Sempre num discurso “interventivo”, neste périplo por Trás-os- -Montes, o presidente da República vincou alguns problemas comuns às autarquias, a coesão territorial no mundo rural e a desertificação. Neste contexto, em Sabrosa, avançou com um plano estratégico que foi bem recebido pelos autarcas presentes.
A visita ao “Douro profundo” começou em Mesão Frio, onde inaugurou a rua Prof. António da Natividade e o Centro Escolar da vila. Foi a primeira visita de um Presidente da República a Mesão Frio, após o 25 de abril de 1974. O presidente do Município, Alberto Pereira, aproveitou para apelar “à solidariedade institucional para que se possa salvar o futuro destas gentes e destas terras, que também são Portugal”. O autarca não esqueceu a ameaça de fecho do tribunal e mostrou a sua preocupação quanto ao fecho de alguns serviços públicos de proximidade. Cavaco Silva preferiu fugir ao assunto e aproveitou a inauguração do Centro Escolar para elencar a importância da educação no futuro das gerações vindouras, assumindo que o desafio presente é a luta contra o abandono e insucesso escolar, a qualidade do ensino, o respeito pelos professores e a ligação entre pais e a comunidade à escola.
Depois de uma manhã em Mirandela, Cavaco Silva seguiu para Alijó onde também preferiu não comentar as reivindicações do autarca alijoense, focando apenas o trabalho das instituições de solidariedade social. Depois de salientar a importância das autarquias no progresso do país, o presidente do Município local, Artur Cascarejo, sublinhou que as portagens na A24 “são injustas”, e “não compreende” a sua taxação, já que a torna na autoestrada “mais cara do país”. O edil lembrou também “a crise que afeta a vitivinicultura duriense”. O presidente ouviu mas preferiu salientar o “trabalho notável” das misericórdias na área social, que fazem “autênticos milagres na ação em prol dos mais desfavorecidos, doentes e idosos. Elogiou ainda a edilidade local pelo seu papel no desenvolvimento social.
Reptos em Sabrosa
Depois de aplaudido em Mesão Frio e Alijó, onde tinha à sua espera centenas de pessoas, em Sabrosa também teve um acolhimento entusiasmado e teve honras a passadeira vermelha que o Município fez questão de lhe estender à entrada dos Paços do Concelho. No auditório municipal, o Presidente da Câmara, José Marques, não deixou fugir a oportunidade de sensibilizar Cavaco Silva para o “rolo compressor da austeridade que os municípios do interior estão a ser vítimas”, salientando que “urge repensar o modelo de gestão autárquica”. Repetiu também as preocupações com as portagens na A24 e o seu efeito dissuasor na fixação de novas empresas no concelho e na região. Ao mesmo tempo, defendeu a permanência do tribunal, na “esperança de uma partilha de soluções” para a sua continuidade.
Antes de inaugurar a sede da Associação Recreativa e Musical de Sabrosa, Cavaco Silva proferiu talvez o discurso (finalizando com Torga) mais imbuído de proximidade com o território. A primeira nota saliente foi para a valorização do território com a implementação do tal plano estratégico destinado aos municípios do interior, “numa lógica de proximidade e num processo onde tinham de entrar os poderes públicos”. Aqui, elegeu a valorização das cidades médias do interior como polos dinamizadores, nomeadamente o papel que Vila Real poderia ter neste processo. Cavaco Silva chamou a atenção dos presentes e enviou uma mensagem para o poder central ao considerar igualmente a necessidade de incremento “dum programa de repovoamento rural do interior com estímulos para os empresários agrícolas”.
Manifestações marcaram presença
Na sua deslocação ao Douro e a Trás-os-Montes, o Presidente da República foi confrontado com duas manifestações laborais e uma ambientalista. Em Mesão Frio, os trabalhadores do Solar da Rede (unidade hoteleira encerrada desde janeiro) chamaram a atenção para o pagamento dos salários em atraso e defenderam a continuidade do hotel.
Já em Mirandela, os trabalhadores de laboratórios clínicos privados manifestaram a sua preocupação quanto aos seus postos de trabalho. Em causa está uma alegada imposição de obrigatoriedade de análises em laboratórios públicos em detrimento dos privados.
Em Alijó, em frente à Câmara Municipal, um pequeno grupo de ativistas criticou a construção da barragem do Tua, alertando para os efeitos ambientais que a mesma poderá provocar.
Recorde-se que de 10 a 18 de março decorreu em Foz Tua um acampamento de protesto contra as obras da barragem e que juntou centenas de ativistas. Neste âmbito, vários especialistas foram convidados a debater o Plano Nacional de Barragens (PNB) e os seus efeitos ambientais e financeiros. Num desses dias, quatro jovens chegaram a entrar na zona da construção, exibindo uma faixa com a mensagem “Nem mais uma barragem-Actua”.