Sábado, 7 de Dezembro de 2024
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Condes de Leça de Passagem por Vila Real

Apesar de reconhecer o valor das duas peças, Fernando Costa nunca pensou que a sua aquisição poderia colocar o nome do seu antiquário e da cidade de Vila Real no centro das atenções do mundo da arte. Mas, a verdade é que a ‘passagem’, lamentavelmente efémera, pela capital de distrito transmontana, rumo a Espanha, valeu o reconhecimento dos estudiosos e entendidos sobre antiguidades e arte antiga. Pelo menos até ao final de Maio, estão expostos no antiquário de Fernando Costa, comerciante de antiguidades e obras de arte de Vila Real, dois retratos dos condes de Leça assinados pelo pintor Veloso Salgado e que, em breve, poderão despedir-se do nosso país.

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“Sou avaliador judicial e particular de antiguidades e obras de arte e numa dessas avaliações acabei por adquirir um recheio de várias peças aos herdeiros dos condes de Leça, entre as quais os dois retratos”, recordou Fernando Costa, admitindo que, apesar de reconhecer o valor das pinturas, estava longe de antever “o impacto e interesse” que teve no mundo da arte antiga.

O antiquário comprova o reconhecimento com uma reportagem assinada por Anísio Franco, director do Museu Nacional de Arte Antiga, publicada na edição de Maio da revista “L+Arte”. “Estou orgulhoso por se falar das minhas peças e da minha cidade”, sublinhou Fernando Costa, recordando que a reportagem surgiu quase por acaso, quando um jornalista, colaborador daquela publicação, passou pela loja e reparou nas duas pinturas.

“Aparentemente, trata-se de mais um quadro de retratos daqueles convencionais, que boa parte da aristocracia mandou fazer para eternizar o seu fácies, com intenção de fazer-se reconhecer pela futura descendência. Infelizmente, este vaidoso desejo saiu, na maioria das vezes, gorado, já que é a própria descendência que, por não ter ligação alguma a esses antepassados, se desfaz deles, colocando-os no mercado”, explicou Anísio Franco, no artigo publicado na L+Arte, sublinhando ainda que, “por sua vez, os antiquários adquirem-nos, amiúde, não pelo valor da pintura mas para lhe retirarem as molduras e usá-las noutras obras mais rentáveis”.

Uma triste realidade que não acontece na loja do antiquário vila-realense, pelo contrário, poucos dias antes de adquirir o casal de condes, Fernando Costa começou a fazer contactos e a receber propostas, estando mesmo já “reservadas” as duas obras artes, que deverão assim ter como nova morada paredes espanholas.

Apesar de não avançar o valor exacto da transacção, o comerciante de arte afirma apenas que os dois retratos valem vários milhares de euros pela dupla importância de retratarem duas importantes figuras na história nacional e terem sido pintados por Veloso Salgado, um pintor com alta cotação no mundo da arte.

Com mais de 16 anos de experiência e contando, actualmente, com três lojas em Vila Real (na Avenida 1.º de Maio) e outra no Porto, Fernando Costa explica que a crise não tem afectado o comércio de arte muito valiosa. “Nunca vendi tanta arte” garantiu o antiquário sublinhando, no entanto, que, no que diz respeito a obras ou peças de pouco valor já não se pode dizer o mesmo. “Quando se fala de arte, pode-se falar em valores que vão desde os 500 ou 600 euros. O comércio desse tipo de arte, como pintores sem nome na praça ou meras peças decorativas, está a sofrer bastante”, revelou.

“Quanto melhor for a peça, menos tempo permanece na loja, a maior parte vendem-se de um dia para o outro”, foi exactamente o que aconteceu com as duas pinturas. No entanto, Fernando Costa garante que, a confirmar-se o negócio, exigirá sempre a permanência dos Condes de Leça em Vila Real pelo menos até ao final de Maio, para que quem tiver interesse ou apenas curiosidade, possa apreciá-las.

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