Estão no limite máximo de acolhimento os Lares da Santa Casa da Misericórdia do Distrito de Vila Real. As instituições não conseguem dar resposta a tanta procura e mais de um milhar de idosos espera, desesperadamente, por um lugar. É um problema social que está em crescendo e que obriga as Misericórdias a investir em novas instalações.
O aumento da esperança de vida e o consequente crescimento da população envelhecida, a alteração da estrutura familiar e a solidão crescente a que muitos idosos são votados são as razões apontadas, pelos diversos Provedores, como causas do crescimento das listas de espera.
A solidão aumenta, nos idosos
Em Peso da Régua, há cento e setenta pedidos para serem acolhidos.
O Provedor da Santa Casa de Misericórdia local, Manuel Mesquita, foi taxativo: “temos a nossa capacidade esgotada. As sessenta camas protocoladas estão ocupadas e não conseguimos dar resposta a tanta solicitação. Para mim, o maior problema é a solidão. Antes, os asilos acolhiam aqueles que tinham carências sociais de pobreza. Com o tempo, os Lares começaram a substituir os asilos e, presentemente, a realidade é bem diferente. Há muita gente que tem dinheiro e não consegue ser acolhida. Uma constatação para as quais as instituições têm de estar preparadas. A solidão aumenta nos idosos. Os filhos vão trabalhar para fora das terras onde nasceram e faltam, depois, pessoas que possam tomar conta dos idosos. Toda esta alteração estrutural da família é uma verdade, como também o aumento da esperança média de vida. Daí resultar a necessidade de aumentar a capacidade de acolhimento e um maior acompanhamento de cuidados de saúde da população idosa”.
Ao que apurámos, junto de Manuel Mesquita, a instituição prepara-se para avançar, no futuro, com a construção de um novo Lar, nas antigas instalações do Hospital da Misericórdia, situadas na parte alta da cidade
“Já apresentámos uma candidatura ao Programa Pares, mas foi recusada, devido ao rácio de financiamento. Pedimos a 75%. Sendo assim, já avançámos com uma outra candidatura, ao mesmo programa, agora num pedido de financiamento mais reduzido, rondando os 65%”.
Constrangimentos no apoio domiciliário agrava listas de espera
Segundo Manuel Mesquita, “o novo equipamento vai ter a capacidade de acolhimento de mais quarenta e quatro camas e que, depois de construído, poderá reduzir este défice de acolhimento”“. Outra razão para este número tem a ver com a existência de apenas dois Lares, no concelho de Peso da Régua. O outro Lar, mas em dimensão mais reduzida, existe em Fontelas.
Na Santa Casa de Misericórdia de Sabrosa, o problema não é diferente. Aqui, setenta e sete idosos procuram ter um lugar no respectivo Lar, conforme nos disse Fernando Freitas, o seu Provedor que põe o dedo na ferida desta problemática.
“Há uma falta de resposta do país a esta realidade. Resulta, também, de algum constrangimento do apoio domiciliário que, julgo, havendo uma maior eficácia, nesta área, a situação poderia não ser tão complicada, no que respeita às listas de espera. Hoje, os filhos, devido a razões ocupacionais, já não estão com os pais e a solução é procurar, de imediato, as Misericórdias”. Por outro lado, existe o aumento do envelhecimento da população. E convém não esquecer aquilo que, há algum tempo, já tinha afirmado, ao Nosso Jornal.
“O concelho é um dos mais idosos do distrito. O Poder Central e os organismos competentes têm de estar atentos a esta situação e adoptar políticas positivas sociais que possam minorar e estancar este aumento de procura, através de novas medidas e a potenciação de outras, já implementadas”.
Acrescente-se, ainda, que, em São Martinho de Anta, no mesmo concelho, igualmente a instituição social local tem cerca de meia centena de idosos, a “bater à porta”.
Situação reflecte a não fixação das pessoas aos lugares em que nasceram
A Santa Casa de Misericórdia de Murça também possui uma longa lista de espera. Ao todo, centena e meia de idosos esperam para serem acolhidos no respectivo Lar.
“Temos a capacidade de noventa camas, mas já está esgotada” – disse–nos o seu Provedor, Belmiro Vilela. Neste momento, a Santa Casa de Misericórdia de Murça possui dois lares de acolhimento. Um em Murça (40 utentes), outro em Fiolhoso (50). Para o futuro, também a instituição pretende avançar com a construção de mais um Lar que vai cobrir a parte norte do concelho, algo desprotegido, nesta valência social. O equipamento está previsto para ser edificado em Jou e foi apresentado ao Programa Pares.
Belmiro Vilela associou algumas causas à extensa lista: “em primeiro lugar, reflecte a não fixação das populações aos lugares onde nasceram. Tudo isto é devido à falta de trabalho, com o consequente aumento da desertificação, e, ainda, o envelhecimento populacional “ – sublinhou. Refira-se que integrantes da Santa Casa de Misericórdia de Murça estão os estabelecimentos sociais de Candedo, cujo centro de noite deverá abrir, brevemente, dado estar já em adiantada fase de execução. E em Carvas, no mesmo concelho.
São necessárias novas unidades
Na Santa Casa de Misericórdia de Vila Real, a situação, quanto à lista de espera, não é tão extensa, mas também à volta de trinta pessoas constam no rol, à procura de um local para passarem uma fase da vida que, afinal, nos toca a todos: a velhice.
O seu Provedor, Manuel Gomes, fez–nos o ponto da situação:
“Neste momento, a capacidade de acolhimento está esgotada. No Lar da Imaculada Conceição, temos cinquenta e oito pessoas acolhidas e trinta em lista de espera. No Lar Hotel que funciona nas antigas instalações do Hospital de S. Pedro, estão trinta pessoas (e ainda abriu há pouco tempo), mas já temos três, à espera de entrar” – sublinhou. Este responsável adiantou que a Misericórdia pretende construir uma nova unidade e criar, no mesmo, o Complexo Social da Quinta de Petisqueira. O novo Lar abrigará cerca de quarenta idosos.
Mas o que é, afinal, o PARES, a que muitas instituições fazem pedidos de financiamento? O Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais assenta em dois grandes pilares. Por um lado, o planeamento territorial, priorizando, de forma rigorosa e transparente, os equipamentos sociais que se situem em territórios com uma baixa cobertura, de forma a corrigir as assimetrias existentes. Por outro, o estímulo ao investimento privado, privilegiando os projectos que recorram a um maior financiamento próprio, concretizado, nomeadamente, através de parcerias, entre as instituições e os seus parceiros locais.
José Manuel Cardoso