Domingo, 13 de Outubro de 2024
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Chaves era uma cidade cansada e gasta hoje está mais atrativa e organizada

Entrevista a Nuno Vaz - Em 2017, o Partido Socialista (PS) defendia ser necessário “Acordar Chaves”. Nuno Vaz assumiu os destinos da autarquia e, desde então, diz ter “arrumado” a cidade. O objetivo, garante, passa por captar investimento e fixar os mais jovens

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Tomou posse em outubro de 2017. Que balanço faz destes quase quatro anos de mandato?

Quando iniciámos este mandato tínhamos algumas questões fundamentais, desde logo recuperar o amor próprio e a autoestima dos flavienses, sentíamos que havia uma desesperança e falta de futuro. Havia um conjunto de processos que nunca mais se realizavam porque a situação financeira do município não permitia honrar os compromissos. Chaves tem de ser o líder de uma região, o motor e o impulsionador de estratégias para o desenvolvimento regional e isso passa por questões ligadas ao conhecimento, mas sobretudo ao termalismo, ao turismo e à área industrial, que permita fixar as pessoas. A câmara estava em saneamento financeiro, havia uma Escola Superior de Enfermagem em final de vida, uma Misericórdia numa situação insustentável. Uma parte das instituições se não estava em falência estava em insolvência e havia um clima de insustentabilidade, essa foi a nossa grande ambição e claro que foi tudo concretizado ao longo destes quatro anos, assente numa estratégia de projetos e ações que foram sendo desenhados, com alguns deles a ficarem condicionados na sua cronologia de execução por questões de insuficiência financeira do município, que estava numa situação difícil, mas também, e sobretudo, por causa da pandemia que veio alterar as nossas prioridades. Contudo, se quisermos fazer um balanço genérico, e falando da área financeira, passámos de uma dívida que rondava os 42 milhões de euros para os 25 milhões. 

Foi feita, inclusive, uma auditoria…

Sim, que procurou, sobretudo, conhecer o perímetro de todas as responsabilidades do município, quer as de curto prazo, quer as futuras, como processos contenciosos, de expropriação, situações de litígio. Confesso que estávamos à espera do resultado, ainda que fomos surpreendidos com mais 700 mil euros de juros que tínhamos de pagar às Águas do Norte e que não estavam nessa auditoria, ou seja, nem a auditoria conseguiu detetar todas as dívidas, mas é algo normal, tendo em conta o número elevado de registos que era preciso analisar. 

Então como está hoje a autarquia?

Está bem e chamo aqui a atenção para o facto de a redução dos juros nos ter permitido aumentar, para o dobro, o apoio às freguesias. Hoje temos capacidade de alimentar o sonho e isso significa que temos mais 21 milhões de euros de capacidade de endividamento, ou seja, temos capacidade de concretizar projetos que até agora não eram possíveis porque não havia recursos financeiros. A câmara estava em saneamento financeiro e, verdade seja dita, isso era um eufemismo porque, na verdade, estava falida. Foi preciso recuperar a câmara e estivemos dois anos para fazer esse equilíbrio. Depois veio a Covid-19, que nos veio limitar. Ainda assim, entendo que o balanço é francamente positivo na dimensão financeira.

E a nível da captação de investimento? Que balanço é possível fazer?

Para quem tem dúvidas dos passos que se deram na afirmação de Chaves enquanto destino de investimento, eu aconselho a visitar a área de acolhimento empresarial para que, efetivamente, vejam que temos lá um conjunto de intervenções importantes. Se há três anos tínhamos problemas de atração, hoje não há espaço e estamos com aquilo a que chamamos dores de crescimento. O desafio, neste momento, passa por duplicar a potência elétrica e reforçar o abastecimento de água. Mas outra necessidade essencial, enquanto elemento de atração de empresas para o território, é a internet. Nós precisamos de 5G, precisamos de internet com mais capacidade. A nossa grande exigência é que o Governo olhe para os territórios do interior com uma descriminação positiva. Não nos vamos calar enquanto isso não acontecer. Aquilo que temos pedido é potência elétrica, internet e que nos deixem trabalhar. Não é nada de especial, apenas estamos a pedir condições para fazermos o caminho da atração. Temos sido procurados por muitas empresas galegas, mas há também empresários do concelho que já estão em processo para instalar uma segunda fábrica na zona industrial.

