“Dentro de dois a três anos, se a situação do aumento dos combustíveis não se inverter, cerca de 50% das pequenas empresas da região não irá sobreviver”. Esta dura constatação é assumida pelo Presidente da Associação Comercial e Industrial de Vila Real, ACIVR, Fernando Cardoso. A contínua e desenfreada subida dos preços dos combustíveis estão a fazer mossa no tecido empresarial e comercial de Trás-os- -Montes e Alto Douro. De Norte a Sul do distrito, os efeitos já se fazem notar.
As Associações Comerciais começam a sentir o eco dos seus associados. Em agenda, pode estar, mesmo, uma reunião com o Governo, para a adopção de medidas que visem minorar os efeitos de uma “grave crise comercial que se adivinha”. Por outro lado, a ANAREC reconhece, na Região Norte, uma redução de cerca de dez por cento no consumo de combustíveis.
O Nosso Jornal “tomou o pulso” ao efeito que já está a ter a escalada de preços, junto da actividade comercial e, também, do consumidor.
Fernando Cardoso traçou um cenário pouco animador, quanto ao evoluir da situação.
“O tecido empresarial do Norte, há mais de dois anos, fazendo fé em estudos já divulgados, está falido, não tem sustentabilidade nem autonomia e vai vivendo de balões de oxigénio. Esta escalada nos preços dos combustíveis é a machadada final, sabendo-se de que os primeiros a pagar a crise são os pequenos comerciantes e industriais. Os reflexos desta situação são imprevisíveis. Constato que os comerciantes não têm caixa para aguentar tanto e a sua sobrevivência pode estar em crise. Alguns vão mantendo a capa, graças a muito esforço e ao endividamento crescente. Por este andar, julgo, mesmo, que mais de metade do tecido empresarial de Trás-os-Montes e Alto Douro, daqui a três anos, desaparecerá”.
O dirigente da ACIVR aproveitou para abordar, em termos gerais, a crise universal que está a começar. “Implicações terríveis, nos mercados, podem acontecer. A indefinição das reservas da OPEP e o esgotamento das reservas da Arábia Saudita são sinais de instabilidade de preços. Julgo mesmo que, por este caminhar, o preço do barril do petróleo atingirá, ainda este ano, os 200 dólares. Pena é que Estados com alegadas economias saudáveis, como são os Estados Unidos, não tenham pensado em energias alternativas, nomeadamente no hidrogénio, o combustível mais abundante no planeta. Mas é claro que, por detrás destas opções, tem havido os seus interesses económicos”.
O Presidente da Associação Comercial e Industrial dos Concelhos de Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião e Mesão Frio, Pedro Brás, traça, também, muitas dificuldades para o comércio duriense.
“O aumento dos combustíveis é preocupante e pesa sempre para o lado das despesas dos comerciantes. Estamos numa região onde a mobilidade assume importância nos contactos comerciais e estes sinais nada fazem prever de melhor, antes pelo contrário. Crescem as dificuldades, perda de competitividade das empresas e, depois, falta de poder de compra. Assim, estamos no limiar de uma crise sem procedentes, no comércio da zona de Trás-os-Montes e Alto Douro. A área de influência da ACIR tem especificidades próprias, dados os contactos comerciais, onde o sector vinícola tem um grande impacto e mobilidade. Com esta subida, não sei onde vamos parar. Urgem medidas urgentes de apoio, para o sector”.
A subida de preços afecta, também, entre outros, os transitários (empresas ligadas ao transporte comercial) e os taxistas. Actividades que sentem directamente na pele qualquer alteração de preço. Também a população, em geral, e quem precisa do automóvel, para trabalhar, sente o mesmo. Desde o Algarve a Trás–os-Montes, as queixas são comuns, contra a subida dos combustíveis.
Apurámos, junto de uma fonte bem colocada da Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis (ANAREC) que, ao nível da Zona Norte e, mais propriamente, no Distrito de Vila Real, o consumo de combustíveis está a descer.
“Em gasóleo, gasolina e gás, as taxas rondam uma quebra de 10% e a tendência é para continuar. As pessoas começam a poupar, têm cuidado com os seus gastos e, com estes aumentos, as restrições são evidentes” – acrescentou.
Como é público, esta Associação considera inaceitáveis os aumentos nos combustíveis, sendo esta a 14.ª subida nos preços, desde o início de 2008. Os preços anunciados são mesmo vistos como “pura especulação”, por parte das petrolíferas.
Os revendedores de combustíveis querem voltar a reunir com o Governo e pedem para que o Executivo baixe o imposto sobre os produtos petrolíferos, responsável por 9,3 por cento das receitas fiscais.
Almeida Cardoso