A Federação Distrital de Vila Real já transmitiu as suas preocupações à própria Liga dos Bombeiros Portugueses, que, por sua vez, já intercedeu junto da Autoridade Nacional de Protecção Civil, de modo a que seja feito um adiantamento de urgência às várias corporações do distrito, para compensar os custos elevadíssimos que tiveram no combate às chamas. Foi o próprio presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Duarte Caldeira, que esteve presente, anteontem, em Vila Real numa reunião com as corporações do distrito e que adiantou, ao Nosso Jornal, este propósito. “De facto, a nível nacional, os corpos de bombeiros estão a ter muitos constrangimentos financeiros devido a esta situação. A Liga está a encetar todos os esforços para que as mesmas possam rapidamente repor aquilo que são hoje graves desequilíbrios de tesouraria e que está a comprometer seriamente o futuro imediato destas casas. Nós colocámos a questão à Autoridade Nacional, e ainda esta semana vou falar com o senhor secretário de Estado da Protecção Civil. Saio daqui, de Vila Real, sensibilizado e preocupado com a situação gravosa que as corporações do distrito estão a viver”.
Ao que apuramos, há corporações com dificuldades financeiras que resultaram da necessidade de terem de desembolsar verbas excepcionais para combustíveis e alimentação durante a época de fogos do distrito. Neste sentido, Duarte Caldeira voltou a reforçar as suas preocupações. “Suportar todos os custos para estruturas que já vivem em precariedade e que financiam a sua actividade normal, representa efectivamente custos adicionais e uma pressão fortíssima que desequilibra e põe em perigo a estabilidade de cada uma destas casas”. Para este responsável, “o remédio passa pelo Estado definir um novo regime de financiamento, para ser possível que cada Associação soubesse logo no início do ano com o que pode contar para o quadro de missão que contratualiza com o Estado. Achamos que chegou o momento de o Estado contratualizar com os bombeiros o que deles necessita e o que deles quer”. A mesma sensibilidade foi deixada pelo presidente da Federação Distrital de Bombeiros de Vila Real, Alfredo Almeida. “Foram várias as preocupações transmitidas e sentidas nesta reunião, nomeadamente o problema dos combustíveis, os pagamentos que as Associações têm de suportar. São contas muito pesadas, sobretudo durante o período de fogos florestais e nós não sabemos com quanto vamos contar por parte do Estado. Tudo isto tem causado imensos problemas nas associações do distrito, onde há grandes manchas florestais. Os incêndios de Agosto deixaram as associações com dificuldades financeiras e já avançámos com essa questão para a Autoridade Nacional. Há um caso em que já foi adiantado o pagamento aos bombeiros, mas foi no distrito de Viseu, nós continuamos à espera. Neste momento estão a ser elaborados orçamentos, e algumas associações tiveram despesas elevadas, com viaturas muito danificadas no combate aos fogos”.
No fim da reunião, Duarte Caldeira elencou ainda outras preocupações que foram debatidas com os presidentes e comandantes de bombeiros. “No âmbito de várias reuniões que a Liga está a fazer em todos os distritos, identificámos outros problemas essenciais: o financiamento das associações tem de ser para 365 dias no ano, 24 horas por dia; deve ser criada uma estrutura de protecção civil onde seja salvaguardada a identidade do comando próprio dos Bombeiros”. A Liga não coloca em causa a coordenação da Autoridade Nacional de Protecção Civil, mas entende que os Bombeiros não devem ser a única entidade dependente e refém, no bom sentido do termo, da Autoridade Nacional de Protecção Civil. “Hoje, temos quadros, elementos de comando com qualidade e capacidade para protagonizar um projecto de serviço operacional de bombeiros que esteja disponível para o país e que resulte não no aumento da despesa pública mas na maior racionalização da despesa já feita”.
Em cima da mesa estiveram também os pagamentos dos serviços com ambulâncias, onde igualmente se sentem algumas dificuldades. “Continuamos a verificar que houve uma evolução positiva ao nível das ARS, mas continuamos com o problema nos hospitais, ou seja, esta multiplicidade de regimes de exploração, de regimes de gestão hospitalar, tem criado atrasos muito significativos no pagamento por parte dos hospitais. As dividas de transporte de doentes, quer pelos centros hospitalares, quer por outras instituições de saúde do distrito de Vila Real, preocupam bastante as 27 Associações”, disse, ao Nosso Jornal, Alfredo Almeida.
O presidente da Liga dos Bombeiros de Portugal abordou ainda os processos relativos às mortes dos bombeiros na última época de fogos. “Além da disponibilização dos valores relativos ao seguro de saúde, nós gerimos o fundo social do Bombeiro e em cada um destes casos temos estado a acompanhar o accionamento da pensão de sangue, que é uma disposição legal que existe para ocorrer as famílias de bombeiros falecidos em serviço. Contudo, achamos que é urgente actualizar o valor do seguro de acidentes pessoais”, concluiu.
Em jeito de balanço, (ver quadro) a base de dados nacionais sobre incêndios florestais coloca o distrito de Vila Real no topo, com 5.249 hectares de mato e 13.502 de floresta (pinhal, eucalipto essencialmente) que foram destruídos pelas chamas. Assim e até Setembro, no que respeita às áreas ardidas, o distrito da Guarda contabiliza a maior área 23.345ha (21%). Seguem-se os distritos de Viana do Castelo, Vila Real, Viseu e Braga. Estes cinco distritos perfazem mais de 3/4 da área ardida contabilizada até à data (77%). A área ardida em povoamentos (floresta) representa cerca de metade da área.