Esta campanha foi levada a cabo de forma a fazerem um levantamento das suas necessidades, mas também com o objetivo de alertar para os perigos a que podem estar sujeitos, como eventuais burlas e furtos.
Depois de percorridas algumas localidades, a equipa de reportagem da VTM juntou-se a estes elementos e foi conhecer os idosos da localidade de Vale de Agodim, uma das oito aldeias que compõem a freguesia.
A primeira casa a visitar foi a de Mabilde Pinto, de 62 anos, onde estava na companhia de alguns familiares. Após uma breve identificação, os militares da GNR, bem como o presidente da junta de freguesia, Toni Afonso, deram conta qual o propósito da sua visita.
“Estamos a fazer uma campanha, por toda a freguesia, de sensibilização”, dizia o autarca, acrescentando, “queremos saber como estão e quais as suas principais necessidades”.
Mabilde Pinto, com um pedaço de pão na mão, forneceu alguns dados e conversou com todos eles, acatando também os conselhos da GNR.
“Hoje em dia, há muitas burlas, pessoas que se fazem passar por outras, para extorquir dinheiro, a senhora Mabilde tem conhecimento?”, perguntou o militar. A senhora não hesitou e rapidamente disse que estava a par destas situações, “só abro a porta às pessoas que conheço”, apontou.
Na rua mais acima da aldeia, encontramos o senhor Mário Macedo, sentado na varanda a apanhar sol. Com 71 anos, Mário contou que trabalhou muito, como comerciante nos mercados, pelo que agora sofre muito das pernas e resolve passar o tempo sentado. Às questões que os militares lhe colocavam, Mário respondeu prontamente, referindo que tinha telemóvel para ligar em caso de acontecer algo.
“Não vejo muito bem, mas o meu telemóvel tem as teclas ativadas em alto som, e assim posso ouvir os números que digito”, apontou, não perdendo a oportunidade ainda de deixar uma sugestão à GNR.
“Os idosos estão cada vez mais sozinhos e se nos acontece algo não temos quem nos ajude no momento. Era bom termos uma pulseira onde pudéssemos carregar para dar sinal à polícia ou ao hospital”, salientou.
Noutra ponta de Vale de Agodim, o casal, Maria de Lurdes e Vitorino Ribeiro, aproveitam, na parte de trás da casa, os raios de um sol primaveril. De 83 anos, Maria de Lurdes auxilia o marido na refeição, a qual tem numa pequena panela no seu colo.
“Fomos nós que fizemos esta casa, eu e o meu marido. Fizemos tudo sozinhos”, explicou. Além disso, também disse estar familiarizada com alguns casos de burla, pelo que “desconfio sempre”.
Quanto a esta ação, o autarca Toni Afonso disse que se trata de uma campanha de sensibilização que visa sobretudo a população mais idosa, a qual é cada vez mais nesta zona do território.
“Estamos a desenvolver esta iniciativa, juntamente com a GNR, no sentido de sensibilizar os idosos para as burlas que vão acontecendo, e cada vez mais, no interior da nossa freguesia. Mas pretendemos também ajudar naquilo que têm mais dificuldades, ou seja, tomar conhecimento do que precisam nas suas casas, se vivem em boas condições e se podemos conseguir mais alguns apoios por parte da segurança social, porque para alguns seria fundamental”.
Ao longo deste percurso, Toni Afonso referiu sentir-se “triste” com o que viu, salientando que é “lamentável” ter observado pessoas idosas a trabalharem no campo, desde cedo, para conseguirem ter algo para comer.
“O que vimos hoje, entristece-nos. Durante o dia, observamos muita população idosa, com 70, 80, 90 anos a trabalhar ainda nos campos, a trabalhar para terem alguma coisa para se alimentar ao longo do mês, porque de facto as reformas são muito pequenas e é lamentável ver algumas pessoas que não fazem nada, que são os parasitas da sociedade, a receber apoios. Entretanto esta população mais idosa tem de trabalhar, desde cedo, para subsistir, enfrentando as geadas e todo esforço que é escavar as vinhas e as terras”, apontou, acrescentando que “é com tristeza que encaramos este tipo de situações, para as quais o Estado não dá atenção”.
Já o comandante Mesquita da GNR elencou que esta iniciativa tem dois objetivos, em que por um lado procura-se saber as necessidades de cada idoso, e por outro lado, alertar e sensibilizar para as burlas.
“Como são aldeias isoladas do concelho, na parte mais a norte, levar ao conhecimento das pessoas os eventuais métodos de burla que os indivíduos utilizam para ludibriar estas pessoas é fundamental. Tentamos fazer chegar essa informação de forma mais popular, para ser entendida e acatada”, salientou.
Questionado se as pessoas já se encontram mais conscientes no que diz respeito a estes atos, o comandante referiu que tem notado isso, tendo algumas os recebido de forma desconfiada. No entanto, estas pessoas vivem sozinhas e isoladas, pelo que importa ter cuidado para alguns tipos de manobras.
Toni Afonso, presidente da junta de freguesia
“É com tristeza que encaramos este tipo de situações, com idosos ainda a trabalhar no campo, porque as reformas são muito reduzidas”
Mário Macedo, Morador
“Não vejo muito bem, mas o meu telemóvel tem as teclas ativadas em alto som, e assim posso ouvir os números que digito”