António Martinho, da organização, destacou a principal preocupação da iniciativa. “Queríamos saber se era possível criar um espaço de conhecimento e de partilha entre sítios classificados como património da humanidade. E a resposta afirmativa veio através da Cidade Velha de Cabo Verde, da geminação de Sabrosa com Cebu (Filipinas) e de Portovenere, Cinque Terre e Isole (Itália), que é uma zona vinhateira mas também com uma paisagem natural belíssima. Está dado o primeiro passo, agora temos de caminhar no sentido de promover este território, de forma a criar riqueza”.
Longe parece ir o tempo em que se falava que o Douro – Património Mundial estava em risco com a construção da Barragem do Tua, que iria interferir na paisagem e até na produção vinícola. “Já não se fala nisso, o importante é continuarmos a ter cuidado com este bem e a preservar, valorizar e promover este património que é o Alto Douro Vinhateiro”, sublinhou o responsável pela iniciativa.
Em cinco anos, a Cidade Velha, em Cabo Verde, teve um salto “brutal” no número de turistas que conseguiu captar, passando de três mil visitantes para 60 mil, o que desde logo levantou um problema da própria capacidade de resposta para acolher tantos turistas. Esse problema não se coloca ao Douro, porque ainda “está muito longe” de atingir a capacidade total de receber turistas. Num território de 250 mil hectares apenas cerca de 25 mil pertencem à zona classificada pela UNESCO, sendo por isso um território extenso para as 500 mil dormidas que o Douro tem atualmente. “É aqui que reside o maior problema, temos de aumentar o número de dormidas na região, é necessário cativar os turistas mais tempo no Douro. Para além disso, temos de trazer os visitantes durante todo o ano e não apenas na época alta”, frisou António Martinho. Apesar de o turismo sazonal ter vindo a atenuar-se com a época alta a prolongar-se até novembro, com a realização de festivais das aldeias vinhateiras, de gastronomia, entre outros eventos que se prolongam para além das vindimas, este responsável acredita que a solução passa também pela promoção da paisagem no exterior e por mostrar a beleza do Douro nas diferentes estações do ano. “Os socalcos, que os escritores descrevem, são belos, tanto no inverno como no verão, mas é preciso saber evidenciar essas características de uma região que surpreende sempre, independentemente da altura do ano em que seja visitada”.
Sobre a possibilidade de envolver a população local no desenvolvimento de toda a região duriense, a Douro Generation, como associação que tem no seu nome a partilha de saberes entre gerações, vai desenvolver atividades para pôr as diferentes gerações a partilhar saberes e a transferir conhecimento. “Este fórum foi um bom sinal, mas ainda há um caminho longo a percorrer, e esse é um desafio para a própria Douro Generation e para todos os durienses. É bom que haja estes momentos de reflexão para que os desafios se coloquem aos autarcas, às quintas, às empresas, às associações empresariais e aos empreendedores, que querem investir nesta região. Há aqui espaço para muito investimento, para criar postos de trabalho, de forma a melhorar as condições de vida das populações, para que a comunidade se sinta recompensada pelo seu trabalho cá e não sinta necessidade de emigrar”, finaliza António Martinho.
Neste debate participaram Clara Cabral, representante da Comissão Nacional da UNESCO, Sónia Ramos, representante da CCDR-N para o Alto Douro Vinhateiro, Jair Fernandes, curador da Cidade Velha (Cabo Verde), Miguel Lage, representante da Fundação Las Médulas (Espanha), Matteo Perrone, representante do Parque Nacional de Cinque Terre (Itália), e José Marques, presidente da Câmara de Sabrosa que apresentou um trabalho sobre Cebu (Filipinas), localidade geminada com a vila duriense, entre outros oradores.