Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024
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António Pires
António Pires
Professor Aposentado

Douro: Miséria de muitos, prosperidade de alguns (2)

A lavoura duriense tem vindo a perder rendimento e atravessa uma grave crise. Relembro que no ano 2000 o Douro produziu 152 mil pipas de 550 litros de vinho do Porto, vendidas a cerca de 1200 euros cada.

Em 2024 foram autorizadas apenas 90 mil, com o preço a rondar os 1000 euros. Já uma parte significativa das uvas restantes que vão para DOC (Denominação de Origem Controlada) Douro (vinho de mesa). Algumas empresas não aceitaram a totalidade das uvas dos seus fornecedores habituais, ou aceitaram “sem preço” ou a duzentos euros a pipa (37 cêntimos o litro!). Em alguns casos, não se comprometeram com datas de pagamento.

Mas ironia! Ao mesmo tempo que o Douro está a caminhar para a miséria, está na moda! Para além da crescente procura dos cruzeiros no rio Douro, que funcionam em circuito fechados e que poucas mais valias trazem a região, nunca os grandes grupos investiram tanto em hotéis rurais, enoturismo e restaurantes gourmet.

Os lavradores do Douro direta ou indiretamente têm de ser remunerados por criarem e manterem esta paisagem humanizada de montanha, Património Mundial da Unesco. Ao contrário da ideia de que o Douro é constituído só por grandes quintas, dos cerca de 21500 lavradores do Douro, 9200 têm menos de meio ha e cerca de 19700 têm menos de 5 ha, predominando a pequena propriedade repartida por vários prédios.

A região demarcada e controlada mais antiga do mundo exige regulação e fiscalização apertada e o IVDP não tem estado à altura dos desafios que o Douro atravessa. Exige-se, desde já, medidas de curto e médio prazo, sem prejuízo de outras, tais como: I- Imediata destilação de crise, avançada pelo governo, das 19 600 pipas. Apesar de ser um contributo não passa de uma panaceia; II- Impedir a importação, até agora legal, de até 15% que podia ser adicionado aos Douros, com duvidoso controle e, eliminar marcas de vinhos fora da região com topónimos ligados ao Douro; III- Utilização obrigatória na vindima de 2025 e seguintes, de aguardente vínica da região na produção do vinho do Porto. Partindo do princípio que o benefício, nos próximos anos, rondará as cem mil pipas e como cada pipa leva cerca de 115 l de aguardente, seriam escoados anualmente cerca de 130 000 pipas, uma vez que, para fazer 1 litro de aguardente, são precisos 7 litros de vinho, acabando deste modo os excedentes. Não será preciso “queimar” 130 mil pipas mas, talvez, apenas cerca de 60 000 de menor qualidade, à semelhança do que se fazia até aos finais da década de sessenta. Os exportadores poderão ficar renitentes pois, até agora, têm importado a aguardente a cerca de 3 euros o litro e deste modo, remunerando o agricultor a preço justo, ficaria o litro a rondar os 7 euros. Cada garrafa de Porto encareceria 1 euro, aumento insignificante para as gamas médias e altas; IV – Apoio ao arranque de vinha pois começa a verificar-se algum abandono (vinhas de pequena dimensão, mal granjeadas ou mesmo a monte, de difícil rentabilização), com proprietários idosos, garantido deste modo algum rendimento a lavradores de fracos recursos; V- Taxa turística às dormidas nas instalações hoteleiras / AL e aos barcos-hotéis, na RDD, a reverter para a Casa do Douro que irá retomar o estatuto de representante da lavoura duriense.

Assim, devem ser tomadas medidas urgentes e, porventura algumas radicais, sob pena de a crise económica gerar fortes tensões políticas e grande instabilidade social, difícil de controlar.

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