A crise acentua-se no cooperativismo e a luz ao fundo do túnel continua por acender.
O Município de Alijó gastou cerca de 115 mil euros em dois estudos de viabilidade económica para as três adegas do concelho. O desejo de aglutinar todos os interesses e agrupar as cooperativas chegou até ao Primeiro-Ministro e sentou várias vezes os representantes das três adegas, porém sem qualquer êxito. Na última reunião, os intervenientes não concordaram com o modelo proposto. O presidente da Câmara Municipal de Alijó, Artur Cascarejo, exprimiu algum desencanto com este desfecho. “O Município em conjunto com o Ministério da Agricultura trabalhou com as Adegas no sentido da sua fusão. Fizeram-se reuniões com o anterior e com o actual Ministro e com a empresa que fez o modelo financeiro. O modelo foi apresentado à Direcção de cada adega. O Governador Civil também nos acompanhou, bem como os técnicos do Ministério da Agricultura. Cada adega apresentou as suas razões e decidiram fazer sozinhas o seu próprio trajecto. Inclusivamente, pagámos estudos com o objectivo de fazer essa fusão, mas na fase final, estudaram-se vários cenários e modelos, mas as adegas acabaram por não concluir o processo para a fusão. Da nossa parte, tudo fizemos para que a iniciativa tivesse sucesso”. No final da reunião, foram as próprias adegas que acharam que o modelo ainda não estava suficientemente desenvolvido, que o momento não era oportuno, tendo em conta a crise que existe. “Agora, a decisão está na mão das adegas. Para já, cada um segue o seu caminho”.
Recorde-se que, o primeiro sinal da crise que se instalou no cooperativismo do concelho foi dado pela Adega Cooperativa de Sanfins do Douro, que acabou por ser adquirida por um privado devido às dificuldades financeiras. A Adega de Alijó foi obrigada a recorrer ao “lay-off” junto dos seus trabalhadores, devido a uma quebra na venda de vinhos.
O presidente da Adega Cooperativa de Santa Marta de Penaguião, José Lopes, lembra que a sua instituição foi “a primeira na região a criar uma fusão de adegas” (Santa Marta, Medrões e Cumieira) e gostava que o exemplo fosse seguido, porém lamenta que isso não esteja a acontecer. O dirigente entende que “da parte do Governo deverá haver uma maior clarificação das regras, quais os critérios e que apoios concretos existem”. “Não queremos teorias, mas sim orientações bem definidas”, sublinhou. José Lopes critica também aquilo que considera ser “bairrismos sem nexo de alguns dirigentes”, acusando-os “de falta de visão estratégica para o sector”. “Hoje, em termos de concorrência de mercados, deverão existir estruturas de dimensão significativa e que agreguem muitos viticultores”, realçou. Mas é do presidente da Unidouro, José Manuel Santos, que tece as maiores críticas perante a actual situação. “Em primeiro lugar, a falta de sensibilização dos agentes cooperativos para este modelo. Esta é uma das grandes dificuldades. Em segundo, a falta de políticas, que nos indiquem efectivamente os problemas financeiros das cooperativas para que possam ser resolvidos. O Estado argumenta que existe um instrumento no PRODER, mas é tudo letra. Por fim, é preciso uma linha de desendividamento, já que a maior parte das cooperativas estão muito endividadas. Também os processos não avançam porque as adegas, com boa sanidade financeira, não querem juntar problemas com outras que estão em dificuldades”. “Primeiro, cada uma das cooperativas deve encontrar uma solução para resolver o seu problema financeiro. Nunca pode haver a ideia de que a fusão servirá para resolver problemas financeiros de adegas com passivos transportados nos últimos anos. Agora, aqui é que deve intervir o Ministério da Agricultura e proporcionar uma linha de desendividamento e só depois será possível avançar. Já sabemos que o caminho do futuro é a fusão, no sentido de se encontrar massa crítica, resolver problemas de comercialização e gestão de marketing, já que uma cooperativa sozinha não consegue ultrapassar as suas contrariedades. Daí que a fusão ou concentração não seja um modelo ideal”.
José Manuel Santos teme que este impasse acentue a crise no sector. “São precisos instrumentos financeiros em que as pessoas acreditem para que realmente o passo seja dado. Estamos a assistir a uma degradação diária da situação financeira das cooperativas e qualquer dia tudo fica irreversível, com a própria falência. Penso que estamos a perder muito tempo, pois poderemos não morrer da doença, mas poderemos morrer da cura, porque a situação é muito dramática”.
O dirigente lembrou que em causa está também a sustentabilidade dos agricultores. “Neste momento, a maioria das cooperativas não ganha o suficiente para pagar os serviços mínimos. Ou fazemos qualquer coisa nesse sentido ou iremos deixar milhares de pequenos viticultores entregues a si próprios, porque são estas as únicas estruturas que os sentem e que os pode defender. É um mercado muito competitivo e eles por si só, não conseguem sobreviver. Há casos dramáticos que nos preocupam, sobretudo aqui na região Demarcada do Douro. Em relação aos pequenos e médios vitivinicultores, se não forem as estruturas cooperativas a defender os seus interesses, eu quero saber como é que vai ser a vida desta gente”. O responsável pela Unidouro lamentou ainda a não conclusão do processo de concentração das adegas Favaios, Alijó e Pegarinhos. “É um facto que me entristece, até porque acreditava muito no processo”.
Por fim, o dirigente duriense voltou a defender que o Governo deve ter uma participação mais objectiva nesta matéria. “As coisas iniciaram de uma forma tímida, porque quando as pessoas perguntavam como se resolve o problema financeiro, não havia uma resposta clara do Ministério e as pessoas não aderiram. Assim, estamos a caminhar para um ponto sem retorno”.
A concluir defendeu algumas medidas que as adegas devem perfilhar. “Os modelos das cooperativas são do passado, esse modelo já acabou. É preciso mudar hábitos, os tipos de gestão, mentalidades, adoptar um modelo empresarial e mudar a forma de comunicar o negócio”.
Refira-se ainda que, cerca de 70 por cento dos agricultores associados às adegas cooperativas que existem na região do Douro têm mais de 60 anos, sendo que 12 mil são vitivinicultores nessa situação, num total de 20 mil inscritos nas 17 adegas cooperativas activas.