Ninguém estava preparado para a chegada de um vírus invisível que colocasse grande parte da população em isolamento para conseguir sobreviver, num mundo que claramente se debate com a maior ameaça desde a II Guerra Mundial (1939-1945).
Escolas, universidades, politécnicos tiveram de mudar radicalmente a forma de ensinar a geração futura e adaptar-se a uma realidade que não era desconhecida, mas que trouxe muitos desafios aos estabelecimentos de ensino.
Uma das escolas que agarrou o desafio com “unhas e dentes” foi o Agrupamento D. Sancho II de Alijó, que conseguiu fazer uma transição pacífica para o ensino à distância, apesar das dificuldades que ainda sentiram alguns alunos por falta de ferramentas informáticas, mas também por falta de cobertura de rede em algumas localidades.
A equipa de informática há muito que implementou no agrupamento a plataforma Office 365 Educação, que permite a alunos e professores uma ferramenta interessante com programas como o Word, Excel, PowerPoint, OneNote, entre outros, que ajuda a inovar num mundo global onde a tecnologia faz parte do dia a dia de milhões de pessoas.
Apesar dos condicionalismos, equipa diretiva, alunos, professores e encarregados de educação fazem um balanço “muito positivo” da experiência de 15 dias, que se deverá repetir no terceiro período letivo.
“A nossa escola já estava um bocadinho preparada para responder a uma situação como esta, porque há vários anos que utilizamos a plataforma Office 365, que permite a professores, alunos, assistentes administrativos contactar por via eletrónica, através de um registo”, revelou o diretor do agrupamento, Carlos Peixoto, realçando o trabalho desenvolvido pela equipa de CTE, que “foi inexcedível”, assim como todos os que estiveram envolvidos na dinamização do ensino à distância.
Este responsável revela que os alunos cumpriram o seu horário letivo mesmo estando em casa. “As aulas começavam às 8h25 com as disciplinas que estavam no horário e só terminavam às 17h00, do 5º ano ao 12º num universo de 700 alunos”.
O diretor revela que já foi feita uma monitoração e avaliação do que foi feito nestas duas semanas e os resultados foram “bastantes satisfatórios”. “Não foi a perfeição total, mas a taxa de frequência dos alunos foi superior a 93 por cento”, um número interessante considerando as dificuldades que ainda existem na cobertura de rede de internet em aldeias do interior. “Houve uma pequena percentagem de alunos que por falta de acesso à internet e também por não terem dispositivos móveis ou computadores não conseguiram aceder à plataforma”. Estes casos foram solucionados através do telefone, mas claramente não tem as mesmas potencialidades.
ALUNOS
A VTM falou com duas alunas que dão nota “muito positiva” ao trabalho desenvolvido pela escola numa situação tão adversa e inesperada como aquela que estamos a viver.
Margarida Ribeiro, de 17 anos, natural de Sanfins do Douro, refere que nos primeiros dois dias sentiu algumas dificuldades, que depois de ultrapassadas funcionou “muito bem”. “No início foi confusão para toda a turma, mas depois da adaptação ao sistema foi fácil, desde as aulas virtuais até ao envio dos trabalhos para os professores”.
A futura engenheira informática gostou da experiência, mas já tem muitas saudades da escola e das colegas. “Espero voltar a ter aulas presenciais. Se calhar ainda vai demorar um tempo passar esta fase difícil, mas gostava de regressar nem que fosse nos últimos 15 dias do ano letivo”.
Margarida, que é também presidente da Associação de Estudantes, frisa que ter aulas online “é muito diferente”. Antes, “todos queriam ir para casa, agora já sentem saudades de regressar à escola, como acontece comigo, que estou com muitas saudades, pois é totalmente diferente estar perto das pessoas”.
Aluna do 6º ano, Beatriz Cardoso, natural da Chã, sublinha que “correu muito bem, foi quase como se estivéssemos na escola”, exemplificando que foram feitos exercícios como na aula. “Os professores explicavam a matéria se não percebíamos e conseguia colocar as minhas dúvidas em tempo real”.
Tudo isto foi uma novidade para a aluna de 11 anos, que dá uma boa nota a este método, mas não há nada que substitua as aulas presenciais. “Prefiro ir à escola, mas como agora não posso, também gosto de aprender assim”.
PROFESSORES
Depois do Ministério da Educação ter divulgado que as escolas seriam fechadas e as aulas iriam funcionar à distância, a equipa de informática deste agrupamento, com o apoio de outros colegas, não teve mãos a medir para implementar o processo, como nos explicou o professor António Mansilha, professor de informática. “Foram três dias intensos, incluindo o fim de semana, para que na segunda-feira tudo estivesse a funcionar, através da plataforma TEAM, que absorve outras aplicações”.
Ser uma das escolas pioneiras na introdução do Microsoft 365 “ajudou muito na aplicação da metodologia”. “Claramente, uma vez que a comunidade escolar já estava praticamente toda interligada”, diz o professor, adiantando que tiveram de fazer “alguns ajustes, como a instalação de microfones ou webcams”.
Outra docente, Carla Mansilha reconhece que o processo foi “duro”, mas valeu a pena. “Foi preciso muita disponibilidade de todos. Por exemplo, para os professores é muito diferente preparar uma aula para ser dada presencialmente ou online. Mas no global acho que correu bastante bem”.
ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO
Com três filhas a frequentar o agrupamento, Cláudia Botelho, de Favaios, diz à VTM que as aulas superaram as suas expectativas. “Fiquei muito satisfeita. O facto de as minhas filhas terem tido as aulas em tempo real foi muito interessante e diferente do que aconteceu em outras escolas do país, como me contou a minha irmã, que mora no Porto, e os meus primos de Lisboa”.
No entanto, esta encarregada de educação deixa um conselho para o horário ser reformulado. “As minhas filhas gostaram da experiência, mas nada supera os alunos estarem na escola. Se tiver de continuar, o horário deveria ser reajustado, porque mais no final já começava a ser cansativo, sobretudo em disciplinas como educação visual ou educação física, que é mais difícil aplicar neste tipo de ensino”.
Por último, o diretor aproveita a oportunidade para agradecer a todos os docentes do agrupamento, que demonstraram um “enorme esforço e dedicação” para com os seus alunos, permitindo que de uma “forma diferente garantíssemos o direito universal à educação de toda a população escolar do concelho”.
Entretanto, se tem um computador a mais ou um hotspot de ligação à internet que possa emprestar, pode fazê-lo através do projeto ‘Student Keep’, em que pessoas individuais ou coletivas disponibilizam temporariamente ou permanentemente equipamento informático a alunos que não o tenham.
Mais informações no site do município ou junto do agrupamento.
António Mansilha
Professor
"Ao ser uma das escolas pioneiras no Microsoft 365 ajudou muito na aplicação da metodologia”
Beatriz Cardoso
Aluna 6º ano
"Prefiro ir à escola, mas como agora não posso, também gosto de aprender assim”
Carla Mansilha
Professora
"O processo foi duro, mas valeu a pena”
Margarida Ribeiro
Aluna 12º ano
"Estou com muitas saudades, pois é totalmente diferente estar perto das pessoas”