A decisão de cancelar todas as competições de futebol e futsal, foi a mais sensata?
Esta é a decisão que toda a gente esperaria que, mais cedo ou mais tarde, fosse tomada. Julgo que não adiantaria muito mais criarmos ansiedade nos atletas, treinadores e dirigentes, e estarmos a alimentar uma situação que, nesta altura, não se vislumbra de resolução fácil, até porque, eventualmente, temos ainda muito mais para sofrer, para nos livrarmos desta pandemia.
Na reunião com a Federação Portuguesa, as associações distritais foram unânimes na posição que foi tomada em relação ao cancelamento de todas as provas não profissionais?
Sim, foi uma decisão unânime. Ninguém se opôs porque, em primeiro lugar, a preocupação tem que ser o bem-estar e a saúde pública. Acho que este é o momento ideal para dizermos que há mais vida para além do futebol e este é o chavão que melhor se aplica no estado atual em que nos encontramos.
Como é que reagiram os clubes filiados na Associação de Futebol de Vila Real?
Entendemos que é uma frustração e uma desilusão para todos os clubes, atletas, treinadores e dirigentes que tinham ambições, nomeadamente subir aos campeonatos nacionais, e agora veem essas expectativas goradas. Mas perante uma situação extraordinária, temos todos que ter a consciência de que esta decisão não é consensual, mas era a única alternativa que tínhamos. Há clubes que ficaram satisfeitos porque acabaram por, de certa forma, sair beneficiados com esta decisão e há outros que ficaram insatisfeitos, porque entendem estar a ser lesados.
Se tudo correr dentro daquilo que são as nossas expectativas, estaremos aí para o início da próxima época e isso é o mais importante neste momento.
A pandemia do Covid-19 afetou todos os setores da sociedade, principalmente a economia. Sabemos que os clubes da AFVR dependem das receitas de bilheteira e de patrocínios. Quais são as principais preocupações dos filiados da AFVR, uma vez que terão prejuízos avultados com toda esta situação?
Na última reunião que tivemos com a FPF, aquilo que as associações fizeram sentir é que o cancelamento resolveu a questão da saúde pública, mas agora terão que existir medidas no sentido de olhar para os clubes de uma forma clara. Essa pressão surtiu efeito, a FPF lançou um fundo de apoio na ordem dos 4,6 milhões de euros para os clubes não profissionais. Se eventualmente as associações também não forem apoiadas nesse sentido, teremos algumas dificuldades em poder ajudar e colaborar com os nossos filiados naquilo que são os prejuízos financeiros adstritos a esta época desportiva.
Neste momento, nós não temos noção quais são os prejuízos financeiros que a própria instituição tem também e aquilo que temos que pensar é de que forma é que na próxima época poderemos ajudar os clubes a diminuir as perdas financeiras relativas à época anterior.
A AFVR já está a pensar na próxima época?
Temos que perceber se é possível iniciarmos a próxima época nos timings aos quais estamos habituados, essa é já uma preocupação. Julgo que os indicadores não são tão claros como gostaríamos. Possivelmente, quando tivermos esse timing definido poderemos projetar a próxima época, relembrando que é compromisso desta direção fazer alguma coisa no sentido de colaborar com os clubes naquilo que são as suas dificuldades, os seus problemas financeiros com toda a frontalidade e seriedade, que todos nós queremos neste processo que vai ser moroso e difícil. Ainda temos muita pedra para tirar do caminho para chegarmos aquilo que é a normalidade, sabendo que ainda está longe.
Teme que na próxima época, os clubes não tenham capacidade para participar nas competições da AFVR?
Tenho essa preocupação. Percebemos que os clubes dependem muito significativamente daquilo que são os apoios municipais. Por um lado, temos que perceber de que forma os municípios estão a debelar em termos financeiros toda esta situação. Depois, temos que perceber que nas zonas geográficas de maior dificuldade económica, estes constrangimentos da pandemia terão um significado muito mais atribulado naquilo que é o nosso quotidiano habitual. Nesse sentido, fizemos perceber à FPF de que terão que existir, nesta altura e neste contexto, discriminações positivas no sentido de podermos acautelar aquilo que é o presente e o futuro da sobrevivência dos clubes do distrito de Vila Real.
Com esta época perdida, como vê o futuro mais próximo da AFVR?
O que esperamos é que todos tenhamos a noção que esta era a única alternativa viável do ponto de vista da saúde pública. Que todos estejamos unidos no sentido de podermos projetar o futuro de outra forma. Temo mesmo que, se isto não tiver um avanço que todos gostaríamos que tivesse, o início da época esteja em causa e que teremos que ajustar calendários e competições, porque estamos dependentes daquilo que é a evolução da pandemia, das autorizações governamentais e da DGS.
Ainda há muito para fintar, o que eu espero é que a família do futebol e de toda a gente que gosta de futebol e futsal esteja de perfeita saúde e que consiga proteger-se assim como os seus familiares. Que consigamos estar aqui todos, seja em setembro, outubro ou em janeiro, a iniciar uma nova época e a fazer aquilo que todos nós gostamos que é praticar desporto e podermos cumprimentar-nos e abraçar-nos no início e final de cada jogo.