O chefe deixou algumas ideias e observações pertinentes sobre a genuidade dos sabores e saberes da região. “Acho que aquilo que é bom permanece sempre, são tradições que se transmitem de pais para filhos. De facto, este ciclo já se perdeu. Mas, não podemos culpar o ciclo da modernidade gastronómica pela perca de valores ou pela perca da tradição gastronómica, ela perde-se porque desaparece em casa. Há que realçar esses contributos que são do passado, essa gastronomia e essa cultura de culinária, que não devemos perder”.
Hélio Loureiro defendeu a “reinvenção da cozinha duriense”, ou seja, não se pretende colocar novos nomes, mas sim criar um espaço onde a gastronomia seja escrita, documentada e valorizada. Depois é que se deve criar de novo. O Douro é exemplo disso mesmo, já que foi construído pelo homem, e com o passar dos anos, apesar das diferenças na cultura da vinha, não é por isso que o Douro deixou de ser Douro. O progresso não é inimigo da tradição”.
Este gastrónomo considerou que a cozinha do Douro tem influências da Galiza. “Há uma cultura galega que aqui está instalada e que contribuiu para a culinária do Douro, muitas vezes esquecida. Fomos buscar coisas que se assemelham muito à Galiza, como os milhos de bacalhau, o cozido no pote, que também são feitos em Espanha. Esta gastronomia marcadamente galega é também duriense. Por isso, é importante saber, de raiz, o que é típico do Douro, que é de influência galega, inglesa, ou da zona de entre Douro e Minho, na época em que do Porto só se vinha aqui na altura das vindimas, para se ver o vinho, logo depois corria-se outra vez para o Porto ou para Lisboa. Mesmo essas vindas dos proprietários aqui ao Douro deixavam marcas e receituário”.
Por fim, Hélio Loureiro deixou no ar um repto, alusivo aos galegos. “Há uma homenagem que o Douro nunca fez e que está na altura de a fazer. Em vez de erguer estátuas ao Marquês de Pombal devia ter erguido sim uma grande estátua aos galegos que aqui trabalharam. Esses sim, é que são os grandes obreiros deste Douro, essas mãos e esses homens que não têm nome e que não sabemos quem são”.
Hélio Loureiro iniciou-se na Escola de Hotelaria e Turismo do Porto, no Núcleo Escolar de Vidago. É chefe de Cozinha do Porto Palácio Hotel, tem no seu curriculum uma vasta experiência em cursos de formação. Foi chefe de Cozinha do restaurante Zé da Calçada, em Amarante. Em 1984 fez parte da brigada da abertura de várias unidades de hotéis de cinco estrelas, nomeadamente o Hotel da Quinta do Lago, no Algarve, propriedade da Companhia Orient Express. Foi chefe de Cozinha do Futebol Clube do Porto e actualmente é responsável gastronómico da Selecção Portuguesa de Futebol. Organizou vários eventos de grande prestígio, tais como a apresentação de S.A.R. o Príncipe das Beiras, Sr. D. Afonso, jantares de gala para a Presidência da República e todas as refeições dos Chefes de Estado, durante a Cimeira Ibero-Americana, em 1998.
Premiado em vários concursos nacionais e internacionais, foi eleito chefe de Cozinha do Ano em 1995, por uma revista da especialidade.