Segunda-feira, 13 de Janeiro de 2025
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“Complexo do Seixo”, uma obra “marcante” para Vila Real

Segundo a Câmara Municipal de Vila Real, até ao final do primeiro semestre será inaugurado o Pavilhão Desportivo do “Complexo do Seixo”, e ainda este ano terá início a construção do Terminal Rodoviário. No entanto, o ‘sonho’ já está bem visível aos olhos dos vila-realenses, numa infra-estrutura contemporânea, rosto de uma “nova centralidade” da cidade. Em entrevista exclusiva ao Nosso Jornal, Pedro Miguel Rodrigues Santos Pinto, arquitecto responsável pelos três projectos que constituem o “Complexo do Seixo”, revelou as principais preocupações, ao nível infra-estrutural, de uma obra de milhões e que cuja realização representa o culminar de um longo, complexo e polémico processo, mas que promete também ser motivo de orgulho para a capital transmontana.

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VTM – Foi o responsável pela globalidade do projecto do Complexo do Seixo (pavilhão e terminal rodoviário)?

PP – O projecto do “Complexo do Seixo” é composto por uma equipa multidisciplinar de engenheiros, arquitecto paisagista, topógrafos, estando a meu encargo a totalidade do projecto de arquitectura (terminal rodoviário, pavilhão desportivo e parques de estacionamento).

 

VTM – Como classifica o estilo arquitectónico utilizado?

PP – O resultado final de um projecto de arquitectura deriva de um processo de aprendizagem e comunicação entre os diversos intervenientes, sendo determinado pelo local e pensado para resolver uma situação concreta e única.

Acabamos por ter uma obra de carácter contemporâneo, marcante para a cidade de Vila Real e com o “seu estilo próprio”.

 

VTM – Como é possível combinar infra-estruturas de finalidade tão distinta (desporto e central de camionagem) num mesmo projecto, numa mesma área?

PP – A localização do “Complexo do Seixo” revelou-se, por parte das entidades decisoras, uma opção (na minha opinião) acertada, encontrando-se numa área que, sendo uma entrada de Vila Real, é caracterizada pela sua centralidade na organização da cidade. A conjugação destas valências (terminal e pavilhão) traduz-se num grande movimento de afluência de massas populacionais, permitindo desta forma potenciar o uso do pavilhão quer em situações de treinos, quer em situações de jogos.

A facilidade e rapidez em alcançar estes pólos dinamizadores revelam-se hoje como fundamentais para a vivência destas obras de utilização pública.

 

VTM – Quais foram as principais preocupações quando idealizou o projecto?

PP – Sem dúvida o respeito pelo erário público, realizando um conjunto de edifícios para serem usufruídos com baixos custos de manutenção e longo período de durabilidade, sem no entanto descuidar a qualidade da solução obtida como produto final.

 

VTM – Quais as suas principais características?

PP – A solução encontrada, na sua globalidade, procura uma linguagem arquitectónica simples, com uma geometria linear interrompida por pequenos apontamentos focais e reforçada por arranjos paisagísticos cuidadosamente planeados.

Outra das características são os vários elementos personalizados, destacando-se o papel da Globaldis (empresa especializada na comercialização e distribuição de produtos de madeira e derivados), responsável por divisórias envidraçadas, portas e mobiliário que foram desenvolvidos e aplicados de acordo com as especificidades do empreendimento, tornando-o assim único e contribuindo para a sua funcionalidade.

O resultado final do projecto, com as suas polivalências, é caracterizado pela intenção de aproximar a população à actividade desportiva, facilitar e dignificar o sistema de transportes, ao mesmo tempo que pretende alcançar uma nova forma de utilizar este espaço na cidade.

Esta intervenção permitiu também a criação e alteração das vias de circulação imediatas, trazendo um novo dinamismo e uma nova qualidade às mesmas.

 

VTM – No que respeita ao pavilhão, quais serão as suas potencialidades?

PP – Para além da dinamização do local já mencionado, o pavilhão desportivo possui uma grande polivalência dos espaços criados, traduzindo-se na possibilidade de usar o pavilhão de forma contínua, com situações de treino, situações de jogos oficiais, e o grande átrio de recepção do público numa área de exposições.

Reforçando todas estas potencialidades, existe também um espaço para ginásio que servirá as diversas modalidades, e o qual poderá ter uma utilização totalmente independente dos campos de jogos.

 

VTM – Existem traços inovadores no edifício? Quais?

