“Vila Real ainda não tinha feito justiça aos Sargentos do Regimento de Infantaria 13, que, como todos sabem, constituíram um dos mais sólidos esteios do movimento de propaganda dos ideais republicanos no concelho, à semelhança aliás do que aconteceu em muitas outras cidades e em muitas outras unidades militares”, explicou o presidente da Câmara, Manuel Martins, para justificar a atribuição, no dia cinco, da Medalha de Mérito Municipal, Grau Ouro, à Associação Nacional de Sargentos.
O autarca lembrou que, com o reconhecimento do papel dos militares vila-realenses, o Município “salda hoje uma dívida de gratidão” pelos seus serviços prestados “à República e particularmente ao movimento que conduziu à sua implantação”.
Citando uma passagem da obra “O 5 de Outubro em Vila Real – Antologia”, lançada exactamente no âmbito das comemorações do centenário, o autarca lembrou que “esses sargentos envolveram-se na preparação da revolução republicana, coadjuvaram os líderes revolucionários, propagandearam as ideias da República e defenderam o regime implantado em 1910, alguns deles já como oficiais, com as consequências que todos conhecemos, naturalmente ao lado de outros militares como eles ao serviço do RI 13, por ocasião das incursões monárquicas, da Monarquia do Norte, da Revolta de 3 de Fevereiro de 1927, da Revolta da Madeira de 1931”.
António Lima Coelho, presidente da ANS, considerou este acto inédito como de “profunda emoção” para a classe, que ao longo de vários anos tem vindo a lutar pelo reconhecimento do importante papel dos sargentos na história do país. “Ainda sofremos um pouco de xenofobia classista, mas penso que este é um passo histórico no sentido de se vir a reconhecer aquilo que, há quase 120 anos atrás, os sargentos iniciaram na revolta do Porto, em 1891, com o 31 de Janeiro. Dezanove anos depois dessa data, o 5 de Outubro foi uma realidade porque houve homens que acreditaram que era possível”, recordou.
Mais, segundo o dirigente associativo, a entrega da medalha de mérito municipal vila-realense poderá representar “a alavanca” para o reconhecimento nacional, servindo de incentivo à Assembleia da República e aos grupos políticos com assento parlamentar para que, finalmente, aceitem a proposta, apresentada já por quatro vezes, de implementação do Dia Nacional do Sargento.
Criada há 21 anos, a ANS “tem um carácter socioprofissional”. “Nós existimos para pugnar pelas condições laborais e sociais dos nossos representados e seus familiares. Estamos integrados num movimento amplo europeu, a Euromil, que tem exactamente como base a defesa dos valores e interesses sociais e profissionais, dos direitos humanos nas forças armadas”, explicou António Lima Coelho.
A Medalha de Mérito Municipal foi entregue durante um dos momentos mais altos das comemorações do Centenário da República em Vila Real, a inauguração da Rotunda da República Portuguesa.
O baptismo da rotunda luminosa, localizada à entrada de Vila Real, representa a “reposição da palavra República na toponímia da cidade”. “Já existiu, em tempos, o topónimo Largo da República, e atrevemo-nos a dizer que a sua ausência empobrecia a nossa toponímia”, considerou o autarca.
“De recordar que, por deliberação da Câmara Municipal, de 3 de Novembro de 1910, foi dado ao então Largo do Príncipe Real (também conhecido por Jardim das Camélias, defronte do antigo Hotel Tocaio, nas imediações da então Igreja de São Domingos, hoje Sé) o nome de Largo da República, lado a lado com algumas outras denominações toponímicas inspiradas em datas e figuras do regime implantado menos de um mês antes. Os topónimos Rua 31 de Janeiro, Rua Cândido dos Reis, Rua Miguel Bombarda e Avenida 5 de Outubro mantiveram-se até aos nossos dias, no entanto o Largo da República perdeu-se no meio das profundas alterações urbanísticas que tiveram lugar na zona”.
Para comemorar o centenário da República Portuguesa, o concelho de Vila Real desenvolveu um programa de actividades que passou pelo lançamento de duas obras e de uma colecção de postais, pela realização de uma sessão extraordinária da Assembleia Municipal e, entre outras, pelo descerramento de uma placa que assinala “a rua onde funcionaram as sedes da Comissão Municipal Republicana e do Centro Republicano Augusto César, e onde tiveram lugar diversas reuniões conspirativas com vista ao derrube da Monarquia, algumas com a presença de figuras nacionais, como Bernardino Machado ou Cândido dos Reis.