Mais ou menos jovens, as mulheres da capital do distrito transmontano não deixaram passar em branco, no último domingo, o dia de Santa Luzia, data em que se cumpre a tradição de dar o Pito ao namorado ou marido. Milhares de bolos foram vendidos pelas pastelarias espalhadas pela cidade e em especial na “Festa do Pito”, realizada na Praça do Município.
Organizado, pela segunda vez, pela Câmara Municipal, o evento contou com a participação de seis pastelarias do concelho, ao longo de todo o dia, e apesar do tempo pouco convidativo, centenas de pessoas acorreram ao centro da cidade para comprar o bolo tradicional. “Só hoje produzimos cerca de dois mil pitos”, contabilizou Alexandra Gaspar, funcionária há mais de 25 anos da Docinho, uma das pastelarias mais antigas de Vila Real.
Se antigamente a sua produção confinava-se aos meses de outubro, novembro e dezembro, “agora o pito já se faz praticamente todo o ano”. “É um doce muito bom, por isso as pessoas já exigem que haja noutras alturas. Mesmo visitantes e turistas que ficam a conhecer a tradição já pedem”, explicou a mesma responsável, revelando que a Docinho também produz a Gancha em fevereiro.
De recordar que manda a tradição que as mulheres devem dar o Pito (um bolo de massa tenra recheado com doce de abóbora e canela) aos seus amados, no dia 13 de dezembro, para receber a Gancha (um doce tipo rebuçado de açúcar em forma de gancho), no dia 3 de fevereiro.
Para Alexandra Gaspar, a realização da feira é importante para reforçar a tradição. “As pessoas brincam um bocadinho com a história, mas o importante mesmo é que se eleva este doce tradicional”.
Entre as pastelarias presentes esteve também a Díbia, que a semelhança das restantes, esgotou o seu estoque de Pitos. “Está a correr muito bem”, referiu Ana Mota, daquela pastelaria vila-realense que, só para a feira, produziu mais de 900 Pitos.
Uma das mulheres que cumprir a tradição foi Ana Mendonça, que se deslocou de propósito à feira para dar o Pito ao marido, Luís Mendoça. “É uma tradição e eu faço questão de cumprir”, explicou a vila-realense que até nem é muito fã do doce, e prefere, como reconheceu, a versão não tradicional do Pito, ou seja, confecionado com massa folhada e recheio de creme.
Se Ana Mendonça tem a certeza que em fevereiro vai receber a Gancha, também Renato Moreira, natural de Vila Real, adiantou à VTM que em fevereiro vai cumprir o compromisso e dar o rebuçado de açúcar à esposa, Cátia Moreira. “É a primeira vez que venho à Festa do Pito, mas todos anos, neste dia, a minha mulher cumpre a tradição”.
Enquanto saboreia o bolo, “muito apetecível”, o vila-realense mostra o seu agrado e defende mesmo que o Pito seja vendido durante todo o ano nas pastelarias.
Adriana Monteiro deslocou-se também de propósito à Praça do Município para comprar o Pito com o qual presenteou o namorado, Nuno Leirós. “É importante manter vivas as nossas tradições. Ainda por cima, esta é engraçada, faz sempre sorrir quem dá e quem recebe”, explicou a jovem, sublinhando ainda o facto de “através de um simples bolo se poder demonstrar o carinho pela pessoa que amamos”.