A grande maioria dos agricultores durienses está paulatinamente a empobrecer e, muitos a atingir o limiar da miséria. Sendo uma região de monocultura, esteve sempre sujeita a períodos de crise e de prosperidade. Porém, nos últimos 25 anos, a crise tem vindo a acentuar-se. O benefício (percentagem de uvas que podem ser transformadas em vinho do Porto), diminuiu drasticamente e os preços estagnaram. No ano 2000, o Douro produziu 152 mil pipas de 550 litros de vinho do Porto, vendidas a cerca de 1200 euros cada. Em 2023 foram 119 mil e a autorização de benefício para 2024 é apenas de 90 mil. As empresas exportadoras estão a oferecer ao lavrador entre novecentos e mil euros por pipa.
Já uma parte significativa das uvas restantes vão para DOC (Denominação de Origem Controlada) Douro (vinho de mesa) e, algumas empresas, não aceitaram a totalidade das uvas dos seus fornecedores habituais, ou aceitaram “sem preço” ou a duzentos euros a pipa (37 cêntimos o litro!) e, em alguns casos, não se comprometeram com datas de pagamento.
Ora, para além de ser a maior área de vinha de montanha do mundo, de difícil mecanização, com produtividade muito mais baixa que outras regiões vitícolas, os custos de produção (gasóleo, pesticidas, adubos, herbicidas, fungicidas, mão de obra), aumentaram mais de 40%, ficando a produção a cerca de 550 euros a pipa, ou seja, 1 euro por litro. Até há alguns anos o vinho do Porto cobria o prejuízo da venda abaixo do custo de produção da pipa do DOC Douro. Com o incremento a partir dos anos noventa dos DOC, havia a expectativa que as uvas não beneficiadas fossem melhor remuneradas. Tal não aconteceu, apesar de haver dezenas de marcas de DOC Douro com preços acima dos 60 euros a garrafa e mesmo acima dos 100 euros. Os grandes grupos exportadores, para além de controlarem cerca de 85% do mercado do vinho do Porto, detêm também a maioria dessas marcas DOC Douro. Simultaneamente, temos DOC Douro reservas, principalmente de adegas cooperativas, de excelente qualidade, nas prateleiras das grandes superfícies a 3 e 4 euros. Quanto sobra para o associado depois de “vestir a garrafa” (vidro, rótulos, selo, rolha, cápsula, caixa) e margem de comercialização? Os grandes grupos e outros comercializadores alegam não puderem pagar melhor as uvas, pois tem havido uma redução do consumo, que têm stock, mas, nos últimos anos, tem-se assistido à importação de vinho a granel a baixo preço (cerca de 30 cêntimos o litro), que é engarrafado ou embalado, confundindo o consumidor com topónimos ligados ao Douro como “Santa Marta” ou “Espada à Cinta”. Paralelamente, os grandes grupos têm feito investimentos de dezenas de milhões de euros em novos hotéis e no enoturismo, já para não falar dos cruzeiros que poucas mais- valias trazem, pois funcionam em circuito fechado e cujos turistas comem e dormem nos barcos, beneficiando da deslumbrante paisagem duriense “paisagem cultural evolutiva e viva” que é, desde 2001, Património Mundial da Unesco. Ironia! O Douro está na moda e na miséria!
No próximo artigo abordarei algumas medidas, que urge implementar, para minorar a grave crise que o Douro atravessa.