Porém, “os autarcas durienses são como S. Tomé” e só acreditam quando virem realmente os trabalhos a efectivarem-se. Aliás, estão desconfiados com a explicação dada para o atraso pela Secretaria de Estado dos Transportes.
O presidente da Câmara Municipal de Santa Marta de Penaguião, Francisco Ribeiro, manifestou, ao Nosso Jornal, o seu descontentamento. “Fico bastante preocupado. Primeiro, acho que deveria ser dada uma explicação aos autarcas e às populações. Depois, as razões do atraso ainda são pouco claras. Houve algum descuido nesta parte e naturalmente não estou satisfeito”. Segundo o autarca, a ausência de transporte ferroviário penaliza principalmente as populações de Alvações do Corgo. “É uma freguesia que precisa do comboio, pois é o único transporte viável em termos de maior funcionalidade e segurança para as pessoas”, acrescentou.
A apreensão de Francisco Ribeiro prende-se com o facto do próximo Inverno poder causar problemas. “Temos uma carrinha que faz o transporte de doentes de Alvações para a sede do concelho que utiliza estradas estreitas e com facilidade de formação de gelo. Ao mesmo tempo, antevejo grandes problemas para o autocarro que a CP disponibiliza para circular entre Vila Real e a Régua, um percurso sinuoso, com alguns riscos e de elevada perigosidade no Inverno”.
O edil não tem dúvidas em garantir “que o melhor transporte que serve os interesses de Alvações do Corgo é o comboio”. O autarca vai desenvolver, junto da REFER, contactos de modo “a apurar as verdadeiras razões deste adiamento dos trabalhos de remodelação e modernização da Linha do Corgo”.
Sem papas na língua e incisivo, o presidente da Câmara Municipal de Peso da Régua, Nuno Gonçalves, deixou transparecer revolta e apreensão. “Estou numa situação de desconforto perante a população, porque dei a cara. Assumi perante o povo que tudo iria decorrer de acordo com o que nos tinham prometido. Mas, agora já se estão a verificar estes atrasos. Disseram-nos que haveria obras preliminares na Linha em Junho e que a empreitada começaria em Setembro deste ano, mas agora vêm dizer que a empreitada ou obras só começarão em 2010, ou seja a Linha só entrará em funcionamento em 2011. O Governo está a faltar àquilo que era um compromisso seu e que tinha assumido connosco”. Mas, o alegado incumprimento não fica por aqui. A assinatura de um protocolo envolvendo as autarquias e o Governo ainda não foi assinado.
Para além destes prazos tinha ficado assente que a REFER e a secretária de Estado de Transportes, Ana Paula Vitorino, entregaria aos três presidentes de Câmara um protocolo para assinarem conjuntamente com a REFER, a CP e com a Secretaria de Estado, ou seja um acordo de princípios com aquilo que ficou estabelecido numa reunião conjunta que houve no Governo Civil. Até à data, esse protocolo ou acordo que os autarcas queriam subscrever conjuntamente não foi apresentado. Na altura, o presidente da Câmara Municipal de Vila Real, Manuel Martins, exigiu de imediato a assinatura por parte de Ana Paula Vitorino de um documento que explicitasse as intenções do Governo para a Linha do Corgo. Ainda e de acordo com o presidente da Câmara Municipal de Peso da Régua, nessa mesma reunião, ficou assumido também que seria constituída uma Comissão de Acompanhamento ao desenvolvimento do projecto e da obra na Linha do Corgo. Só que até hoje ainda não foi estabelecido qualquer contacto para a constituição dessa mesma comissão.
“Naturalmente que estou muito preocupado quanto ao futuro da Linha do Corgo e estou numa situação de desconforto perante as pessoas, às quais apresentei um compromisso de confiança”.
Para o futuro, Nuno Gonçalves deixou no ar algumas iniciativas. “O que vou fazer, conjuntamente os presidentes de Câmara de Santa Marta e de Vila Real, é tentar saber junto da Secretaria de Estado e da REFER qual é o ponto da situação, saber se é verdade todas as declarações que vieram a público num jornal e tentar entender este atraso que se verifica, para assim podermos tomar medidas”.
Em função das explicações que forem dadas, os autarcas irão ponderar várias soluções, mas Nuno Gonçalves não quis adiantar mais cenários antes de saber o que realmente se está a passar.
O presidente da Câmara Municipal de Vila Real, Manuel Martins, garantiu que “está atento” e que o Governo o terá “à perna” neste processo.
Quanto às dificuldades de implementação do projecto, o Governo sustenta que o problema está na compra dos carris e das travessas para vias de bitola métrica. Contudo, prevê que ainda este mês começará a ser arrancada toda a estrutura de via, carris, travessas e balastro. Depois, o antigo leito será aprofundado em cerca de 30 cm. A meta avançada para a reabertura da via, em 2010, poderá estar em causa.
De referir ainda que estão a decorrer alguns trabalhos de drenagem de águas na via-férrea, mas esta intervenção já tinha sido adjudicada antes do encerramento da Linha, em 25 de Março.