Nos últimos 50 anos, a região perdeu um terço da sua população. Falar no futuro da juventude transmontana deve passar, essencialmente, pela procura de soluções para as problemáticas que mantêm uma relação directa com a desertificação, como, por exemplo, as deficientes acessibilidades. Estas e outras questões foram discutidas, durante o “Fórum da Juventude”.
Em Trás-os-Montes, existem 148 idosos, por cada 100 jovens. Este foi um dos índices que comprovam o envelhecimento da população transmontana, os quais foram apresentados no “Fórum Juventude: Presente e Futuro”, realizado, no dia 19, no âmbito da “Semana da Juventude”.
Segundo Luís Ramos, docente da Universidade de Trás–os-Montes e Alto Douro (UTAD) que focou o tema “Êxodo rural e interioridade: que futuro, para a juventude?”, a região transmontana perdeu 13 habitantes, por dia, entre 1950 e 2001, ou seja, 241.004 pessoas, o que representa 33 por cento da população.
Dos concelhos mais afectados pelo esvaziamento demográfico, o mesmo responsável sublinhou o caso de Miranda do Douro que perdeu 50 por cento da sua população, sendo de realçar que 16 dos Municípios da região de Trás–os-Montes e Alto Douro perderam, entre 30 e 50 por cento dos seus habitantes, quatro registaram uma redução entre os 50 e os 30 por cento e apenas o Município de Vila Real obteve ganhos, até 10 por cento, no que diz respeito à população residente.
Luís Ramos avançou com os indicadores demográficos contabilizados em 2001 que apontam para um índice de envelhecimento de 148,3 por cento, em Trás-os-Montes, e 113,6 por cento, no Douro, territórios geográficos que contam, segundo os últimos censos, com um índice negativo de cinco e dois por cento, respectivamente, no que diz respeito ao “saldo natural”, ou seja: a diferença entre as taxas de natalidade e de mortalidade.
Nas últimas décadas, o número de idosos duplicou, na região de Trás-os-Montes, explicou Luís Ramos, contabilizando que existem, actualmente, 165 idosos, por cada cem jovens.
Relativamente às problemáticas provenientes da interioridade que levam a que, cada vez mais, as pessoas optem por deixar a região, o investigador destacou a deficiência, ao nível das acessibilidades.
“Verificamos uma marginalização crescente dos territórios periféricos”, explicou o orador, referindo que o tempo de acesso a determinadas infra-estruturas, como, por exemplo, hospitais, escolas secundárias ou piscinas cobertas “tem uma relação directa com o nível de desertificação”.
Durante o fórum, Paulo Pomar, Delegado Distrital do Instituto Português da Juventude (IPJ) sublinhou os apoios à disposição das organizações de jovens que, no último ano, aderiram, em força, à Rede Nacional de Associações Juvenis (RNAJ).
“O distrito de Vila Real foi o que mais cresceu, ao nível do número de associações da RNAJ. Só no último ano, 15 novas associações candidataram-se à rede”, contabilizou o Delegado do IPJ, lembrando que, actualmente, os jovens têm acesso a um conjunto de apoios financeiros, técnicos, formativos ou logísticos, como os Programas de Apoio Juvenil (PAJ), Infra-estrutural (PAI) ou Estudantil (PAE).
Paulo Pomar sublinhou que, só no ano passado, foram investidos quase três milhões de euros, no distrito, dos quais dois milhões foram veiculados para a Pousada da Juventude de Alijó, adiantando, ainda, que, dentro em breve, abrirá a loja “Ponto Já” de Valpaços, a terceira do distrito.
A ausência do jornalista Júlio Magalhães que iria falar sobre o tema “Juventude e Sociedade” foi colmatada pela presença de João Baião, Isabel Angelino, Serenella Andrade e Carlos Ribeiro que se deslocaram a Vila Real para a emissão, em directo, do programa “Portugal Azul” e que acabaram por levar boa disposição ao Auditório do IPJ. “Já temos infra-estruturas com qualidade. Agora é preciso dinamizar não só os jovens mas também os idosos. É importante pensar em todas as faixas etárias, pois só assim se constrói uma sociedade melhor”, sublinhou o apresentador João Baião.
Maria Meireles