Já estão na sua fase final as obras nos 4,6 quilómetros do circuito urbano de Vila Real e contam-se os dias para o regresso do som dos motores que competirão em mais edição das corridas de Vila Real. Mas nem todas as vozes vila-realense têm um tom entusiasta. Alguns cidadãos lamentam, mesmo, o regresso das velocidades.
“Estão já na sua fase final de implementação as obras necessárias à colocação dos meios passivos de segurança, no Circuito de Vila Real, estando concluídos os trabalhos de colocação do asfalto necessário, bem como de alteração dos ilhéus das rotundas existentes”, adiantou fonte do Clube Automóvel de Vila Real (CAVR), em comunicado.
Segundo o mesmo documento, “falta apenas concluir a colocação das bancadas e outros elementos de apoio, bem como implementar as chicanes” nas obras que, orçadas em 1,2 milhões de euros, dos quais 500 mil foram suportados pelo Governo, tiveram como principal objectivo garantir as condições de segurança, durante as provas.
Ana Neves, uma leitora do Nosso Jornal, lamenta os investimentos feitos, para a organização das corridas, tendo em conta que ainda são muitas as necessidades básicas da população vila-realense: “Há verbas para as corridas, mas não há para darem condições mínimas de vida aos cidadãos de Vila Real”, frisa a mesma vila-realense, lembrando, por exemplo, que “na localidade de Abambres-Gare, a cerca de três quilómetros do centro da cidade, não há saneamento e ainda são utilizadas fossas sépticas”.
Outras das vozes que se levantam contra as corridas é a de Carlos José Pinto, de 53 anos, que, em 1991, perdeu um irmão, um filho e um sobrinho, no acidente que, ocorrido junto ao Bairro da Araucária, na zona conhecida, na altura, como “curva da Ford”, ainda vitimou uma quarta pessoa e feriu muitas outras.
Apesar de se mostrar muito relutante em recordar o passado trágico, Carlos José Pinto fala de “impunidade” dos responsáveis e lamenta que, apesar de ter sido ressarcido através do seguro, em processo cível, ninguém tenha respondido, criminalmente, pelo sucedido.
“Nunca consegui que um advogado desta cidade aceitasse representar-me, nessa questão”, recorda o vila-realense, sublinhando que foi mesmo aconselhado a desistir do processo-crime.
“Fala-se muito de que houve falta de civismo do público, mas ninguém se lembra que aquela zona não tinha qualquer protecção, a não ser uma fita amarela que resguardava os espectadores”, garante Carlos José, recordando que, tal como a sua filha de quinze anos e o filho de cinco, só não morreu, porque se manteve estático e o carro em despiste lhe passou por cima.
Relativamente aos preparativos para a realização das corridas, o CAVR adianta que o horário e os regulamentos da prova já estão disponíveis, na Internet, e que o “programa desportivo é muito rico, destacando-se, para lá das competições habituais dos Campeonatos Nacionais de Velocidade, três novas categorias, para os “Datsun 1200”, para carros “Vintage” e “Pós-Vintage” (anos 20 a 52) e a corrida de homenagem a Manuel Fernandes, sendo esta categoria aberta a todos os pilotos, ao volante de quaisquer veículos dos Grupos 1 a 5, N, A, B, Produção ou Turismo, os quais tenham possuído homologação em vigor em qualquer um dos anos entre 1980 e 1991”.
Maria Meireles