“Duas vidas, um destino” é o título da obra de Nuno Meireles, um jovem amarantino com paralisia cerebral que escreve com os pés, apresentada em Vila Real, no dia 13, no âmbito do Ciclo Cultural da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
Num verdadeiro exemplo de vida, Nuno Meireles não se resignou às suas limitações físicas, resultado de uma paralisia cerebral que sofreu aquando do nascimento, em 1976. Depois de escrever um primeiro romance autobiográfico, onde relatou quase 30 anos de vida, no ano passado lançou o seu segundo livro, agora apresentado na UTAD e para o qual se inspirou também na sua experiência de vida enquanto deficiente motor.
Nesta segunda obra, como explicou Pedro Romeu Alves, aluno de Ciências da Educação da UTAD responsável pela apresentação do livro, o escritor, que utiliza os pés para escrever num computador sem qualquer adaptação, conta a história de amor entre dois jovens, duas vidas que se cruzaram depois de um acidente que deixou Igor, uma das personagens principais, paraplégico.
“O livro fala da história de dois adolescentes provenientes de dois nichos sociais completamente distintos, antagónicos mesmo. O Igor é um ‘betinho’ de Cascais, enquanto a Iola é uma menina caseira de Valpaços”, explicou o estudante.
Pedro Romeu Alves referiu ainda que se trata de “uma obra em que qualquer pessoa se pode rever”, afinal, “qualquer um pode ter um acidente e ficar na situação em que o Igor ficou”.
Além da história de amor, o livro retrata “vários problemas sociais”, entre os quais “a discriminação” de que são alvo as pessoas paraplégicas, sendo abordadas ainda “as questões da sexualidade na deficiência, nas suas várias vertentes”.
A paralisia cerebral não impediu o escritor, hoje com 35 anos, de se formar em Engenharia Informática e de seguir o seu percurso académico com a conclusão de um mestrado em Sociologia.
Para Francisco Godinho, responsável pelo Centro de Engenharia da Reabilitação e Acessibilidade da UTAD, o contacto entre os estudantes do curso de Licenciatura em Engenharia da Reabilitação e Acessibilidade Humanas com realidades como a de Nuno Meireles é “muito importante”. “Muitas vezes, as ideias surgem quando nos confrontamos com uma realidade concreta. Podem nascer projetos de investigação que abordam coisas simples mas que só são notadas por quem tem acesso a elas, e não por quem está fechado num gabinete”, explicou.
O investigador da academia transmontana referiu mesmo que os alunos do curso (o primeiro do género na Europa) têm, especificamente na fase de mestrado, uma unidade curricular de estágio que visa a “formação e treino num potencial local de trabalho”, promovendo assim o contacto com pessoas com necessidades especiais.
No que diz respeito à investigação desenvolvida pela UTAD na área, o docente explicou que “sempre que aparece uma nova tecnologia é preciso ir atrás e abordar as questões das acessibilidades”, no entanto, reconheceu que a Universidade não tem “uma capacidade ilimitada de estar em todas as frentes”, e que, acima de tudo, o que pretende é formar jovens e aumentar os recursos humanos na área, “para que mais profissionais se dediquem a estas temáticas”.