PP – O elemento mais marcante neste pavilhão é o seu grande envidraçado virado em direcção à Serra do Alvão, proporcionando assim no campo de jogos uma iluminação muito homogénea e constante ao longo do dia, eliminando também reflexos incomodativos para quem está nas bancadas a assistir e para os atletas, valorizando ainda a paisagem natural que se vislumbra no horizonte.

 

VTM – E em relação ao terminal rodoviário?

PP – O terminal rodoviário caracteriza-se por uma grande permeabilidade por parte dos seus utilizadores, havendo uma continuidade entre os passeios exteriores e o interior do edifício, reforçado pela possibilidade da recolha automática das grandes portas envidraçadas sempre que as condições climatéricas o permitam.

A mudança do edifício, ora fechado, ora aberto, cria uma optimização entre a ventilação natural e a climatização mecânica, tornando-se assim um sistema eficiente em termos energéticos e ecológicos.

A utilização de um elemento de água com movimento, associado à sua colocação num ponto influenciado pelos ventos locais, permite equilibrar as condições de humidade atmosférica existentes no interior do terminal.

Pelo facto de um dos pisos do terminal rodoviário ser enterrado, desenvolveu-se também um conjunto de soluções nos arranjos exteriores imediatos, que anulam a sensação psíquica ao utilizador de se encontrar num espaço fechado.

Ao nível da gestão do movimento dos autocarros, foi desenvolvido um sistema de controlo, temporização e aparcamento dos mesmos, permitindo uma leitura muito imediata pelos utilizadores e uma gestão eficiente dos espaços destinados aos veículos.

 

VTM – Fala-se muito de organização urbanística (ou da falta dela) em Vila Real. Como foi feito o enquadramento dos projectos na zona da cidade onde está inserido?

PP – O “Complexo do Seixo” teve como ponto de partida uma localização estratégica definida pela autarquia, complementado graficamente por um projecto de loteamento balizando a implantação dos edifícios, os arruamentos e a organização do espaço.

Esta intervenção acaba por ocupar um terreno que se encontrava vazio, numa área urbana consolidada e densificada, equilibrando assim o conjunto do existente com esta nova operação urbanística e, ao mesmo tempo, originando, como anteriormente mencionado, uma nova centralidade para a cidade de Vila Real.

 

VTM – Poderia falar um pouco sobre a sua experiencia/currículo…

PP – Formei-me em Arquitectura em 1998 pela Universidade Lusíada do Porto, tendo, imediatamente, começado a trabalhar em Vila Real, sob a alçada dos “Arquitectos Pioledo”, nos quais permaneci durante aproximadamente três anos, colaborando directamente com o grupo e destacando os arquitectos António Belém Lima e Albino Teixeira, que considero como sendo os meus principais mentores na definição da minha postura profissional.

Os dois anos seguintes foram definidos por uma série de experiências pessoais, desenvolvendo trabalhos na área de Marco de Canaveses e Porto.

Entretanto, ingressei na Construtora San José, onde desenvolvi um trabalho dirigido em exclusividade às obras e sua construção, desempenhando um papel de apoio aos engenheiros directores de obra e fazendo a interligação entre o que estava a ser construído e os arquitectos responsáveis pelo projecto, tendo este facto contribuído para uma grande valorização profissional, no que diz respeito aos conhecimentos adquiridos em obra.

Recentemente tenho-me dedicado, em exclusividade, à área de realização de projectos de arquitectura e respectivo acompanhamento de obra, com Ateliê próprio, aberto em Vila Nova de Gaia.

 

VTM – A sua assinatura está em outros edifícios construídos em Vila Real, no distrito, ou na região transmontana?

PP – Existem diversos edifícios nestas condições, embora sejam como colaborador. Destaco os seguintes, por exemplo, o Conservatório de Música de Vila Real, a Biblioteca de Vila Real, o Instituto de navegabilidade do Douro (Peso da Régua) e a ampliação dos Paços do Concelho de Boticas.

 

VTM – Como vê o crescimento urbanístico da capital de distrito nos últimos anos

(aspectos positivos e/ou negativos)?

PP – Nestes últimos anos, temos assistido a um crescimento equilibrado, com a criação de novas infra-estruturas viárias de acesso, com a oferta de novos serviços e locais de lazer, com o papel fundamental da UTAD como pólo de formação superior e de investigação científica, com provas dadas em alguns sectores estratégicos, como a agricultura, a vitivinicultura e a floresta… todos estes factores conjugados harmonizaram este desenvolvimento.

Penso que será interessante, numa aposta futura, valorizar as ligações com Espanha, o que poderá acarretar um crescimento a todos os níveis, referidos anteriormente, abrindo uma série de novas oportunidades.

 

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