São números estimados pela União das Adegas Cooperativas da Região Demarcada do Douro, UNIDOURO. Dão que pensar e reflectem a actual situação de crise que vive o sector cooperativo duriense. Ou seja, do total de cerca de 20.000 sócios das adegas do Douro, 14.000 têm mais de sessenta anos de idade. Dados que reflectem a pouca apetência da juventude pelo cooperativismo.
O Presidente da Unidouro, José Manuel Santos, defende a aplicação de novas medidas, para atrair a juventude ao sector que, na sua ideia, “continua a empobrecer, alegremente”. O redimensionamento do sector que possa reduzir custos de produção e uma consequente maior valorização dos vinhos são algumas das ideias avançadas.
Falta de incentivos, preços baixos e pequena dimensão das vinhas
José Nuno, dirigente da Adega Cooperativa de Sabrosa, refere que “a grande maioria dos nossos associados tem entre os 60 e os 70 anos. Mais de 70% são sócios com menos de um hectare, com duas ou três pipas de vinho. Os filhos saem e ninguém fica preso à actividade. Tudo isto porque o vinho não dá incentivo, os preços são baixos, a dimensão da vinha não dá, o tão famoso emparcelamento nunca foi feito e a modernização não avança”.
O Presidente da Adega Cooperativa de Vila Real, Jaime Borges, também reconhece o “envelhecimento” dos associados: “É uma realidade. Cerca de sessenta a setenta por cento dos nossos associados têm mais de sessenta anos e temos vários cuja idade ultrapassa os oitenta anos. Esta tendência é mais evidente nas freguesias de Tanha e Abaças. A população jovem afasta-se da vinha”. Para este dirigente, a causa principal tem a ver com a “sustentabilidade do sector vitivinícola, no Douro, como actividade dominante” e, na sua opinião, “cada vez mais difícil”.
Custos de produção elevados
“A vida de agricultor é muito difícil, os filhos dos agricultores não querem continuar a cultivar os prédios, porque o seu rendimento é baixo e não têm condições de fixação. As mais-valias, cada vez mais, são menores, pois a concorrência de mercados é enorme e os preços andam por baixo, até porque o Douro tem custos de produção superiores a outras regiões” – sublinhou.
Na área da Adega de Murça, segundo Mário Artur Lopes, o panorama não é diferente, embora a percentagem não seja tão elevada.
“Num universo de cerca de mil e quatrocentos associados, perto de quatrocentos são recentes e estes rondam entre os 30 a 40 anos. Porém, admito que mais de cinquenta por cento dos associados da Cooperativa tenham mais de sessenta anos e alguns até ultrapassem os oitenta anos”. Este dirigente sustenta que a causa desta realidade “tem a ver com a crescente desertificação que grassa no interior do país, em termos populacionais, bem como o consequente fluxo das populações jovens, para o litoral”. No Douro Superior, a realidade é a mesma. Há pouca juventude, no sector cooperativo.
Desertificação crescente do mundo rural
A Adega Cooperativa de S. João da Pesqueira sente esta constatação. António Camilo, Presidente desta agremiação, avança, também, com números.
“Temos cerca de 350 associados e, destes, metade é constituída por idosos. Pessoas que vão desde os sessenta aos noventa anos, mesmo”. Porém, o dirigente realça que “a restante percentagem ronda os quarenta anos”. As causas, na sua ideia, passam pela “falta da atractividade da viticultura, a desertificação das aldeias e alguma prática tradicional dos mais antigos, não abdicando, de ânimo leve, dos seus rincões vinhateiros, cujos legados são feitos, na maior parte dos casos, só após a sua morte”. Quem olha, preocupado, para esta realidade, é o Presidente da União das Adegas Cooperativas da Região Demarcada do Douro, José Manuel Santos, instituição que representa cerca de vinte mil viticultores, distribuídos por vinte e três Adegas Cooperativas.
“Os jovens estão a virar as costas à vinha e tudo isso por várias razões. Não há incentivos, para os jovens. Os apoios são fracos, as promessas são muitas e as tão faladas candidaturas para jovens agricultores não têm sido eficazes. Tardam as respostas e, mesmo quando são positivas, não chegam para o endividamento assumido pelos mesmos. Além disso, há a realidade da falta de rentabilidade do sector que está, assumidamente, a empobrecer, alegremente”.
José Manuel Santos está apreensivo, quanto ao futuro.
“O Douro cooperativo, mormente os associados das Adegas, não aguentam mais tempo esta situação. Podemos estar à beira de uma crise profunda e de difícil resolução, nesta área”.
Viticultura duriense necessita de um Plano Estratégico
Para este dirigente, urge serem tomadas medidas: “Redimensionamento do sector, políticas que possam ajudar à redução dos custos de produção, atracção de mais massa crítica e produtos mais bem pagos” são algumas das ideias deixadas.
Em relação à Unidouro, este responsável sublinha que “a elaboração do Plano Estratégico para as Adegas poderá ser um instrumento que pode alterar este afastamento dos mais novos da vida cooperativa”. Aliás, a vitivincultura duriense precisa de ter um plano estratégico. Produção e comércio reconhecem que este é um instrumento fundamental, para o desenvolvimento sustentado do sector. A decisão já tomada pelo Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), órgão deliberativo em que produção e comércio estão, paritariamente, representados e onde a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro está incluída. Em contraponto ao “envelhecimento do cooperativismo duriense”, é de salientar que o sector dos produtores engarrafadores está muito rejuvenescido.
A Associação dos Produtores e Engarrafadores de Vinhos do Porto e Douro, AVEPOD, é composta por um conjunto de associados, cujo leque etário é mais jovem. O investimento, por conta própria, em novas vinhas e, consequentemente, em novos produtos, e uma gestão empresarial adequada aos mercados actuais, capitalizam gente nova, para o sector vitivinícola.
José Manuel Cardoso