No próximo dia 28, os militantes sociais-democratas vão ser chamados a escolher o seu novo líder. Luís Filipe Menezes e Marques Mendes assumiram lugar na corrida, uma disputa que, segundo Amando Moreira, seria de vitória certa para Menezes, não fossem os esforços da lista adversária para que “os militantes não estejam em condições de votar”. Segundo o mesmo responsável, a candidatura de Menezes está a ganhar fôlego, no distrito, sobretudo no que diz respeito aos militantes de base. Depois de ter sido inaugurada, ao final da tarde de ontem, a sede de campanha da candidatura de Luís Filipe Menezes, em Vila Real, Armando Moreira revelou, ao Nosso Jornal, o porquê de ter aceitado ser “o rosto” do candidato, no distrito, traçando algumas ideias sobre a situação do partido, no distrito transmontano
VTM – Porque aceitou o desafio de ser Mandatário, para o distrito de Vila Real, da candidatura de Luís Filipe Menezes, à liderança do Partido Social-Democrata (PSD)?
AM – Fui convidado por Filipe Menezes que já conheço há mais de trinta anos e com quem convivi sempre do mesmo lado da barricada, em termos partidários. Por isso, aceitei o desafio, com muito gosto. Depois, parece-me que, nesta altura, o PSD vive um momento particularmente difícil da sua história, não por se encontrar na oposição, mas porque se sente que o país precisa de uma oposição com uma liderança forte. Temos que dar uma resposta cabal àquilo que vem sendo imposto, aos portugueses, fruto da maioria socialista que resultou das últimas eleições, há dois anos. Em meu entender, a actual liderança do PSD não tem essa capacidade de ruptura com as práticas que estão a ser instaladas. Mesmo dentro do próprio partido, é necessária alguma ruptura, um pouco à semelhança do que fez Francisco Sá Carneiro que teve sempre um apelo muito directo às bases do partido. Pareceu-me, de facto, que estão reunidas as condições para que isso aconteça e que Luís Filipe Menezes seja a figura capaz de desenvolver esse trabalho.
VTM – Já está em condições de fazer um balanço sobre a adesão dos militantes vila-realenses à candidatura de Luís Filipe Menezes?
AM- Dos contactos de rua que tenho vindo a estabelecer, desde há três semanas, por todo o distrito, diria que, genericamente, as bases descomprometidas claramente procuram por uma nova liderança. Devo dizer, com clareza, que nenhum de nós tem nada contra o Dr. Marques Mendes, um político conhecido, trabalhador e, com certeza, inteligente. Mas percebe-se que a sua imagem não passou bem na comunicação social, não está numa situação feliz nesta circunstância e, portanto, é chegado o momento de encontrar outro nome, com outras ideias, para liderar o partido. Filipe Menezes reúne algumas das características necessárias. Por exemplo, é um homem com obra feita, a nível autárquico e, embora seja evidente que governar o país é diferente de estar à frente de uma autarquia, essa é uma experiência extremamente interessante. Outro dos aspectos é que Filipe Menezes tem um discurso de rompimento com determinadas práticas e, sobretudo, com os métodos socialistas. O país não arranca, não obstante os esforços que têm sido feitos e tudo isso tem a ver, provavelmente, com práticas instaladas, com um certo modelo, uma visão da sociedade que o PSD não perfilha. Tem que ser o PSD a liderar esta mudança e Luís Filipe Menezes tem condições para realizar esse projecto.
VTM – Relativamente ao próximo dia 28, faz prognósticos?
AM – Eu quase poderia dar uma certeza, se pudéssemos, de alguma forma, inverter a situação que vivemos no partido… Temos duas candidaturas, uma delas a do Dr. Marques Mendes que se esforça muito, para que os militantes não paguem as suas quotas, não adquiram a condição para poder votar, jogam no que chamam de estabilidade no partido, no entanto, acho que não é o momento para este tipo de posição. Há que colocar as cartas na mesa e perceber o que cada um se propõe fazer. Por outro lado, a candidatura de Filipe Menezes está a fazer tudo o que está ao seu alcance para que os militantes regularizem a sua situação e fiquem em condições para poder participar no sufrágio do dia 28 de Setembro. Apesar desses esforços, o sistema de pagamentos de quotas no PSD traz algumas dificuldades, uma vez que estas só podem ser pagas, a nível nacional, e, embora conte com vários instrumentos, como transferência bancária ou através da Internet, para a maior parte dos militantes é de difícil acesso. Também nesse aspecto gostaria muito que a candidatura que eu apoio venha a ganhar e possa alterar a situação, descentralizando o partido, de modo a que as quotas dos militantes possam ser geridas, ao nível das distritais e das concelhias. Não podemos estar só dependentes da sede nacional que tudo quer, tudo faz e tudo comanda. Pessoalmente, não aceito essa estrutura, porque não foi esse o partido fundado por Francisco Sá Carneiro. O PSD de Sá Carneiro é um partido popular, assente nas suas bases e não, apenas, nas chamadas elites.
VTM – Deixa, então, um apelo para que todos os militantes se esforcem por regularizar a sua situação e votem no dia 28?
AM – O nosso esforço, até as eleições, é, de facto, que, na medida do possível e apesar das dificuldades, os militantes regularizem a sua situação e vão votar. Digo com toda a tranquilidade: caso considerem que Marques Mendes tem exercido bem o seu papel, que tem sido um líder que faz a oposição de que o país carece e sentem que ele pode vir a ser um bom primeiro-ministro, que votem nele. Quem assim não pense, tem uma alternativa, o Dr. Filipe Menezes.
VTM – Que retrato faz do partido, a nível concelhio e distrital?
AM – Em Vila Real, a situação não difere muito do resto do país. Os partidos acomodam-se, sobretudo quando são Governo, acomodam-se à maioria, secam um pouco. É necessário inverter a situação. Fala-se muito em alargar os partidos à sociedade, mas, na realidade, não se vê preocupação em buscar outros militantes, não se vê trabalho político nas Universidades, nos Serviços de Saúde, no mundo laboral, em geral. É necessário chegar a todos os níveis, promover a formação de militantes e a troca de experiências com as populações. Se queremos uma democracia participativa, temos que sair do interior das sedes e ir para onde estão as pessoas.
VTM – Em relação ao futuro do partido, no concelho de Vila Real. Dentro de dois anos, terão lugar novas eleições autárquicas. Considera que uma possível retirada de Manuel Martins poderá criar alguma instabilidade no partido?
AM – É evidente que, ao fim de um determinado número de mandatos, há quem questione a continuidade de quem está na liderança da autarquia. A sensação que eu tenho é que, se o Dr. Manuel Martins decidir continuar, está em condições para vencer.
VTM – Já foi Presidente da Câmara Municipal, durante cinco mandatos, Governador Civil, duranter dois anos, entre outros cargos que desempenhou. Qual o futuro da sua carreira, a nível político?
AM – A minha actividade política, no que diz respeito a funções de liderança, cessou, há muito. Envolvo-me, esporadicamente, na vida política, porque acredito no partido. Por isso, estou sempre disponível para ajudar os líderes em quem acredito e que considerem importante o meu apoio.
Maria Meireles