“Quando vêm pedir apoio alimentar temos que pedir para voltarem depois”, explicou Hélder Afonso, responsável pela Cáritas Diocesana de Vila Real, sobre a quebra de stock do banco alimentar da instituição que há mais de 30 anos tem as ‘portas abertas’ aos mais carenciados do distrito.
Segundo o mesmo responsável, desde o início do ano que a Cáritas não “tem alimentos para poder redistribuir pelas famílias”, uma situação que resultou da escalada em pico dos pedidos de apoio de centenas de famílias vila-realenses.
Só no ano passado aquela instituição deu resposta a cerca de três mil pedidos de ajuda, praticamente o dobro do que foi contabilizado em 2011, sendo que a campanha de distribuição de cabazes de Natal levou mesmo o seu banco alimentar à rotura.
“Já fizemos pedidos a vários hipermercados e instituições para que se possa dinamizar uma nova campanha de recolha, mas até à data ainda não tivemos respostas”, adiantou Hélder Afonso, reconhecendo também que as famílias, que tradicionalmente participavam mais ativamente na doação de bens alimentares, que eram as da classe média, “neste momento estão também asfixiadas com tantas despesas e impostos, acabando por não terem capacidade financeira para poderem também colaborar”.
Para além da ajuda alimentar que é prestada a quem ‘lhe bate à porta’, muitas vezes em situação de “total desespero”, a organização tem também utilizado as verbas enviadas pelo Fundo Social Nacional da Cáritas Portuguesa para ajudar no pagamento das contas das famílias mais carenciadas. “No ano passado utilizamos cerca de 90.000 euros do Fundo para ajudar a pagar rendas de casa, contas de água, luz ou gás e medicamentos”, contabilizou.
“Compramos livros escolares para 250 crianças dos vários níveis de ensino”, revelou ainda o mesmo responsável considerando que a Cáritas está a cumprir um dever que deveria ser assumido pelo Governo, pelo Estado Social. “É este Estado Social que queremos ter no futuro?”, questionou Hélder Afonso antevendo que os “próximos quatro ou cinco anos venham a ser muito mais difíceis”.
Para que a instituição possa continuar a dar resposta aos milhares de pedidos de apoio, a Cáritas e a Diocese de Vila Real decidiram avançar com a criação de um Fundo Social Diocesano. A medida funcionará como o Fundo Nacional, no entanto, enquanto esse tem momentos específicos, campanha com determinadas datas, o Fundo Diocesano será “permanente”.
Assim, com a dinamização do fundo, que arrancará já em fevereiro, os cidadãos vila-realenses vão ser convidados a ajudar com o que puderem, podendo as dádivas em dinheiro serem entregues diretamente à Diocese, através de transferência bancária, depósito em dinheiro ou envio de cheque pelo correio.
“O ano de 2013 vai ser mais difícil, por isso precisamos do apoio de todos, precisamos do espírito de solidariedade que sabemos que os transmontanos têm”, sublinhou o coordenador da Cáritas de Vila Real, revelando que as pessoas podem ainda contribuir com a entrega de bens alimentares, deixando-os nas paróquias, no Seminário de Vila Real ou na sede da Cáritas. “Também vamos buscar as dádivas a casa se for necessário”, adiantou o mesmo responsável deixando o contacto da organização (259 371 166) para mais esclarecimentos.
Em Vila Real, a Cáritas desenvolve várias valências, nomeadamente o apoio domiciliário ao distrito, o Projeto Homem (programa Terapêutico-Educativo de Reabilitação e Reinserção Social de Adictos a Drogas e Álcool), a Empresa de Reinserção, a equipa de apoio e acompanhamento do Rendimento Social de Inserção (que atua junto de 500 famílias carenciadas do concelho de Vila Real) e o atendimento social, que incluiu a recolha e distribuição de bens como roupas e alimentos.