Sábado, 18 de Janeiro de 2025
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Inteligência Artificial no ensino proibir ou incluir?

A Inteligência Artificial (IA) domina a inovação e está cada vez mais acessível. Com diversas ferramentas disponíveis e sistemas que começam já a ser incorporados nas empresas e no mundo do trabalho torna-se cada vez mais premente saber como lidar com a IA nas escolas.

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Proibir só por si, por ter aspetos negativos, não é solução para Carlos Cunha, professor de Engenharia Informática no Instituto Politécnico de Viseu, instituição que apostou na criação de um curso sobre Inteligência Artificial.

“Essas ferramentas estão cá, ninguém pode pensar em bloqueá-las, as empresas utilizam-nas, temos de as saber explorar e mudar o modelo de ensino, de forma a incluí-las no processo de ensino-aprendizagem”, acredita.

Para o docente, “a IA é um mundo” e sobre a sua aplicação no ensino há duas vertentes a ter em conta: a geração de conteúdos e o uso para prever algo específico.

“Tenho sido das poucas pessoas a defender a utilização, mesmo nas aulas, destas ferramentas, porque no mercado de trabalho, em áreas como a informática, os alunos vão usar estas ferramentas para programar. Portanto, não faz sentido não incluir nas disciplinas”, afirma, sustentando que devem ser integradas no programa educativo, em determinadas áreas, “para que os alunos estejam preparados e ganhem competências para as utilizarem quando estiverem a trabalhar”, já que, caso contrário, “podem ser prejudicados”.

“Faz todo o sentido incluir estas ferramentas no dia a dia dos alunos”, reforça.

Em relação a questões éticas que envolve esta tecnologia, nomeadamente para que os trabalhos não sejam elaborados na íntegra pelo Chat GPT ou Bard, “isso também já se colocou com as calculadoras e outros domínios”.

O informático defende que o modelo de ensino tem de ser alterado, “pelo menos no que respeita à avaliação”, e sustenta que esta já não pode ser feita “considerando os trabalhos, relatórios ou o código produzido pelos alunos, mas vai ter de considerar o conhecimento que têm daquilo que foi produzido”. Assim, entende que o modelo mais indicado é o da “avaliação contínua, nas aulas práticas”.

“Tenho sido das poucas pessoas a defender a utilização, mesmo nas aulas, destas ferramentas”
Carlos Cunha
Professor de Engenharia Informática

Nas aulas que leciona, Carlos Cunha já não pede aos alunos para fazerem trabalhos teóricos. “A avaliação que faço dos relatórios em que há fundamentação teórica não é do que está escrito, é do conhecimento que têm do que está escrito. Já não podemos avaliar o que nos estão a apresentar, mas o conhecimento, esse é que é o desafio”, sublinha.

Ainda que em cada área de saber, as ferramentas possam ser utilizadas de modos diferentes e adaptadas, para o docente a principal vantagem de as usar é possibilitar e personalizar o processo de ensino e de aprendizagem. “Há uns anos, tínhamos acesso a um documento que descrevia os conceitos de uma determinada forma, e o aluno não tinha possibilidade de analisar o que estava a ser transmitido utilizando outras perspetivas. Com estas ferramentas podemos colocar a questão novamente de uma outra forma e tentar perceber o conceito e como se interliga com outros”, o que permite uma “aprendizagem personalizada”.

Carlos Cunha considera que os professores devem “testar novas abordagens de ensino e trocar experiências com colegas dentro desse domínio”. Admite que “não é fácil haver alterações de comportamentos, alguns docentes ensinaram de determinada forma durante muitos anos e é muito difícil conseguirem mudar”.

Claro que, como todas as inovações, vem acompanhada de riscos, sendo a principal a falta de validação da informação conseguida através da IA. “A informação é gerada e depois não há forma de a validar, pode estar incorreta”, e a “interpretação” da informação feita pelas ferramentas “depende da maneira como é treinado o modelo”.

Para o especialista em informática, a discussão “está muito centrada nos aspetos negativos”, como “no sentido de evitar que os alunos tenham trabalhos que não sejam deles e enganem o docente ou o processo de avaliação” e debate-se pouco “no que toca à aceitação destas ferramentas válidas no dia a dia dos alunos e no potencial que têm”.

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