Segundo a tese de doutoramento, o cascarão, em conjunto com a pelicula que é retirada para a comercialização da amêndoa pelada, tem uma atividade antibacteriana “muito acentuada” e pode “combater estirpes bacterianas” que são potencialmente patogénicas e resistentes a múltiplos fármacos.
A aluna croata, Iva Prgmet, referiu à VTM que o objetivo foi aproveitar os subprodutos da amêndoa, entre os quais o cascarão, com vista à sua valorização, uma vez que “podem vir a tornar-se tóxicos para o meio ambiente, podem ser depositados em aterros ou ser utilizados para a alimentação animal”.
Num mundo em constante mutação e com o desafio das alterações climáticas, a orientadora do doutoramento e diretora do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), Ana Barros, sublinhou que a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que um dos principais problemas que vamos enfrentar é a resistência aos antibióticos, por isso, “é premente tentar arranjar alternativas aos antibióticos comerciais”.
A diretora acrescentou que os subprodutos da amêndoa podem ter efeitos sinergéticos com os antibióticos que existem atualmente. “De facto, estes subprodutos têm potencialidades antibacterianas”, reiterou, adiantando que o grupo do trabalho do CITAB pretende trazer valor acrescentado dentro daquilo que é o conceito da economia circular.
A amêndoa foi escolhida por ser o fruto seco mais produzido a nível mundial e tem um impacto económico bastante grande na região transmontana. Além disso, tem “uma matriz alimentar de reconhecido valor nutricional”, isto porque “tem efeitos benéficos para a saúde devido às suas propriedades nutricionais”.
No entanto, o estudo concluiu ainda que este subproduto pode também ser reaproveitado quer para a indústria cosmética e não apenas para a farmacêutica. “Ficou provado que o cascarão tem uma atividade antibacteriana elevada. Isto significa que, com estudos complementares, poderemos vir a comprovar se ele tem uma atividade mais potente do que determinados antibióticos contra bactérias multirresistentes”, frisou Ana Barros, afirmando ainda que tem uma atividade anti-inflamatória e antioxidante “muito elevada”, o que poderá vir a ser utilizado como “creme antirrugas, como creme de tratamento de feridas ou outras aplicações semelhantes”.
Em Portugal, a campanha de 2019 rendeu cerca de 30 mil toneladas de amêndoa, em que mais de dois terços foram produzidas em Trás-os-Montes e Alto Douro. Nos últimos anos, a produção tem vindo a subir, porque ainda é uma cultura rentável, o que tem levado os agricultores a investir neste fruto seco.