Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024
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O “quilómetro do impasse” com solução ao fim de mais de 40 anos

Em Portugal, provavelmente, será o mais demorado quilómetro de estrada a ficar concluído na construção de uma via rodoviária, mas que agora parece ter um desenlace. Para este final concorreu o acordo com o Departamento das Áreas Protegidas do Norte, DAPN, para a conclusão da estrada intermunicipal entre os concelhos de Vila Real e Mondim de Basto. Isto pode representar o culminar de um longo e tortuoso processo que já tem mais de quarenta anos.

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O impasse estava assente em questões de impacto ambiental e a solução surgiu no decorrer de uma reunião, realizada no fim do mês passado, nas instalações do Parque Natural do Alvão, entre Lagido Domingos, director do DAPN e o presidente da Junta de Freguesia de Lamas de Olo, Domingos Fernandes. Segundo o autarca, “o quilómetro que falta deverá estar concluído até ao início do próximo Verão”. A conclusão desta ligação, entre Lamas de Olo e o Barreiro, é a concretização de um velho sonho para as populações de cinco aldeias. Lamas de Olo, no concelho de Vila Real, e Barreiro, Fervença, Varzigoto, todas no concelho de Mondim de Basto.

Satisfeito pelo desencravar de todo o processo, Domingos Fernandes contou pormenorizadamente, ao Nosso Jornal, os passos dados. “É uma boa novidade para as populações das aldeias e para os dois concelhos. Senti que o impasse continuava, não havia decisões de lado nenhum, então resolvi pedir uma reunião ao director do Departamento de Áreas do Norte, Lagido Domingos, que se prontificou a falar comigo nas instalações do Parque Natural do Alvão, em Vila Real. Em cima da mesa, coloquei os principais problemas que se prendiam com a ligação Lamas de Olo / Barreiro, desejada há mais de 40 anos pelas povoações, com quem sempre tivemos fortes ligações, nomeadamente Fervença, Varzigueto, Barreiro e Ermelo. Recordo que até 1896, Lamas de Olo pertenceu ao extinto concelho de Ermelo”.

Na reunião, o autarca reafirmou a necessidade de resolver de uma vez por todas o problema. “Isto é uma coisa que não cabe na cabeça de muita gente. Por causa de um quilómetro de estrada, há tantas povoações a serem prejudicadas”, sublinhou. “O Dr. Lagido Domingos até ficou surpreendido com esta situação e reafirmou mesmo que é um problema que deveria estar resolvido há mais tempo”.

Na mesma reunião ficou decidido que a plataforma da estrada que já está construída não será alterada no seu perfil, assim, a largura (5,5 m) irá ser a mesma até ao cruzamento de Lamas de Olo. O projecto contempla uma ponte nova sobre o rio Olo, que ficará situada do lado do pontão.

O presidente da Freguesia reuniu mais tarde com o presidente da Câmara de Vila Real, Manuel Martins, que mostrou satisfação pelo avançar do processo, salientando a existência de um protocolo assinado entre a Câmara e o Governo. “A Câmara está totalmente disponível e quer ver o assunto resolvido. O protocolo com o Estado já está assinado há dois anos. O único impedimento era o parecer do Parque Natural do Alvão que queria reduzir a largura da estrada, mas isso não fazia sentido”. Depois de concluída, a futura estrada terá uma extensão de 3,5 quilómetros e colocará um fim ao calvário das populações das aldeias de Mondim de Basto que têm que percorrer mais 12 quilómetros para chegarem a Lamas de Olo, poupando dinheiro e cerca de 20 minutos de viagem.

A Câmara de Mondim de Basto já tinha feito a estrada até ao limite do concelho. “A nova via será importante para quem se desloca às aldeias, nomeadamente, vendedores ambulantes, como o merceeiro, padeiro, entre outros. Hoje, os vendedores, para evitarem percorrer mais quilómetros, fazem autênticos percursos de todo-o-terreno até atingirem o troço já construído. As viaturas passam por tudo quanto é sítio, pastos, habitats protegidos, com consequências negativas para o ambiente. A situação actual é vergonhosa e a culpa não é nossa. Além disso, são muitos anos e muitos custos para as pessoas que têm de pagar muitos mais quilómetros a um taxista, por exemplo. Estas povoações estão a ser fortemente penalizadas”.

Domingos Fernandes deixou a promessa que, quando a obra se iniciar, será dada a atenção às zonas mais sensíveis em termos ambientais. “Temos de ter todo cuidado com a instalação do estaleiro, com o processo de extracção de materiais, já que estamos dentro de num Parque Natural”, assegurou.

Contudo, relativamente a esta estrada, algumas vozes críticas se têm levantado, nomeadamente vindas da Quercus/Vila Real que se mostra muito preocupada com o impacto ambiental negativo. Recentemente, o seu dirigente, João Branco, deixou implícitas observações negativas à conclusão da estrada. “Como se entende que esta estrada não estivesse prevista no Plano de Ordenamento do Parque do Alvão, que foi publicado sensivelmente há um ano? Essa estrada atravessa a área de intervenção específica do rio Olo, no qual, no mesmo Plano, não está prevista nenhuma estrada, nem nenhuma ponte. Isto é inadmissível quando se sabe agora deste processo. Está em causa o equilíbrio ambiental”. “Na estrada de terra batida para o Barreiro tem lá uma placa «de trânsito proibido», onde está inscrito: Respeite a Sinalização; Proteja a Natureza; Junta de Freguesia de Lamas de Olo; Parque Natural do Alvão. Não percebo como está lá esta placa com esta indicação e agora vão fazer uma estrada nesse sítio”.

Uma fonte do Município de Vila Real assegurou, ao Nosso Jornal, que a edilidade “vê com bons olhos” esta disponibilidade do Departamento das Áreas Protegidas do Norte, mas salienta que para o arranque efectivo da construção do troço “ainda falta assinar o contrato programa” com o Governo. “A verba do Estado é fundamental para o avançar das obras”, concluiu.

A obra está orçada em cerca de 500 mil euros. O Governo irá custear a 90 por cento, os outros 10 por cento são assumidos pela Câmara, além dos custos do projecto. Ao que soubemos, o Município está a ultimar as alterações ao documento e obra será lançada pela instituição.

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