Antes de correr em casa na sexta ronda do WTCR – Taça Mundial de Carros de Turismo da FIA apresentada pela OSCARO, o piloto Honda da KCMG explica porque voltou e o que significa estar de volta à competição.
Eurosport – Quão entusiasmado estás por voltar a correr nas ruas de Vila Real?
Tiago Monteiro – É, obviamente, muito emocionante estar de volta. No ano passado, estive em Vila Real como turista apoiando a equipa e foi algo frustrante. Estar de volta, em primeiro lugar, significa que estou mesmo de volta. Em segundo lugar, conduzir em Vila Real frente aos meus fãs, na “minha” prova é algo muito especial. É muito difícil explicar a sensação e o sentimento que sinto com todo o apoio que recebo, mas é incrível. Além disso, temos esta pista fantástica, muito exigente e tudo isto se combina para fazer deste, um evento muito especial. As coisas não têm corrido bem desde as corridas em Marraquexe. Mas temos trabalhado duro para recuperar e não vamos desistir. Sabemos o que precisamos melhorar e continuaremos a trabalhar nisso.
Dado tudo o que passaste, não apenas no acidente, mas também no período de recuperação, porquê voltar?
Foi o objetivo que persegui durante um ano e meio. Eu passei por momentos difíceis e tive que trabalhar muito para os superar. Houve também muitos pontos de interrogação. Poderei voltar? Se for possível, em que nível estarei? Vale a pena voltar se eu não estiver num bom nível? Todas essas perguntas precisavam ser respondidas e a cada passo que eu dava as respostas foram surgindo. Mas o principal para mim, uma vez que recebi o "ok" dos médicos para voltar, foi sentir se estava pronto. Será que quero fazer isto? Esta foi a decisão chave. Mesmo se os médicos dissessem que eu estava bem, quereria eu realmente correr o risco de novo? Mas eu queria muito isso. Teria sido muito mais fácil ficar em casa, retirar-me depois de 20 anos de corrida, mas sou apaixonado pelo desporto. Eu sinto que sou um privilegiado por fazer o que amo.
Quem te ajudou a tomar a decisão?
Lembro-me muito bem quando estava nos EUA, onde passei muito tempo durante o meu processo de recuperação. Lembro-me bem de algumas manhãs em que acordei e pensava em parar. Não aconteceu muitas vezes, mas em algumas pensei realmente que era melhor parar. Depois do café da manhã, mudava a minha forma de pensar: "eu não vou parar". Na manhã seguinte, acordava tão motivado que não havia como parar. Foi uma montanha russa de emoções. Não foi uma decisão fácil. Eu falei com muitas pessoas. Claro, no meu círculo mais chegado de pessoas, discuti todas as opções, falei com muitos pilotos, amigos meus no WTCR, noutros campeonatos, pessoas que são experientes e em quem confio e que sei que me entendem. Os conselhos que recebi eram 50/50, por isso não foi uma decisão fácil. Mas resolvi voltar ainda assim.
Conta–nos sobre este apoio que recebeste desde o acidente, não apenas da tua família em casa, mas no paddock
Eu tenho muita sorte por vários motivos. Tenho sorte de ter sobrevivido a este acidente, sorte de ter recuperado. Graças a toda minha família, amigos, fãs, à família do automobilismo, à família WTCR… O impacto que tiveram na minha recuperação foi enorme. A maior parte da minha recuperação foi graças à minha força mental. Claro, se tivermos uma lesão que não tenha forma de ser recuperada não há força mental que valha. Mas se houver algo recuperável, a velocidade com que isso acontece depende da nossa cabeça. Eu tive muito apoio em casa, muito apoio dos meus amigos. No verão passado lembro-me quando estava perto de ter o ‘ok’ dos médicos, foi a hora em que eu precisava de tomar a decisão final de voltar ou não. Todo esse apoio teve um impacto na minha decisão, porque não queria dececionar as pessoas. Claro, se eu dissesse que ia parar, ninguém teria ficado chateado ou guardaria rancor contra mim, mas eu não queria dececionar essas pessoas.
Qual foi a lição mais importante que aprendeste durante a tua recuperação?
Eu vejo muitos pontos positivos do meu acidente. Fez-me descobrir coisas novas, forçou-me a descobrir a vida em geral e a rever a minha abordagem à vida e às corridas. Voltei a trabalhar em algumas coisas mais básicas com o meu engenheiro e os meus mecânicos, queria perceber os detalhes como não fazia há 10 anos. Eu quis reaprender tudo, quis voltar a ver tudo de novo. Mas se eu tiver que escolher a lição mais importante, é aproveitar e ter prazer naquilo que fazemos, mesmo que seja algo que fazemos como uma rotina. Tudo pode desaparecer de forma rápida.
O início da temporada levou–te a Barcelona para o teste oficial. foi difícil guiar no circuito onde sofreste o acidente?
Naquele momento estava a encerrar um capítulo. Quando passei naquela curva fiz questão de -lhe apontar um dedo. Depois não pensei mais nisso. É engraçado como o Cérbero esconde as recordações que não queremos relembrar. Não estou a fazer um esforço para não me lembrar do que aconteceu, o meu cérebro faz isso automaticamente.
Voltaste para enfrentar uma das grelhas mais difíceis da história dos turismos. Como é fazer parte disso?
Estou a competir contra os melhores. Este ano, temos um grid incrível, com muitos campeões, muitos jovens talentosos. Eu ficaria muito chateado se só estivesse a assistir de fora. Embora seja difícil, prefiro estar aqui do que em casa.
O Honda Civic Type R TCR também é um carro diferente comparado à versão de WTCC que guiaste antes. Como foi a adaptação?
Eu gostava dos TC1, porque eram nervosos e agressivos… não era um carro fácil. O TCR é um carro de turismo mais natural, mais fácil. Como em todas as categorias, é difícil atingir o último limite, mas é muito fácil alcançar um bom limite e podemos ter muitos pilotos a bom nível. É fácil ultrapassar com este carro. Muitos erros acontecem quando estamos a forçar demasiado. Nos TC1 não era fácil ultrapassar porque precisàvamos de nos esforçar muito para chegar ao limite, que era o que eu gostava mais. No final, como piloto profissional, tenho de me habituar o mais rápido possível. É apenas um carro de turismo.