Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024
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O drama e o desafio dos incêndios

1- Em Abril de 1996, a Conferência Episcopal Portuguesa publicou sobre este tema uma «Nota Pastoral» lembrando sinteticamente os aspectos de natureza económica, social e religiosa implicados nos incêndios florestais:

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avultados prejuízos económicos imediatos e os que advêm em anos futuros, o desaparecimento de água no solo a mais de um metro de profundidade e a consequente desertificação das terras, a diminuição das chuvas pela ausência de vegetação prolongada, o aumento da temperatura ambiente, a poluição do ar em vasta área circundante e consequentes dificuldades de respiração nos idosos e doentes, o sentimento doloroso de pânico e de abandono das populações rurais já martirizadas pelo despovoamento, a morte de animais de caça e o desequilíbrio ecológico, a atitude de desprezo pela terra que é o berço natural dado por Deus ao homem. Há áreas, como o Norte de África, outrora densamente povoadas, que hoje são árido deserto por causa dos incêndios que destruíram a vegetação e permitiram o avanço dos ventos e areias do deserto.

É tal o desconcerto e horror deste gesto contra a vida da natureza que a Igreja considerou o crime do fogo posto como um pecado «reservado» ao lado do homicídio voluntário. Hoje essa reserva foi retirada, mas implica a obrigação de restituição como acontece em qualquer caso de prejuízo a terceiros.

2- Diz-se naquela Nota ser muito importante «o modo como se fala desta questão». É negativo falar–se dos incêndios como um facto datado para uma época do ano, a «época dos incêndios», como se o vício, o crime, ou uma fatalidade cíclica ou espectáculo de multidões impusesse anualmente esta desgraça, uma espécie de direito consuetudinário; é também errado considerá-los como uma área meramente policial confiada aos bombeiros ou grupos assalariados.

Urge criar um sentimento de «solidariedade» de pessoas, das populações rurais e urbanas, dos meios de comunicação social e dos indivíduos, de proprietários e de estruturas oficiais.

3- As autoridades devem fazer deste tema objecto de reflexão séria. Será que este é preço que pagamos pelo abandono oficial da lavoura e das aldeias que torna inevitáveis grandes manchas de mato e silvas por toda a parte, incluindo nascentes de água e ribeiras, caminhos e estradas, que os poucos moradores não podem vencer e causam revolta e desespero que levam a isto?

Nem basta impor aos moradores e pequenos lavradores a obrigação de limpar as matas. Só quem não conhece a vida das aldeias se contenta com tais meios fiscais: quanto custa a limpeza de um terreno de encosta? Mesmo que houvesse jornaleiros (o que é cada vez mais raro), nem toda a madeira cortada paga a despesa e, dois anos depois, o terreno volta a ficar incendiário pela erva entretanto nascida e a «manta» natural das matas.

Os poucos residentes não podem controlar tudo e basta um terreno descuidado para destruir tudo em redor. Isto para não incluir neste drama os jogos de rixas, de loucos ou enlouquecidos, e de jogos sombrios de vingança de tribos e regiões como parece ser o caso de alguns países estrangeiros.

Não poderão os serviços florestais agir por prevenção dispondo algumas verbas para organizar um serviço de limpeza das matas em colaboração com os rurais?

Há ainda que reorganizar a tradicional queima dos montados, indispensável para o pasto do gado ainda existente, fazendo-a de modo oportuno e vigiado.

 

Vigararia Geral da Diocese de Vila Real, 9 de Agosto de 2010

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