No dia seguinte à discussão sobre o tratado reformador da União Europeia, José Sócrates deslocou-se a Montalegre, para uma tarde de inaugurações de infra-estruturas que, à semelhança de muitas outras, em Portugal, “só foram possíveis com o apoio europeu”. José Sócrates sublinhou que traz de Bruxelas “uma mensagem de confiança e optimismo, para os portugueses”, realçando que o Governo se deslocou a Trás-os–Montes, sobretudo para ouvir os autarcas, sobre os problemas da região. O autarca barrosão lançou, desde logo, alguns desafios, ao Primeiro- -Ministro.
O Pavilhão Multiusos e a Estação de Tratamento de Água (ETA) do Alto Rabagão, são duas obras realizadas no concelho de Montalegre que representaram investimentos superiores a 33 milhões de euros e que foram inauguradas, no dia 23, por José Sócrates, no âmbito da iniciativa “Governo Presente”.
A visita pelo Município barrosão teve início com a inauguração do Pavilhão Multiusos, uma infra-estrutura que ainda não está concluída a cem por cento, mas que, segundo Fernando Rodrigues, autarca local, “representa um espaço extraordinário” que veio dar resposta a quatro hectares de área que degrada no coração do concelho.
“Trata-se um projecto ousado, sobretudo para um Município como o de Montalegre”, sublinhou o edil, contabilizando um investimento, de “mais de oito milhões de euros que exigiu sacrifícios”, mas que, agora, coloca ao dispor da população um “espaço cívico, desportivo, cultural e de animação económica” que conta com um auditório, uma área para realização das feiras temáticas (como a do fumeiro, do livro ou do cabrito, entre outras), um pavilhão desportivo “digno”, espaços para a realização de congressos e eventos de negócios e, também, uma área para espectáculos ao ar livro, incluindo um campo para Chegas de Bois, entre outras valências.
Depois do Pavilhão Multiusos, José Sócrates seguiu para o Alto do Rabagão, onde inaugurou a ETA que, com um orçamento de 25 milhões de euros, garantido pela empresa Águas de Trás-os-Montes e Alto Douro, servirá cerca de 100 mil habitantes de quatro concelhos do distrito vila-realense (Boticas, Chaves, Montalegre e Ribeira de Pena).
“Estas obras não teriam sido feitas se Portugal não tivesse aderido à Europa”, sublinhou José Sócrates referiu, em especial, a importância da construção da ETA, uma infra-estrutura que vai ajudar a região a ter “indicadores de abastecimento de água em qualidade e tratamento de resíduos a níveis equivalentes aos dos países mais desenvolvidos”, o que permitirá não só o melhoramento da qualidade de vida das populações mas, também, o desenvolvimento económico.
José Sócrates foi mais longe, dizendo que “chegou a hora de dizer que o Governo está a fazer justiça, com Trás-os-Montes” e deixou a garantia de que terá em atenção o rol de reivindicações deixadas por Fernando Rodrigues, considerando como prioridade a beneficiação da Estrada Nacional 103 que liga o Município de Montalegre a Braga.
O edil sublinhou, ainda, a vontade da autarquia em recuperar a Quinta da Veiga que, criada em 1916, como Posto Zootécnico do Barroso, teve um papel muito importante, no desenvolvimento da região, mas que, ao longo dos anos, foi perdendo “prestígio, qualidade e importância. transformando-se num sorvedouro de dinheiro do Estado”. O objectivo da Câmara passa por aproveitar o espaço de 110 hectares, para a concretização de um projecto de desenvolvimento rural, explicou Fernando Rodrigues, adiantando que poderia ali instalar-se “um núcleo agrícola do Ecomuseu do Barroso, uma quinta pedagógica e todo um produto turístico mais amplo que pode contemplar a hotelaria, a vertente lúdica, desportiva e de lazer”.
José Sócrates revelou a “boa vontade “ do Governo, salientando a política de passar para os Municípios a gestão de equipamentos que agora estão subvalorizados, no âmbito da reestruturação dos Serviços do Estado, desde que a estes espaços estejam associados projectos que prevejam o desenvolvimento local.
O autarca de Montalegre deixou um outro apelo, ao Primeiro-Ministro, desta feita sobre as rendas relativas ao aproveitamento hidroeléctrico.
“A EDP paga, ao Município, cerca de 650 mil euros, por ano, valor muito inferior ao IMI que recebíamos dos terrenos inundados”, o que, somando a área das cinco barragens do concelho, representa um total de 65 quilómetros quadrados.
“Isto é justo?” – questionou o autarca, garantindo que o Município “não vai desistir” e deixando, mais uma vez, o apelo para que o Governo “corrija esta injustiça histórica, em nome da solidariedade e do princípio da justa participação na riqueza produzida”.
Maria Meireles