Quantos postos de trabalho foram criados nos últimos anos?

Quando falamos de postos de trabalho temos que agregar aqueles que estão ligados à componente industrial, aos da área social, saúde, retalho, estabelecimentos comerciais. Hoje, entre postos de trabalho criados e postos de trabalho já contratualizados, podemos falar entre 300 a 500, mas há alguns já equacionados que não estão concretizados por causa da pandemia. Isto porque há algumas empresas que ainda estão em processo de construção, quando já deveriam estar em laboração. 

Sente que nos últimos anos Chaves se tem afirmado no Alto Tâmega?

Naquilo que tem a ver com a afirmação do território e com a questão de liderança, acho que hoje ninguém discute que a liderança do Alto Tâmega passa por Chaves, que Chaves tem um papel liderante e de conciliador e, além disso, há um projeto coletivo que permitiu fazer em Chaves um posto de turismo que servisse todo o Alto Tâmega, foi possível fazer um projeto importante para a região que é o projeto de valorização da água. Conseguimos, finalmente, entendermo-nos sobre qual a área estratégica que temos de valorizar, neste caso a água e o bem-estar. Era algo evidente, mas andámos anos a fio sem nos entendermos. Hoje temos o Aquavalor, que é um projeto absolutamente estruturante e de futuro, que quer fazer um estudo e transferir conhecimento na área da água, desde a água mineral, à água enquanto tratamento terapêutico, da água na área do bem-estar, da água enquanto elemento de criação de valor e energia e enquanto fonte de calor da geotermia.

Mas o Alto Tâmega também se faz muito de agricultura. Como está esse setor aqui em Chaves?

Disse-o em 2017 e hoje reafirmo-o. Os executivos anteriores parece que tinham vergonha ou pudor em falar da agricultura e da sua relevância, coisa que connosco alterou radicalmente. Primeiro, criámos algumas medidas de apoio à agricultura, ainda que entendamos que é uma competência, sobretudo, da administração central. Para nós, a agricultura estava a ser pouco acompanhada. Logo no primeiro ano criámos um apoio financeiro para quem tivesse um efetivo de ovinos, caprinos e bovinos. Ao mesmo tempo fizemos outra coisa que nunca tinha sido feita até então numa área tão importante como é a produção da castanha. Neste momento, temos dezenas e dezenas de castanheiros no concelho e para isso foi dado apoio através de ações para combater a vespa da galha do castanheiro. Entendemos, também, que tínhamos de valorizar o porco porque assim estávamos a valorizar o fumeiro. Criámos, então, um apoio financeiro para os produtores de raça bísara e desde o ano passado estamos, também, a apoiar os produtores de mel. São apenas alguns sinais de que olhamos para a agricultura do concelho e que a temos como um setor importante.

Importante são também as termas, correto?

Sim, para nós a dimensão termal é um dos pilares do desenvolvimento não só de Chaves, mas de todo o Alto Tâmega. O ano de 2020 foi dramático para o turismo e para as termas em particular. 2019 foi o melhor ano de sempre em termos financeiros, em termos de aquistas e é preciso voltar aos números de então, em que tivemos 180 mil dormidas. As termas, seja na dimensão curativa ou na dimensão de bem-estar têm um espaço de crescimento muito grande. Resta, agora, convencer os que não estão convencidos das propriedades curativas da água para tal e aqui o Aquavalor tem um papel importante. Aliás, não nos podemos esquecer que os nossos recursos endógenos estão muito ligados à água até porque a cidade de Chaves nasceu por causa da água.

Recuando novamente a 2017, houve uma grande polémica em torno do Jardim do Bacalhau. Nessa altura, mandou parar as obras.

