Touriga nacional, tinta barroca, castelão, sousão e alvarinho são algumas das dez castas portuguesas que viajarão até Minas Gerais, numa iniciativa que servirá para melhorar a sua produção vinícola. A cooperação entre a UTAD e a Fundação de Amparo à Pesquisa daquele estado tem ainda programadas experiências ao nível da produção de cortiça e de azeite, em território brasileiro
A “efectiva aproximação das duas comunidades científicas”, “o estabelecimento de protocolos de investigação” e a “necessidade de alargamento da cooperação a mais do que as seis áreas identificadas inicialmente” são três das conclusões da Cimeira Luso–Brasileira de Ciência e Tecnologia que, realizada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), entre os dias 19 e 23, motivou, entre outros projectos, a “permuta de material vegetal” que, na prática, numa primeira fase, vai levar castas portuguesas para os campos vitícolas de Minas Gerais e trará o estudo das frutas tropicais até Vila Real.
“Ainda este ano, o material deverá ser enviado para o Brasil, para que seja iniciado o plantio em duas áreas distintas de Minas Gerais”, explicou Murillo de Albuquerque, investigador da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais (EPAMIG), sublinhando que as dez castas escolhidas serão acompanhadas por um enólogo que, durante um ano, dará formação aos pesquisadores brasileiros que, por sua vez, também se deslocarão à UTAD, para aprenderem técnicas de análises de vinho.
As castas envolvidas no projecto (touriga nacional, tinta barroca, bastardo, touriga franca, castelão, sousão, alvarinho, fernão-pires, loureiro e viozinho), segundo o mesmo responsável, foram escolhidas por investigadores da UTAD, tendo como objectivo da “busca de vinhos de maior qualidade”, e os primeiros resultados deverão ser “saboreados” em 2010.
Tendo em conta o facto de o Brasil não ter castas autóctones, com essa troca de experiência o objectivo final é “substituir, gradualmente, as castas americanas e apostar, cada vez mais, nas castas europeias, nomeadamente nas portuguesas”, adiantou Murillo de Albuquerque sobre a produção vitivinícola brasileira que ocupa, actualmente, 70 mil hectares do país, sendo de realçar que Minas Gerais é o segundo estado produtor de vinho, depois de Rio Grande do Sul.
A cooperação na área das ciências agrárias vai estender-se a outras produções, com a realização de pesquisas no cultivo de sobreiros e oliveiras, no solo brasileiro, e, ainda, com o estudo de produção de frutas tropicais, como banana e manga, na Universidade transmontana.
“Com esta cimeira, abrimos portas para descobrir outras áreas, outras potencialidades comuns”, sublinhou José Geraldo Drumont, Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), realçando a “velocidade incrível” com que os contactos e as parcerias foram estabelecidas e considerando a UTAD como “um núcleo irradiador” da ligação entre a fundação brasileira e Portugal.
Mário Neto Borges, Director Científico da FAPEMIG, salientou a importância da cooperação entre as duas fundações, como forma de “travar” o domínio tecnológico, científico e económico exercido pela China.
“Esta cooperação pode expandir-se para o Brasil, com Portugal, e para toda a América Latina, com a Europa”, para, através de um esforço comum, “inverter a invasão chinesa”, sublinhou o mesmo responsável, adiantando que, através das relações com a UTAD, estão a desenvolver-se, ainda, vários projectos em áreas como o Desporto, as Engenharias, a Saúde, a Biotecnologia, o Meio Ambiente e os Recursos Naturais.
Uma das principais conclusões retiradas desta primeira Cimeira Luso-Brasileira de Ciência e Tecnologia foi a certeza da realização de uma segunda edição do encontro, desta feita, no estado brasileiro de Minas Gerais.
Maria Meireles