Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2024
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Paixão pelo Teatro levou-o aos bancos da universidade aos 60 anos

Começou o curso com 59 anos, três anos depois, com uma média de 16 valores, acabou o seu percurso académico como o melhor aluno da licenciatura em Teatro e Artes Performativas da UTAD. Afonso Bonito, que ingressou na academia transmontana através do acesso para maiores de 23 anos, é considerado um caso de sucesso, um exemplo de como, independentemente das habilitações académicas, através de muita dedicação é possível conquistar o sonho de ter um ‘canudo’ debaixo do braço.

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Apesar da vida não lhe ter concedido a oportunidade de seguir os estudos, além da quinta classe, Afonso Bonito, agricultor de 61 anos, aproveitou a possibilidade dada pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) aos maiores de 23 anos e ingressou no curso de Teatro e Artes Performativas, que acabou com a distinção de melhor aluno da turma.

A história do agricultor, natural da Cumieira, concelho de Santa Marta de Penaguião, é dada como exemplo do “sucesso que a UTAD tem vindo a registar com a oportunidade dada a cidadãos maiores de 23 anos de poderem frequentar os seus cursos, independentemente das habilitações académicas de que sejam titulares”.

Além dos 16 valores de média final, a dedicação de Afonso Bontio valeu-lhe ainda a participação num filme de Manoel de Oliveira, “O Estranho Caso de Angélica”, no qual, curiosamente, faz o papel de um feitor, o seu “papel na vida real”.

“Sempre gostei muito do Teatro, para além de ser um veículo de cultura, é um passatempo fantástico”, explicou Afonso Bonito que, assim que soube da oportunidade de ingressar para o curso da UTAD foi logo tentar a sua sorte.

Dedicado à leitura desde muito novo e membro do Grupo de Teatro da Associação Cultural, Desportiva e Recreativa da Cumieira, o agricultor garante que só teve dificuldades com as disciplinas de inglês e, devido à idade mais avançada e “às poucas aptidões para os saltos”, artes circenses, no entanto, orgulha-se em dizer que “não teve nenhuma negativa”.

“Era o avozinho da turma e acho que de toda a universidade”, explicou o estudante sexagenário, revelando, no entanto, que nunca teve qualquer problema com os colegas de turma ou com os professores devido a sua idade. “Sou bem-disposto, gosto de contar umas anedotas”, explicou Afonso Bonito que, apesar da descontracção relativamente à vida universitária, garante que foi preciso muita dedicação para conseguir conciliar os estudos e a vida de agricultor. “Nunca faltei a uma aula e quando estava na universidade não pensava em mais nada”, garante o agricultor, que antes e depois de regressar das aulas ainda ia para lavoura.

E foi exactamente a sua profissão enquanto feitor, além do talento natural para o teatro, que o levou a ganhar um papel num filme do Manoel de Oliveira, rodado em pleno Douro. “Precisavam de um indivíduo para o papel de feitor, o meu papel na vida real”, sublinhou Afonso Bonito, explicando que além dos seus terrenos, é responsável pela gestão da quinta de uns primos que vivem no Brasil.

“Foi apenas um pequeno papel mas vai ficar na história da minha vida”, referiu o sexagenário, revelando que no filme é a sua personagem que dá o arranque à história. “Vou à cidade da Régua à procura de um fotógrafo a altas horas da madrugada para fotografar uma senhora que acabou de falecer”, revelou.

Satisfeito com a experiência, Afonso Bonito considera, no entanto, que prefere o teatro ao cinema. “Num filme podemos repetir as cenas, no teatro não. É um risco maior, uma arte mais pura”, defendeu.

Quanto ao futuro, o agricultor decidiu, por uma questão de saúde, fazer uma pausa antes de prosseguir para o mestrado, mas garante que vai continuar a subir aos palcos com a apresentação das peças do grupo teatro da Cumieira, que além de continuar em digressão com espectáculo “Terra Firme”, está já a preparar um nova produção, “O Crime da Aldeia Velha”, uma peça de Bernardo Santareno.

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