Elementos da “Alter Ibis” – Associação Transfronteiriça para o Desenvolvimento foram à comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto defender a preservação da Panreal e alertar para o risco de demolição, com vista à ampliação de uma superfície comercial daquela cidade.
Laura Afonso, viúva do artista e arquiteto, considerou todo o processo que envolve a panificadora como “estranho”, referiu que o estado de degradação do edifício se deve também a um “ato clandestino de demolição” e aproveitou para lamentar a decisão da Câmara de Vila Real de não classificar a panificadora como imóvel de interesse municipal.
Uma decisão que foi tomada depois de também a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) ter arquivado, no ano passado, o procedimento de classificação para Imóvel de Interesse Público, proposto por um grupo de cidadãos, considerando que o edifício já não reúne características para uma classificação de âmbito nacional.
“Nós o que pretendemos é que o edifício seja conservado. Lá dentro, depois, podem fazer o que quiserem, mas a fachada, o edifício no seu todo, merece ser reaproveitado”, afirmou Laura Afonso.
Mila Simões de Abreu, investigadora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e que integra também a associação, destacou que a Panreal "foi desenhada pelo lápis mágico” de Nadir Afonso, chamou a atenção para a “obra reduzida” a nível da arquitetura que existe com a sua assinatura e considerou a panificadora como “um espaço de memória”.
A panificadora de Vila Real foi construída em 1995, ano em que Nadir Afonso abandonou a arquitetura para se dedicar por inteiro à pintura.
Os deputados foram unânimes na defesa do património de Nadir Afonso.
“Vamos fazer tudo aquilo que estiver ao nosso alcance para que esse património possa ser preservado. Penso que é uma matéria que não dividirá os grupos parlamentares, estamos todos unidos neste desejo de preservação do património de Nadir Afonso”, afirmou, no final da audição, a presidente da comissão, Edite Estrela.
O social-democrata Luís Pedro Pimentel referiu que o PSD tentará “ajudar em tudo o que for possível”, enquanto Luís Monteiro, do BE, frisou que, para além de “impedir a demolição” é “preciso preservar o que existe”.
Apesar da legislatura estar a acabar, Ana Mesquita disse que o PCP vai insistir com o Governo para que “haja uma clarificação” sobre este processo.
A panificadora de Vila Real esteve em funcionamento até à década de 90 do século passado, altura em que entrou em falência, tendo estado desde então ao abandono.
Este edifício é similar ao da panificadora de Chaves, construída em 1962 e classificada como imóvel de interesse municipal. Os dois imóveis marcam a carreira de Nadir Afonso, por serem os seus últimos projetos de arquitetura.