Apesar de reconhecer que a proposta negocial apresentada à Casa do Douro (CD) “não é perfeita”, António Serrano, ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, que no dia nove visitou várias instituições da Região Demarcada, garantiu que esta “acautela as principais preocupações do Governo, da CD e dos vitivinicultores”.
Uma opinião que não tem correspondência na região, e prova disso foi a manifestação que reuniu perto de uma centena de vitivinicultores à chegada de António Serrano ao Solar do Vinho do Porto, na Régua. “Já chega de más políticas, de má vontade contra o Douro, contra as cerca de 40 mil famílias que vivem da vinha e que estão próximas de entrar em falência”, defendeu Berta Santos, dirigente da Associação dos Vitivinicultores Independentes do Douro (AVIDOURO), que liderou o protesto.
Com vários cartazes e faixas em punho, os manifestantes não reagiram de imediato à chegada do ministro mas mostraram-se revoltados quando este não aceitou receber em mãos um documento reivindicativo, remetendo a entrega à sua assessora. “Teve uma atitude antidemocrática quando não aceitou o documento, quando não o quis receber”, gritavam alguns manifestantes.
Segundo Berta Santos, os problemas dos vitivinicultores durienses “são mais que muitos”, no entanto, a “machadada final” é a proposta apresentada pelo Governo à CD, “instituição que é fundamental para a produção” e que já está “moribunda, não por responsabilidades dos vitivinicultores, mas pelas más políticas que têm sido seguidas e que lhe retiraram competência”. “Sem ela ficamos pura e simplesmente na mão das grandes quintas e das casas exportadoras”, denunciou a dirigente associativa.
Relativamente à proposta em causa, Berta Santos acredita que o primeiro passo a dar na resolução dos problemas da CD é a devolução das competências que lhe foram retiradas, como “a atribuição do benefício, a regulação do mercado, a indicação de preços, o escoamento dos excedentes”.
De recordar que, no acordo negocial entregue ao organismo duriense para o pagamento da dívida de 110 milhões de euros, o Governo propôs a entrega dos vinhos empenhados da CD ao Estado.
“Uma proposta de má-fé”, é assim que a AVIDOURO classifica o documento já que, como defendem, a solução indicada “não vai resolver problema nenhum”, sendo ainda de realçar que o Governo propõe-se adquirir os vinhos a preços inferiores ao seu valor. “Não pagam efectivamente o que valem. O que querem com isso? Estão a pressionar a CD para que assine um acordo que é mau para a região, mau para os vitivinicultores”, defendeu Berta Santos.
Apesar de não falar com os manifestantes, depois da visita ao Solar do Vinho do Porto, António Serrano seguiu para a CD para uma reunião que, como o próprio classificou, “não foi de trabalho”, mas serviu sim para “tomar contacto com o funcionamento da instituição”.
“A nossa proposta foi feita. A CD tem estado a avaliá-la quer na sua direcção, quer no seu conselho geral. Estamos à espera que se pronuncie formalmente sobre ela em termos de votação”, frisou o ministro da agricultura, lembrando que se trata “das traves mestras” de um documento que “pode não ser perfeito”, mas é o “possível”.
“Tenho estado muito empenhado em ajudar, devo isso enquanto ministro. A CD é muito importante na região e fiz tudo até agora para fazer um acordo salvaguardando o interesse de todos. Não encontrando soluções mágicas, nem as melhores do mundo, estas são aquelas em que o país pode trabalhar num momento de grande dificuldade, de crise internacional profunda”, explicou.
Manuel António Santos, presidente da CD, reconheceu o empenho do ministro da Agricultura, enaltecendo a sua “simpatia, boa–vontade e abertura”, assegurando que este “tem tido atitudes que merecem o maior respeito”. Já ao falar da proposta negocial, o dirigente lamenta que esta não atinja os objectivos que foram proclamados inicialmente. “Podemos pagar a dívida com o que nos é devido. Não aceitamos, é inconcebível que esta seja moeda de troca para a assinatura de um acordo”, defendeu Manuel António Santos, deixando ao governante o desafio de “aperfeiçoar” a proposta que o próprio classificou como imperfeita.