“Há alguém que precisa de mim e eu estou aqui por esse alguém, que são os meus conterrâneos durienses. Sou cidadão e não posso ser indiferente à vida dos meus concidadãos, não devo e nem posso ser indiferente. Como cristão, sinto-me irmão daqueles que sofrem e tenho a obrigação de estar com eles”. O padre Luís Marçal vincou que não está associado a qualquer partido político, mas que está ligado à questão humana, de solidariedade, fraternidade e de fé. “Aquilo que contribuiu para esta grave crise económica e social que se vive na Região Demarcada do Douro não foram as políticas partidárias, mas sim a política económica dos euros. Os euros que tilintam nos bolsos daqueles que vão enriquecendo à custa de nós todos”, sublinhou.
Afirmou ainda que as desigualdades sociais que existem no Douro não têm razões de existir. “Como disse o Papa João Paulo II, a terra pertence a Deus mas foi dada ao conjunto dos homens. Deus não quer o esbanjamento de uns e a miséria de outros. No Douro, há montes que estão a ser saibrados para vinha, quer dizer que o vinho hoje dá para alguns, mas também há vinhas abandonadas, ou seja, para outros a vinha já não dá rendimento”.
Este elemento do clero deixou claro que a cultura e o turismo não chegam por si só para combater assimetrias sociais no Douro. “Há actividades que são desenvolvidas mas que não tem resultado, como as actividades culturais e turísticas, que são importantes, mas complementares. Nestas actividades todas, turísticas e culturais, há aperitivos muito simpáticos, muito saborosos naturalmente, mas o prato único que é a vinha, não aparece”.
Para o padre Luís Marçal, a solução passa pelo diálogo entre todos os agentes. “Não tenho competência, mas posso sugerir passos para se eliminar estas desigualdades. A nossa região tem organismos suficientes para gerirem convenientemente os destinos da região e pessoas idóneas para a dirigirem, o que falta é o entendimento. É preciso encurtar distâncias que impedem o encontro, é preciso definir competências, desfazer equívocos e melindres, anular amuos que isolam, é preciso que se sentem à mesa todos os organismos e os seus dirigentes. Chamo à atenção do Governo e do Ministério da Agricultura para esta situação e para o papel que a Casa do Douro poderia ter na regulação de preços. Falem todos entre si sobre a vinha e o vinho, sobre a produção, sobre a comercialização. Os produtores, trabalhadores, comerciantes, exportadores, consumidores, devem falar em conjunto para serem mais felizes e chegarem a um consenso entre todos”.
O padre Luís Marçal aproveitou ainda para agradecer publicamente o convite do Partido Comunista Português para participar neste debate público. “Não esqueço que foi pelas mãos do Partido Comunista Português que chegou à Assembleia da República o comunicado que nós, padres, já emitimos, há anos”.