Terça-feira, 3 de Dezembro de 2024
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Na Bênção da Biblioteca Municipal

É este o quarto espaço cultural da cidade sobre o qual é por mim invocada a Bênção de Deus. E os quatro formam uma constelação. Benzer cristãmente uma estrutura é bendizer, dar graças, elevar até Deus o louvor que damos aos homens pela construção dessa estrutura. Trata-se neste caso de dar graças por uma estrutura […]

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É este o quarto espaço cultural da cidade sobre o qual é por mim invocada a Bênção de Deus. E os quatro formam uma constelação.

Benzer cristãmente uma estrutura é bendizer, dar graças, elevar até Deus o louvor que damos aos homens pela construção dessa estrutura. Trata-se neste caso de dar graças por uma estrutura pública destinada ao desenvolvimento cultural, e tudo o que contribui para o desenvolvimento da pessoa humana merece que demos graças pela sua criação. Os evolucionistas gostam de dizer que, no dia em que o homem libertou as mãos das tarefas da locomoção física para as poder usar no trabalho manual, começou a sua liberdade. O trabalho manual contribui certamente para o desenvolvimento humano, mas ele faz-se sobretudo com a inteligência e de tal modo que, se hoje se pode falar de países ricos e pobres, a diferença não reside na propriedade de terras mas entre os que têm conhecimentos e os que estão deles privados.

Como cristãos, invocamos Jesus Cristo, o Verbo, a Palavra, a Sabedoria de Deus em pessoa neste espaço destinado à utilização de livros. A vida de um cristão inclui sempre livros e leituras. Convém recordar que o cristianismo não é uma «religião do livro», como se diz do Judaismo e o Islamismo que vivem, um, do Talmude e, o outro, do Corão, mas é uma pessoa. Todavia, não sendo uma cultura nem fruto de um livro, o Cristianismo gera livros e textos documentais e catequéticos, textos literários (poesia, prosa, drama, teatro), textos apologéticos, textos de investigação e textos de divulgação. Um cristão é pessoa amiga de livros. Nesta hora vêm ao pensamento os livros da cultura grega e romana que o Cristianismo salvou e também o mistério dos livros na vida dos homens desde S. Agostinho na leitura do Hortêncio de Cícero até à biografia de Santa Teresa nas mãos da judia filósofa e mais tarde carmelita, Edite Stein.

Esta Bênção destina-se, em segundo lugar, a pedir a lucidez para usar dignamente este bem público. Esta biblioteca não é uma biblioteca temática nem confessional. É uma biblioteca municipal, aberta à comunidade, num clima de democracia. Terá algo de um supermercado da inteligência, mas deseja-se que todos os alimentos aqui servidos sejam verdadeiros, afastando os livros da mentira, literatura inferior à literatura de cordel, mantidos quando muito em arquivos reservados. (Mas tal orientação caberá ao responsável pela Biblioteca). Deseja-se que ela ajude as pessoas a crescerem na verdade, nos caminhos históricos dos homens e dos seus legítimos sonhos e aspirações. O texto bíblico que ouvimos há pouco encadeia quatro verbos: instruir, aconselhar, cantar, fazer. Eles indicam a função do livro: dar conhecimentos, hierarquizar valores e animar ao diálogo, gerar encanto interior, ajudar a produzir.

Demos então graças a Deus por este espaço e peçamos para os seus frequentadores a sabedoria na sua utilização.

 

Joaquim Gonçalves * Bispo de Vila Real

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