Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024
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Drama social na Casa do Douro

No final deste mês, cerca oitenta trabalhadores privados da Casa do Douro contabilizam cinco salários em atraso. O débito já vem de Outubro incluindo o subsídio de Natal. A situação é dramática e asfixiante em termos de sobrevivência económica para muitas famílias. A Direcção espera regularizar a situação com o recebimento das quotas dos associados.

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Os Sindicatos apelam ao Governo para resolver de vez o problema financeiro da instituição. A esperança parece agora residir no novo ministro da Agricultura que já manifestou vontade de dialogar e de estudar este complicado dossier. Mas, enquanto não surge uma solução, as dificuldades vão aumentando junto dos trabalhadores da Casa do Douro (CD). Carlos Anjos, um dos trabalhadores, contou, ao Nosso Jornal, que tem sido muito difícil sobreviver com os salários em atraso. “Todos temos as nossas despesas para pagar ao fim do mês, sem falar nas despesas diárias. Isto está muito complicado. Vamos tentar aguentar até onde for possível”. Mesmo assim, este trabalhador ainda tem “esperança numa resolução” e elogia a actuação dos responsáveis da agremiação duriense. “Notamos que a direcção se tem esforçado para nos ajudar. Eles, agora, não têm meios, nem fontes de receita que anteriormente tinham, antes da retirada das suas competências”. Carlos Anjos está confiante na “promessa” do novo ministro da Agricultura que pretende avançar com uma solução até final deste mês”.

José Abraão, dirigente sindical da União Geral dos Trabalhadores, UGT, tem acompanhado toda esta problemática, cuja história se vem repetindo nos últimos anos. “Relativamente aos salários em atraso, é uma situação incompreensível. Há dramas sociais, há trabalhadores que até já saíram e outros procuraram outros locais onde possam ganhar dinheiro para subsistir. As situações mais graves são as dos trabalhadores que vão resistindo e que têm muitas dificuldades em cumprir as suas obrigações com a banca. Estamos a falar de um conjunto de 70 trabalhadores que se mantêm ao serviço, ainda com a esperança de uma solução para a Casa do Douro e para os seus problemas”. José Abraão lamentou ainda outro facto. “Não compreendo como é possível que o Governo tenha deixado chegar a situação a este ponto, depois de haver três resoluções da Assembleia da República em que se apontava para uma solução”. Reconheceu ainda o “empenho da CD” para procurar resolver o problema através de contactos com o Ministério da Agricultura.

A UGT considera que a forma de resolver este problema dos salários em atraso “passa pela viabilização da Casa do Douro enquanto instituição da viticultura duriense. Aí, o Governo deveria, no mínimo, garantir, para o futuro, algumas competências para o seu funcionamento e dotar a instituição de alguns meios financeiros para pagar os salários aos trabalhadores. Cerca de 250 pessoas (trabalhadores e as suas famílias) estão a ser afectadas com esta situação que é extremamente precária, por isso justifica uma intervenção urgente e eficaz do Governo.

Esta organização sindical já tem marcado um encontro com o ministro da Agricultura. “Já pedimos uma reunião ao senhor ministro da Agricultura, agora estamos à espera que ela aconteça para colocarmos objectivamente toda esta questão. Noto algum empenhamento e tenho esperança relativamente ao novo ministro”.

Outro dirigente sindical apreensivo com os trabalhadores da CD é António Serafim, da União dos Sindicatos de Vila Real afecta à CGTP. “A nossa principal preocupação são os trabalhadores que continuam sem receber. Há situações extremamente complicadas em termos económico-financeiros, gente que tem compromissos, a nível da habitação e das suas famílias, que não podem cumprir. Na própria Casa do Douro tem havido diversos debates sobre a situação financeira da instituição. Os sucessivos Governos não têm assumido os seus compromissos e isso leva a Casa do Douro a viver a pior crise de sempre. Não podemos ignorar que assume uma importância elevada numa região onde o sector vitivinícola é a principal actividade. Tudo isto resulta com a perda de competências da CD. Quem sofre são os trabalhadores que têm os salários em atraso, e parece não se encontrar uma solução rapidamente”.

António Serafim defende a permanência dos trabalhadores na instituição apesar do incumprimento salarial. “Nós temos aconselhado as pessoas a não se desvincularem da Casa do Douro porque, consideramos que, a sua existência não pode ser colocada em causa. O Governo tem de assumir os compromissos estabelecidos no passado com a instituição duriense”. Este dirigente da União dos Sindicatos de Vila Real garantiu que está a tentar junto da Casa do Douro resolver o “mais rápido possível a situação”, embora reconheça que, neste momento, a direcção está “muito condicionada em termos económico-financeiros”.

Quem parece não atirar a toalha ao chão é o presidente da Casa do Douro, António Santos. Confrontado com este problema avançou, ao Nosso Jornal, uma solução para o pagamento dos salários. “Está dependente do racionamento das quotas. Vamos iniciar o processo de recebimento das quotas e essa será a solução, com toda a certeza. Tudo isto irá correr bem, se os viticultores vierem pagar. Esta semana vamos emitir as facturas que vão seguir pelo correio e esperamos que os nossos associados cumpram os seus deveres rapidamente”. O responsável do organismo duriense aproveitou para expressar a “solidariedade da CD” com os seus trabalhadores. “Têm sido excepcionais na compreensão desta situação. Os nossos funcionários sabem que ultrapassados os problemas, a Casa do Douro provavelmente lhes proporcionará um futuro mais risonho. Aliás, julgo que a sua resistência assenta nesta nossa expectativa que nós não queremos defraudar”.

O novo ministro da Agricultura, António Serrano, representa também um factor que pode ajudar a desbloquear a situação de crise da CD, como sublinhou o dirigente duriense. “Foram públicas e muito claras as afirmações do senhor ministro, onde expressou o desejo de ver um futuro saudável para a Casa do Douro, pretendendo resolver todos os problemas de modo que a instituição viva em desafogo financeiro, assumindo os serviços que deve prestar aos viticultores. Essas palavras, vindas de um ministro, deram-me muita satisfação”, concluiu.

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