Régua e em Carrazeda de Ansiães”.
Por sua vez, o comandante dos Bombeiros da Cruz Branca, Álvaro Ribeiro, considera positiva a ideia do protocolo. “Nas zonas onde se justificar, deverá existir vigilância. Os bombeiros são organizações ligadas ao socorro e poderiam entrar no sistema, naturalmente. Claro que há necessidade de formar os profissionais”. Ao que parece, a nível nacional, na especialidade de nadadores/salvadores “não existe em muita quantidade”. O Instituto de Socorros a Náufragos é que “terá de promover a realização dessa formação”. Sendo uma actividade sazonal, muitas vezes entregue a estudantes, como não dá continuidade no emprego, haverá algumas dificuldades em cativar jovens para esta prática”, concluiu Álvaro Ribeiro. Na mesma sintonia, está o comandante em exercício dos Bombeiros da Cruz Verde, Miguel Fonseca, que assume a importância da concretização deste protocolo. “Tudo o que seja em abono da segurança de pessoas e bens é bem-vindo, aliás quem melhor que nós poderia assumir este papel?” Todavia, para ser possível este acordo “terá de ser feito mais investimento em equipamentos e na formação de nadadores salvadores, nomeadamente por parte do Instituto de Socorro a Náufragos.
O Governador Civil do Distrito de Vila Real, Alexandre Chaves, enquadra este assunto no âmbito das competências da protecção civil municipal, que gere a segurança das praias fluviais, onde os bombeiros estão integrados. Contudo, primeiro, têm que se certificar as praias para serem vigiadas. “As pessoas não podem tomar banho em zonas não licenciadas”. Todavia, reconheceu benefícios na eventualidade da Protecção Civil Municipal fazer protocolos com as corporações de bombeiros para fazerem vigilância nas zonas de lazer fluviais.
De sublinhar ainda que, o secretário de Estado da Protecção Civil, Vasco Franco, questionado recentemente pelos jornalistas sobre a hipótese dos bombeiros poderem vir a efectuar este trabalho de prevenção e socorro nas praias, o governante descartou essa possibilidade, sustentando que “os bombeiros, nesta época do ano, têm é que estar concentrados no combate aos incêndios florestais” e apelou aos banhistas para terem “mais cuidado” e “precauções” nas praias.
Estas declarações surgiram após a Federação Portuguesa de Concessionários de Praia e a Liga dos Bombeiros Portugueses defenderam a necessidade de as praias serem vigiadas pelas estruturas de socorro fora da época balnear oficial, impedindo ou reduzindo o impacto de comportamentos negligentes.