Sexta-feira, 24 de Janeiro de 2025
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Falcão que viajou dois mil quilómetros é tratado pelo CRAS

Mais de dois quilómetros depois de iniciar a sua primeira viagem, um jovem falcão acaba de ser transferido para o CRAS da UTAD, vítima de um disparo ilegal. A equipa deste departamento, que este ano auxiliou cerca de 350 animais, espera um final feliz rumo à natureza.

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O Centro de Recuperação de Animais Selvagens (CRAS) do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) recebeu, no dia 1, um macho juvenil de falcão-peregrino com história de fratura de um dos ossos da asa, fruto de um disparo ilegal. Anilhada no Reino Unido, a ave percorreu mais de dois mil quilómetros para chegar ao litoral norte de Portugal.

Apesar do percalço ocorrido na sua primeira grande viagem, a sorte continuou ao seu lado. Foi encontrado em Braga num estado debilitado e transportado pela equipa do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR até ao Parque Biológico de Gaia que, por não ter as condições necessárias para realizar cirurgias ortopédicas, o transferiu para o CRAS.

Filipa Loureiro, médica veterinária, explicou que “uma ave de rapina selvagem tem que estar em ótima forma para ser libertada”, o que não livra este falcão de pelo menos dois meses de recuperação naquele centro. “Primeiro, procedemos à sua estabilização e fizemos um tratamento de suporte por ele estar muito magro e sem voar há alguns dias. Foi submetido a uma cirurgia ortopédica e agora, está numa fase de internamento a fazer antibioterapia e com alimentação adequada”, disse a médica.

Quando encontrada, esta ave possuía uma anilha oficial inglesa e uma segunda de identificação, de cor amarela, com as letras “MV”. De imediato foi contactada a associação responsável pelo anilhamento, o “West Cornwall Ringing Group”, que divulgou que o falcão tinha sido anilhado, em julho, ainda no ninho, em Morvah, sudoeste do Reino Unido, tendo este percorrido mais de dois mil quilómetros para chegar ao litoral norte de Portugal.

“O nosso objetivo é devolver sempre os animais à natureza. Também vamos mantendo a associação a par deste processo. Se tudo correr bem e tivermos hipóteses financeiras, gostaríamos de marcar este espécime com um transmissor GPS, para acompanhar os seus movimentos nos próximos anos”, contou Filipa Loureiro que acredita que a recuperação tem tudo para dar certo.

O CRAS está situado na UTAD, sob gerência do Hospital Veterinário, e é o órgão responsável pelo acolhimento, tratamento e reabilitação de animais selvagens. Funciona ainda em rede com outros centros do país, através de trocas de animais ou de meios. Em 2015, foram admitidos nestas instalações cerca de 350 animais em risco, dos quais aproximadamente 80% foram aves, 14% mamíferos e 6% répteis. “As aves são mais fáceis de encontrar pelas pessoas. Quem quer que encontre um animal selvagem pode entregá-lo no CRAS, sem custos, ou chamar a equipa do SEPNA da GNR”, referiu a médica. Atualmente, estão em recuperação cerca de 40 animais, entre os quais, espécies do falcão-peregrino, açor, águia-calçada, corço, cágado-mediterrânico, ouriço, coruja-do-mato, grifo, gavião, e outras.

Quando um animal chega a este departamento, não pode ser misturado com os outros, visto a sua história ainda ser desconhecida. De acordo com Filipa Loureiro, parte dos feridos chega lá vítima de atropelamentos, colisões com veículos, disparos, eletrocussões, destruição de habitat e queda do ninho. Desta forma, o procedimento habitual é o internamento, até serem feitas as análises necessárias, seguindo-se o tratamento médico. Após esse período, passa para espaços com condições climatéricas exteriores e, numa fase gradual, para espaços ainda maiores, como o Túnel de Voo, no caso das aves. É ainda necessário verificar se os animais estão a caçar presas vivas antes de serem libertados.

De forma a promover a educação ambiental, a equipa garante que todas as devoluções à natureza são com as pessoas que encontraram o respetivo animal e, sobretudo, com crianças. A acompanhar estão palestras sobre determinada espécie e sobre o trabalho do CRAS, que é importante divulgar à população.

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