Chaves afirmou-se com aquilo que são os seus jardins, praças e espaço público muito cuidado. A verdade é que os anteriores executivos destruíram esses espaços. Na minha perspetiva foi destruído o espaço do Jardim das Freiras, foi destruída uma praça importante de fronte para o Palácio da Justiça, deixando de ser um espaço de jardim para ser um espaço de espetáculos, e estava em execução, em 2017, uma solução para o Jardim do Bacalhau. Entendi, na altura, que a solução era inadequada e indesejada porque o que estava previsto era construir um centro de convívio. O que estava em causa não era a necessidade de se fazer um centro de convívio, que aliás, acabou por ser feito, mas sim o local escolhido. Antes de tomar posse desenvolvi algumas diligências para que a empreitada pudesse ser sustida. Mandámos parar a obra, revogámos o contrato da empreitada e do lado do empreiteiro tivemos uma postura absolutamente digna e séria, o que se traduziu num impacto financeiro muito reduzido, tendo sido pago apenas o trabalho que tinha sido feito, não foi pedida nenhuma indeminização. Depois, desafiei os jovens arquitetos a fazerem um projeto que obedecesse a duas coisas: que respeitasse a memória e que lhe desse modernidade. O projeto foi apresentado à população e tivemos, seguramente, 200 contributos dos nossos cidadãos. Depois das devidas alterações o projeto foi contratualizado e hoje temos um jardim completamente diferente, provavelmente o mais bonito da cidade neste momento.

Mas há mais polémicas, por exemplo, a questão do canil.

Não considero bem uma polémica. É sabido que Chaves não tem, nem nunca teve resposta adequada para recolha de animais de companhia. Essa responsabilidade é, em primeira linha, do município. Houve um contributo importante da sociedade civil, neste caso de uma associação de defesa dos animais que, no âmbito de uma iniciativa do anterior executivo, o chamado orçamento participativo, deu a ideia de ser feito um canil. A verdade é que o executivo criou o orçamento, mas não lhe deu tradução porque não afetou o dinheiro, mas não foi o único caso em que isso aconteceu. Se o município prometeu, tem que cumprir, independentemente de quem esteja no executivo e nós decidimos cumprir esta promessa. Depois de conversarmos com especialistas, decidimos avançar com a construção não de um canil, mas um centro de recolha oficial, para recolher os animais e poder prestar-lhes, também, algum tipo de serviços como cirurgias ou esterilização. O anterior projetista foi contactado para reformular o projeto, um processo que demorou mais do que o previsto. Eu queira ter aberto o concurso em dezembro, mas só foi possível fazê-lo agora. A verdade é que tenho andado a cumprir promessas de outros.

Nuno Vaz é presidente
da câmara municipal de Chaves desde 2017

Vou aproveitar a deixa para terminar com uma provocação. Em 2017, o seu slogan era “Acordar Chaves”. Sente que Chaves acordou?

É evidente que Chaves acordou, mas há algumas pessoas que ainda estão desatentas. A maioria dos flavienses, não estando a dormir, percebeu que quem estava a dormir era quem os liderava porque o lema não era dirigido à população, uma mensagem que tentaram passar na altura. O que eu estava a dizer é que os dirigentes estavam a dormir e era preciso acordar aqueles que adormeciam e isso só era possível com novos interpretes e penso que esses  estão bem despertos e bem atuantes. Felizmente, hoje em dia, na Câmara Municipal, na Escola de Enfermagem, na CIM, na ADRAT, na Misericórdia, enfim, na maior parte das nossas instituições, acho que se respira e se sente a cidade. Eu acho que a cidade, em 2017, estava desarrumada. Tínhamos uma cidade cansada, gasta e quem a visitava dizia que a cidade parecia envelhecida, que não gostávamos dela. A esse nível penso que conseguimos melhorar com grandes intervenções nas vias, nos passeios, nos espaços verdes, mas ao mesmo tempo foi possível melhorar a questão da higienização, da limpeza e do asseio. Hoje, quem chega a Chaves, vê uma cidade mais arrumada, mais organizada, mais atrativa, que inspira modernidade, futuro e esperança.

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