Muitos pilotos, que, por força do seu talento e da sua coragem, conquistaram os fãs que ladeavam o mítico traçado transmontano. Mas, de todos, há um que se eleva e que é aclamado inquestionavelmente como a maior referência do circuito… Manuel Fernandes.
Homem de Vila Real, Manuel Fernandes conquistou todos pelo seu talento e pela sua postura. A sua velocidade em pista era proporcional ao seu caráter. Tudo que aprendeu passou ao seu filho Manuel Pedro, que fez questão de usar todos os ensinamentos, quer na pista quer fora dela. Ambos triunfaram em pista e levaram o nome de Vila Real mais longe.
Manuel Fernandes, infelizmente, deixou-nos cedo demais, mas as recordações do seu maior admirador e seguidor, Manuel Pedro Fernandes, são o veículo certo para uma viagem no tempo.
Manuel Pedro começou na competição seguindo as pisadas do pai, que sempre o acompanhou:
“Desde miúdo que via as corridas dele e que o acompanhava para todo o lado como tal, sempre estive em contacto e sempre tive esta paixão pelas corridas. Quando foi introduzido o campeonato de Fórmula Ford houve a possibilidade de, com 16 anos, tirar uma licença especial para participar nas provas. Como o meu pai não gostava muito de Karts (e eu também não) apostamos neste campeonato. Compramos um carro e fomos para o Estoril para testar e foi aí que tudo começou”.
A ajuda preciosa do pai foi fundamental para o sucesso de Manuel Pedro:
“Nos primeiros testes na Fórmula Ford o meu pai deu-me muitos conselhos e muitos truques que foram fundamentais no início. Além disso, ajudou-me muito a entender como afinar o carro e a entender as sensações que tinha ao volante. O meu pai acompanhou esse processo todo e ajudou-me muito em todos os aspetos”.
Foi também o seu falecimento que levou a uma pausa prolongada na sua carreira competitiva, depois do emotivo pódio no PTCC:
“Embora ele já não fosse comigo para as corridas, ele vivia muito mais o automobilismo do que eu. Ele vivia para as corridas e transmitia-me essa paixão. Quando ele morreu deixei de ter isso. Quando o PTCC voltou a Vila Real resolvi correr cá. Tinha o carro e o sonho de correr em Vila Real por isso fui e consegui o 3º lugar, com alguma sorte admito, mas foi uma sensação muito boa e um dos melhores dias da minha vida. Foi pouco tempo depois da morte do meu pai e ir ao pódio, sentir o apoio do público foi muito emocionante.”
O entusiasmo de Manuel Fernandes pelas corridas era inigualável e a forma como vivia intensamente a competição fez dele um dos melhores de sempre a nível nacional:
“Sim, ele era maluco pelas corridas e vivia aquilo como eu não vivo. Um episódio engraçado que se passou e mostra como ele era: Na altura do troféu Honda BPI, ele ficava sempre 2 ou 3 décimas atrás dos adversários diretos e ficava sempre muito pensativo. Em 2004 quando soube que tinha o tumor e tinha metástases no cérebro, entrou no hospital e não conseguia falar e depois do primeiro tratamento, quando já conseguia falar a primeira coisa que disse foi: “caramba, já sei porque é que me faltavam aquelas décimas, era esta porcaria que tinha aqui”. Ele vivia intensamente as corridas.”
Escaparam-lhe duas ou 3 oportunidades para ser piloto internacional.
“Foi quando foi convidado pela Schnitzer, teve a oportunidade de fazer uma prova do Campeonato Europeu de Viaturas de Turismo (ETCC), os 500Km do Estoril, em 1985, onde foi sempre mais rápido que o colega de equipa dele Dieter Quester, um dos principais pilotos do campeonato na altura. O meu pai achou que a equipa andava a enganá-lo, pois o carro estava muito bom nos treinos e no Warm-up fez o melhor tempo de todos os 635 a nível europeu, mas na qualificação o carro já não estava igual. Entretanto, foi decidido que seria o colega de equipa a fazer a largada, mas ele desfez o carro e já não pôde mostrar-se. Ele falava muito de um rali no Algarve que estava a andar muito bem, mas o carro teve problemas nos pistões. Teve azar nessa fase. Foi também convidado para conduzir um BMW 320IS e na primeira vez que participou ganhou a corrida, tornando-se, juntamente com o Johnny Cecotto, os únicos convidados que ganharam nessa condição”.
A admiração de Manuel Pedro é indisfarçável:
“O meu pai, sem qualquer dúvida, foi um dos melhores pilotos de automóveis a nível nacional. A sua paixão e a coragem com que conduzia qualquer automóvel, transformava carros teoricamente muito inferiores em sérios candidatos à vitória nas diferentes corridas em que participou”.
“O meu pai, para além de um fantástico piloto, era uma pessoa muito simples e afável para todas as pessoas. Naturalmente era muito acarinhado pelos vila-realenses, que aproveitavam para o apoiar e agradecer a forma como representava a cidade de Vila Real, nas competições automóveis”.
Manuel Pedro também escreveu história, venceu na Taça Europeia de Turismos e competiu no campeonato do mundo FIA de Turismos, orgulhando os seus conterrâneos:
“Tive sempre em mente o orgulho que o meu pai teria em presenciar estas duas maravilhosas experiências. Vencer uma corrida e conseguir um segundo lugar nas duas corridas da ronda do ETCC, em 2016, na minha cidade, foi sem dúvida, uma das minhas maiores conquistas desportivas. A presença, em 2017, na prova do WTCC, também foi uma conquista fantástica e apesar de dispor de uma viatura bastante inferior, consegui uma prestação digna e bastante positiva. Esteja ele onde estiver, sei que me ajudou a concretizar essas participações".
O nome Manuel Fernandes estará novamente em pista na 50ª edição do Circuito Internacional de Vila Real. Manuel Pedro participará nos Legends, depois de mais uma pausa. É bom ver que o nome Manuel Fernandes continua a correr em Vila Real.