Domingo, 19 de Janeiro de 2025
No menu items!

Os pucarinhos “fugiram” da feira de São Pedro

Os tradicionais “pucarinhos” são, ano após ano, cada vez menos na feira de S. Pedro em Vila Real.

-PUB-

A feira que costumava dar vida à cidade, com os milhares de “pucarinhos” que enchiam a praça, diante da Capela Nova, é hoje uma realidade que reside, apenas, na memória dos mais antigos. 

Depois do processo de produção da olaria negra de Bisalhães ter sido reconhecido pela UNESCO como Património Cultural Imaterial com necessidade de salvaguarda urgente, a 29 de novembro, do ano passado, a feira de São Pedro, de 2017, contou apenas, entre os dias 28 e 29 de junho, com três bancas da olaria negra de Bisalhães, sendo que uma delas pertencia à coletânea do município e os seus artigos não estavam para venda.

Apesar da Câmara Municipal de Vila Real se demonstrar disposta a combater a extinção desta ardilosa arte, a crescente falta de pessoas a manusear o barro e o envelhecimento que abarca a maioria dos poucos oleiros são problemas que tornam a missão dos autarcas, em combater a sua extinção, difícil. “Os mais idosos já não querem vir para o São Pedro e torna-se difícil mantermos esta tradição,” referiu à Lusa, Eugénia Almeida, vereadora responsável pela cultura do município. A autarca confessa, ainda, que a solução está na formação de novos oleiros e nos apoios que poderão surgir pelos fundos comunitários. 

Miguel Fontes, com 38 anos, é uma das poucas pessoas que, ainda, manuseia o barro e, perante esta situação, refere que “para quem estava habituado a ver a rua cheia de pucarinhos, é sempre bastante desolador.” Miguel revela-nos, ainda, que a arte se vai perdendo com os idosos que vão partindo, e que os novos que vão ficando não se demonstram muito interessados. 

O fabrico destas peças de barro exige uma cozedura, que leva horas, num forno aberto na terra. O forno é alimentado por lenha, giesta e carqueja que se encontrem nos montes da região. A cor que o barro adquire, o negro, provém do fumo que a loiça apanha, pois, as peças são “abafadas”, durante a cozedura, com terra. 

“A olaria é uma arte trabalhosa. É extremamente complicado estar a fazer uma cozedura durante o verão, porque é o calor do forno, o calor do sol e tudo misturado é cansativo. Mas acredito que a maior parte das pessoas não faz ideia do trabalho que é preciso. Hoje em dia está tudo mais facilitado. Já se vai à mata buscar a lenha com trator ou com uma carrinha de caixa aberta, o que liberta um pouco as costas, mas a nível da cozedura não dá mesmo para fugir,” confessa Miguel Fontes. 

Sobre o facto de a arte de Bisalhães ter sido reconhecida pela UNESCO, o oleiro revela que a procura, por parte das pessoas, tem aumentado, mas para que a arte não se extinga, há ainda um longo caminho a percorrer. 

Miguel Fontes admite que “é uma vida dentro desta arte”. Contudo, salienta que isso não se verifica em todas as pessoas que tenham familiares relacionados com o barro, mas ele achou por bem dar seguimento ao trabalho e à paixão dos seus avôs e espera que a próxima geração, embora ainda jovem, possa aprender a arte de modo a mantê-la como os seus antepassados. 
 

APOIE O NOSSO TRABALHO. APOIE O JORNALISMO DE PROXIMIDADE.

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo regional e de proximidade. O acesso à maioria das notícias da VTM (ainda) é livre, mas não é gratuito, o jornalismo custa dinheiro e exige investimento. Esta contribuição é uma forma de apoiar de forma direta A Voz de Trás-os-Montes e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente e de proximidade, mas não só. É continuar a informar apesar de todas as contingências do confinamento, sem termos parado um único dia.

Contribua com um donativo!

VÍDEOS

Mais lidas

ÚLTIMAS NOTÍCIAS